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Um Pai Para Lily, uma comédia dramática baseada em fatos reais

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Vocês gostam de cinebiografias? Confesso que não sou muito fã. Não pelo menos das que retratam figuras famosas: Elton John, Elvis Presley e por aí vai. No entanto, nesta linha de filmes que abordam a vida de pessoas reais, há aqueles que versam sobre histórias pouco ou nada conhecidas e que, via de regra, fazem questão de mudar todos os nomes e de dizer que a trama é só levemente baseada em fatos reais. São as chamadas autobiografias. Os personagens destas histórias tendem, pelo menos segundo a minha percepção, a serem mais interessantes. Uma razão para achar isso? Sinceramente, não consigo pensar em nenhuma agora, foi até por isso que eu chamei de percepção. Um exemplar deste tipo de obra é a divertida comédia dramática Um Pai para Lily, da desconhecida, pelo menos por aqui, cineasta e roteirista estadunidense Tracie Laymon. 

No cerne da trama, temos Lily, interpretada pela atriz Barbie Ferreira, uma cuidadora que, logo de cara, dá toda pinta de ser alguém extremamente solitária. Em sua primeira cena, ela está em um destes típicos restaurantes de beira de estrada dos Estados Unidos, tendo uma conversa pouco produtiva com um homem mais velho. Este cara é o seu pai, Robert “Bob” Trevino, vivido pelo ator French Stewart. Enquanto ela tenta falar do seu hobby por escrever poemas, ele não parece estar prestando atenção nela. Sem tirar os olhos do celular, Bob está mais preocupado em pedir a opinião da filha em relação à foto de uma das muitas mulheres com quem deseja sair. Lily acaba opinando e aceitando a ir em um destes encontros, apenas para que Bob pose de pai exemplar perante a possível e futura namorada. Só que o encontro é um completo desastre e eles brigam de vez. 

Fora o progenitor, Lily tem apenas uma outra relação de cunho pessoal, sua empregadora, uma jovem cadeirante chamada Daphne, em papel da atriz Lolo Spencer. O relacionamento com essa moça é o que a protagonista tem de mais parecido com uma amizade verdadeira. A patroa tenta estreitar os laços entre elas, mas a impressão é de que Lliy tem muitas dificuldades de se abrir e confiar em outras pessoas. Pelo menos pessoalmente. De forma virtual talvez seja mais fácil. E é por meio da internet que ela fará uma nova amizade. Em uma rede social, a personagem resolve conferir se o pai tem uma conta. Após uma rápida busca, Lily encontra um Bob Trevino, acontece que ele não possui uma fotografia de perfil. Ainda assim, ela o adiciona para apenas posteriormente descobrir que, na verdade, ele é um homônimo. Sorte dela!

Vivido por um ótimo John Leguizamo, o outro Bob Trevino é quase um co-protagonista, não por acaso o filme em inglês chama-se Bob Trevino Likes It. Toda a atenção que Lily nunca teve de seu pai, ela passa a ter do homônimo dele. Não existe uma foto ou postagem na tal rede social que ele, como entrega o título original, não dê um like. É neste momento que percebemos que as dificuldades dela em se relacionar com os outros, na realidade, não passam de uma grande carência, seguida, consequentemente, do medo de se frustrar com as pessoas e isso alimentar sua carência. A prova disso é que a protagonista não hesita em chamar o novo amigo para tomar um café, quando percebe que existe reciprocidade aos seus acenos de amizade E é a partir daí que o longa Um Pai para Lily, potencialmente, corre o sério risco de levar o público a uma catarse emocional. 

Eu confesso que, assim como não conhecia a diretora Tracie Laymon, nunca tinha ouvido falar em Barbie Ferreira. Protagonista da série de televisão “Euphoria”, da HBO, Ferreira é uma grata surpresa nesta pequena comédia dramática, ao valorizar e dar amplitude as nuances da sua personagem: alegria, tristeza, conformismo e revolta, tudo na toada da evolução cênica de Lily. A sua perfomance é excelente e encontra em John Leguizamo o par perfeito. Cidadão americano nascido na Colômbia, por causa das suas raízes, ele teve alguns papéis bastante nichados ao longo de toda a sua carreira, como, por exemplo, na obra-prima “O Pagamento Final”, de 1993, do cineasta Brian De Palma. Todavia, trata-se de um dos intérpretes mais subestimados de Hollywood, de alguém capaz de interpretar vários tipos distintos. Aqui, ainda que não tenha se descolado do nicho, a mãe de Bob é mexicana, ele reafirma o seu talento também ao valorizar as nuances do papel que lhe foi confiado. E a química da dupla é ótima! 

Como vocês devem estar imaginando, dado o que escrevi lá no primeiro parágrafo, Um Pai para Lily é uma autobiografia inspirada em fatos ocorridos com Tracie Layman. O fato de ela ter vivido aquelas situações, ainda que tenha tomado algumas liberdades artísticas, conferiu a diretora uma enorme vantagem em relação a qualquer outro realizador que, por ventura, tivesse sido escalado para este projeto. Sua direção é intimista e bastante próxima das personagens. Só desta maneira para não incorrer em um dos maiores pecados cinematográficos: o pieguismo. As emoções afloram de forma natural, sem ser forçado ou soar como um golpe baixo com o intuito de sequestrar a atenção dos espectadores. 

Desliguem os celulares e ótima diversão. 

Bruno Giacobbo
Bruno Giacobbo
Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.

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