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Jason Statham declara matrimônio artístico com o diretor David Ayer

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Depois da franquia “John Wick” (2014-2023), o cinema nunca mais encarou (nem retratou) a ação sem pensar na sofisticação que as narrativas dirigidas por dublês (como Chad Stahelski) impuseram às telas numa celebração radical da cinemática, ou seja, do movimento, qual fosse um desenho do Papa-Léguas a fugir do Coyote. Quem não adaptou suas engrenagens a esse veio, incorre num formato jurássico, como se vê muitas vezes nos filmes de Liam Neeson, que apesar da naftalina, ganham nosso aplauso à força de um ator tchekoviano. A única alternativa é a linhagem de thrillers estrelados por Jason Statham. Com ele apareceu um outro formato, lá em Adrenalina (2006): o action movie gore. O termo gore é um conceito inerente ao terror, tipo a franquia “Terrifier” (do palhaço Art), no qual sangue e tripas se espalham pela narrativa, das formas mais inusitadas e grotescas, beirando a pornografia de brutalidade. Jason Statham entrou nessa ao declarar matrimônio artístico com o diretor David Ayer. O febril Resgate Implacável é a nova dobradinha deles.

Jason Statham

Em 2024, eles fizeram Beekeeper – Rede de Vingança, que estreou em janeiro daquele ano, no auge da corrida pelo Oscar e lotou salas, aos montes. Custou US$ 40 milhões e faturou US$ 162 milhões. Com essa conta, Statham provou uma vez mais ser lucro na veia. Com Ayer, mais do que lucro, ele traz invenção. 

Ayer é uma figura controversa em Hollywood. Depois de uma firme colaboração com Keanu Reeves no hoje esquecido Os Reis da Rua (2008), ele despontou como promessa no cult End of Watch (“Marcados Para Morrer”, de 2012), no qual retratava a ronda de dois policiais (Jake Gyllenhaal e Michael Peña) sob ângulos inusitados. Repetiu o feito com Schwarzenegger em Sabotagem (2014), uma pérola pouco valorizada. Não só ele vinha com propostas de enquadramento incomuns, como torcia os limites de “caráter” de seus protagonistas. Sua onda é transpor o limite do bom-mocismo, coisa que Jason Statham representa bem, com sua incorreção. 

Essa tal torção de “valores do Bem” se aplica na obra de Ayer ainda em Corações de Ferro (também de 2014), que levou Brad Pitt, de tanque, até a II Guerra. O apogeu do escárnio desse cineasta com a ética da Bondade foi alcançado em Esquadrão Suicida, a maior bilheteria de 2016. Foi trucidado pela crítica em parte por não ter podido levar aos fãs do quadrinho homônimo da DC seu corte final. Acabou caindo em desgraça por isso.

Numa espécie de abismo da frustração artística, abraçado a seu rancor, Ayer passou a fazer um cinema ainda mais livre, vide o ótimo O Cobrador de Impostos (2020). Com Beekeeper – Rede de Vingança, ele se redimiu e cavou espaço para alcançar a obra literária de um dos mais bem-sucedidos quadrinistas dos EUA: Chuck Dixon.

Habitualmente dublado no Brasil por um gênio da voz (o paulista Armando Tiraboschi), Statham protagoniza Resgate Implacável a partir de um romance escrito por Dixon, que escreveu best-sellers do Batman e do Justiceiro. Sua prosa é focada no ex-agente Levon Cade. Sabe-se pouco sobre ele, fora o fato de que anseia por fugir de seu passado, usando o muque para construir obras, com ferro e cimento. Coube a Sylvester Stallone, amigo de Statham e seu parceiro em Os Mercenários, escrever o roteiro que transporta Levon à telona.

Em 2023, o eterno Rocky escreveu Linha de Frente (“Homefront”, 2013) para Statham. Ali, pegou a manha para e embocadura de um ferrabrás alçado ao posto de astro na cinessérie “Carga Explosiva” (2002-2008), de Luc Besson. Na trama adaptada por Stallone, “Resgate Implacável” brinca de “Comando Para Matar” (1985) sem precisar de Schwarzenegger. Statham, como o velho Arnoldão, sabe ser um exército de um homem só. Na trama, Levon deixou para trás uma condecorada carreira militar em operações secretas para ter uma vida simples trabalhando com construção civil. Tudo funciona bem em sua rotina até que a filha de seu chefe, a quem considera sua própria família, é levada por traficantes. A busca de Cade para trazer a menina para casa descortina um mundo de corrupção maior do que ele jamais poderia ter imaginado.

Em sintonia com o atual montador oficial de Tarantino (Fred Raskin), Ayer encontra a medida mais precisa de sua obra (até aqui) para descortinar bordoadas com o frenesi de fúria que lhe é peculiar. Mais do que isso, sabe aproveitar (como poucos) o carisma de Statham na edificação de anti-heróis tortos e imparáveis. Não se trata de uma história sobre retidão moral. Trata-se de justiçamento, no âmbito mais crítico que essa palavra pode ter, o que faz de “Resgate Implacável” um (obrigatório) estudo sobre os limites da Lei. 

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