- Publicidade -

12.12: O Dia aborda o papel do Estado diante do assassinato de um líder

Publicado em:

Existe uma legião de fãs para filmes históricos sobre a política de nações espalhadas pelo mundo, e é muito difícil que chegue até nós produções sul-coreanas com esse recorte. Pois 12.12: O Dia não apenas estreia finalmente (teve sua estreia adiada em mais de dois meses), como chega até nós como uma alternativa de conhecer um pedaço importante do país. Em 12 de dezembro de 1979, um golpe de Estado foi perpetrado após o assassinato do presidente Park, durante uma lei marcial vigente. O filme, escrito e dirigido por Kim Sung-su, é uma leitura dessas 24 horas, onde o papel do Estado foi disputado entre as forças militares vigentes e membros dissidentes que pretendiam tomar a força um poder desejado por todos, e que está na discussão principal aqui. 

De maneira equilibrada, 12.12: O Dia retrata o momento político momentâneo, e a forma com que todo o esquema foi arquitetado, com um número de reviravoltas consideráveis. Os eventos que o filme esquematiza fazem parte de um combo de acontecimentos reais, mas muitas dessas saídas foram criadas para traduzir ainda mais ficcionalização para o enredo. Por exemplo, os principais articuladores dos eventos tiveram seus nomes alterados, para um lado ou outro, a fim de beneficiar a integridade do Cinema nessa equação. Como lembra bem da juventude em meio aos blocos de situações, o diretor acaba movendo uma engrenagem sem precisar entrar em atrito com forças reais da atualidade. Isso carrega o roteiro de liberdade de expressão, mas também pode fazer parte do espectador sentir-se lesado, envolvido diretamente nos eventos ou não. 

Os valores de produção aqui são muito evidentes, mas nada disso é novidade vindo de um mercado estabelecido quanto o da Coreia do Sul. O que torna a experiência mais vívida é o estado constante de tensão que é conseguido pelo filme e, para os que não são historiadores, o desenrolar dos acontecimentos. 12.12: O Dia é um produto que conta com a segurança da exportação de um evento de mais de 40 anos, e com a falta de memória que os estrangeiros teriam desse fato. Isso ajuda a evoluir a trama, e nos blindar de possíveis spoilers, principalmente no que diz respeito às lacunas de cada campo. Com o talento da realização para conduzir a ação, existe uma facilidade de conexão com o que se vê. 

Aliás, a direção de arte e montagem, em particular, definem a experiência coletiva aqui. Na primeira seara, temos a reprodução muito meticulosa de interiores há 45 anos atrás, em escritórios que hoje soam como materialização de um outro tempo, em um recorte masculino e soturno. Adentrar tais universos é também observar dados sobre o machismo que ainda não eram debatidos ali, e que em uma sociedade tão apegada à “tradição” como a sul-coreana, é fácil não perceber os privilégios de cada um. Além disso, a montagem de Kim Sang-bum, resvala toda a forma como o público se comunica com aquela obra e seus desdobramentos. O filme é muito feliz na resolução do seu ritmo, que provoca um sentimento crescente de desespero, em camadas que sobrepõem até mesmo o roteiro. Estamos sempre na conexão de encontrar uma sequência mais eficiente e elevada que a próxima, até o final. 

Na ponta de lança do filme, temos uma dupla que organiza o trabalho de todo o elenco. É pela qualidade extrema do embate entre Hwang Jung-min, representante do terror do golpe, e Jung Woo-sung, o chefe da resistência, que 12.12: O Dia se destaca no que poderia ser mais um filme histórico-político qualquer. A presença desses dois atores motiva o resto do elenco, que formam com eles um grupo sólido que alavanca cada um dos passos da produção. Torna-se fácil a sedução que o título apresenta justamente pelo envolvimento quase cármico que eles estabelecem com seus tipos, representando sempre o mais agudo de seus interesses. Nada disso provoca caricatura, pelo contrário: a injeção de verdade que cada um do elenco rememora em cena é o suficiente para nos fazer comprar todo o pacote. 

Ainda que haja bastante maniqueísmo no material, estamos falando de uma obra política e biográfica sobre um período de horror de um palco acostumado a horrores. Logo, é compreensível que deixe vazar do resultado aspectos questionáveis a respeito do comprometimento das emoções e sensações; tudo é demasiadamente humano. 12.12: O Dia mostra uma parte da História da Coreia do Sul relativamente recente, e que provocou ainda muito horror por décadas afora, e tem coragem de não dourar a pílula na hora de exportar seu final. Em momento de rememorar tudo o que é obscuro com o intuito de não recriar no presente o Mal já propagado no passado, o filme consegue mostrar para as gerações atuais como qualquer ataque à democracia precisa ser enfrentado, de peito aberto. 

Mais Notícias

Nossas Redes

2,459FansGostar
216SeguidoresSeguir
125InscritosInscrever
4.310 Seguidores
Seguir
- Publicidade -