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Dreams, capítulo final da trilogia “Sex, Love, Dreams”, do diretor Dag Johan Haugerud, chega aos cinemas

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Antes de mais nada, uma constatação e que também é uma carta aberta reclamatória: porque o Festival de Berlim, que é um dos três maiores festivais do mundo (ao lado de Cannes e Veneza), não tem a mesma dedicação da distribuição brasileira? Dos últimos dez vencedores do Urso de Ouro, cinco não estrearam no circuito cinematográfico no Brasil. Dreams, que estreia essa semana, é o primeiro desde Má Sorte no Sexo ou Pornô Acidental, há quatro anos atrás. E ainda bem que o filme de Dag Johan Haugerud chega até nós, de maneira rápida e ainda celebrado também pelo Festival Imovision de Cinema Europeu, onde foi o filme mais assistido. Sua recepção aqui é merecida, e não apenas pelos prêmios que o filme recebeu, mas pela alta qualidade que o filme reluta em assumir ter. 

Dreams

O filme faz parte de uma trilogia informal de Haugerud, os anteriores (Sex Love) foram lançados há alguns meses no circuito. Aliás, não é necessário estar a par de seus capítulos anteriores, porque eles se unem apenas na vontade de seu realizador em investigar as relações humanas e suas idiossincrasias. Embora seja subjetivo, acho que foi escolhido o episódio certo para ser consagrado, o mais equilibrado dos três, onde suas necessidades são atendidas com maior empenho. O mais sensível também, além do que trata-se de uma produção rara norueguesa que alcança uma projeção internacional, tornando seu autor em porta-voz ao lado de Joachim Trier. 

O filme parte de uma premissa simples, Johanne é uma jovem com o sonho de escrever profissionalmente, através de uma entrega confessional. Quando sua relação com a professora de francês começa a ficar menos clara na sua cabeça, esse é o ponto de partida para que ela desenvolva sentimentos nada próprios do ponto de vista ético e geracional. No entanto, isso a inspira a escrever uma história inspiradora, que pode transformar-se na voz de uma geração de jovens escritoras. Dreams, que parece se abrir como um painel jovem de elaboração diversa em sua sexualidade, um palco de descobertas sáficas, acaba se mostrando cada vez mais amplo e cheio de significados, graças a um roteiro que esbarra no brilhantismo. 

Tudo é alterado pelas costuras que a narrativa faz, entre descoberta de sexualidade e a manutenção da mesma dentro de um status quo social, aceitável e livre de julgamentos. Quando Johanne apresenta seus desejos à sociedade, e eles situam não apenas um desvio de expectativas, como também uma quebra dos padrões morais etários, o filme promove uma discussão que salta da esfera do roteiro de maneira bastante sutil. Aos poucos, Dreams está discutindo o que é o talento, e como as inspirações podem não ser necessariamente um lugar positivo, também sem ser destrutivo. O filme acompanha esse nascimento de uma nova persona, e neste momento não está falando de diversidade sexual, e sim de uma construção ética questionável. 

Dreams mostra que nenhum debate é simples o suficiente, ainda que à primeira vista o sejam. Estamos diante de um tempo rico para essa discussão em torno do que é arte, se uma promessa estreante já pode ser tratada com a intensidade de algo concreto, e de como nossas afirmativas podem estar cheias de pressupostos externos, de indicações sociais ditas modernas e o quanto isso pode ou não mudar a voz de um jovem indivíduo. De aparência e apresentação inocente, o filme se mostra cada vez mais cheio de possibilidades de pensamentos, seja no campo pessoal ou no profissional, e isso tem a ver com todos os pontos tocados, que até a derradeira sequência seguem ocupando diferentes colocações na tela. 

Depois de investir em situações verdadeiramente mais leves nas duas partes anteriores, Haugerud parece investir na mesma ideia aqui. O espectador, porém, não conseguirá deixar de perceber esse apelo a uma psicologia um pouco mais apurada, que mostra um recorte menos inocente acerca de uma protagonista que tinha tudo para ser vista como vítima. Circunstancialmente, Dreams não julga sua protagonista, apenas a coloca de uma maneira muito empoderada em cena, ao mover as peças do jogo conforme seus interesses. Mas o autor também não se coloca como protetor do que está sendo urdido, a prova disso é o final agridoce dado justamente aos sonhos de Johanne. Teria ela já direito a realização dos seus, justamente depois de tentar destruir alguns? 

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