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Extermínio 3: Evolução é um autêntico, radical e inesperado coming of age

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No ano de 2007, quando o segundo capítulo da franquia Extermínio chegou aos cinemas, o mundo era diferente. Uma das coisas, por exemplo, inimagináveis naquela época era o uso de um aparelho de iPhone como câmera de filme. Em 2015, o cineasta Sean Baker provou que uma ideia destas não era loucura, ao rodar o seu divertidíssimo Tangerina utilizando apenas um iPhone 6. O tempo passou e, pelo jeito, a ideia caiu no gosto do público, já que outros cineastas resolveram, digamos assim, imita-lá. Esse foi o caso de Luc Besson com June e John, recém-lançado nos cinemas brasileiros, e agora com Extermínio 3: Evolução, em que o diretor Danny Boyle usou 20 aparelhos iPhone 15 Pro Max, adaptados com acessórios e lentes profissionais para filmar não todas, mas algumas cenas. 

Extermínio 3

Se entre o segundo e o terceiro capítulo da franquia se passaram 18 anos na vida real, na trama foram 28. No prólogo, após uma cena transcorrida evidentemente no passado, o público é informado que o vírus da raiva, que transforma as pessoas em zumbis rápidos e violentos, foi controlado na porção continental da Europa e o mundo está seguro. Todavia, a Grã-Bretanha foi colocada em quarentena permanente. Desta forma, a população local não pode deixar o país e aos sobreviventes só resta lutar pela vida. Neste contexto, em uma ilha junto da costa da Escócia, os moradores formaram uma comunidade muito fechada, autossuficiente, com hábitos e costumes quase medievais dada a ausência total de tecnologia. E é lá que vive o protagonista da história, o adolescente Spike (Alfie Williams). 

Prestes a completar 13 anos, Spike vive a expectativa de ser submetido pelo pai, Jamie (Aaron Taylor-Johnson), a uma espécie de ritual de passagem da infância para a idade adulta, que consiste em caçar longe de casa, com zumbis de todos os tipos à espreita. Até hoje, o garoto somente ouviu falar das ameaças e dos perigos, mas nunca os viu de perto. Com Spike e Jamie mora Isla (Jodie Comer), mãe e esposa, que está bastante doente, alternando estados de total confusão mental com raríssimos momentos de lucidez. A jornada com o progenitor e tudo o que está por vir depois, em Extermínio 3: Evolução, irá se revelar um autêntico, radical e inesperado coming of age.

A ação vista nos capítulos iniciais da franquia, principalmente no primeiro, amplamente tido como o melhor dos dois filmes, está de volta. As cenas orquestradas por Boyle, a partir do roteiro de Alex Garland, são tensas e cheias de frenesi. A gente sabe que o perigo está por perto, dá até para antever de onde ele virá, mas nada disso impede o público de se sobressaltar na cadeira da sala de cinema ou na poltrona da sala de casa. Só que, aliada a essas cenas, há ainda uma beleza ímpar que não tinha sido vista nos longas-metragens anteriores. Confesso, sem medo de passar por ignorante, que não sei dizer quais tomadas foram realizadas com iPhones e quais foram com câmeras cinematográficas. Agora, se um diretor do gabarito de Boyle decidiu fazer essa bossa e diversificar a maneira de capturar as imagens, uma boa razão ele deve ter. 

A beleza das imagens de Extermínio 3: Evolução não é vã. Existe um propósito claro e muito bem concretizado que é induzir os espectadores a um estado de imersão e de contemplação. A ideia, penso, é enxergar tudo como se fôssemos o próprio Spike. Em sua jornada de amadurecimento, o garoto se depara com a beleza de um mundo selvagem e, internamente, digladia-se com questões  relacionadas a sua mãe e que, em uma realidade normal, não deveriam ser alvo da preocupação de um adolescente. No entanto,  aquela não é a mesma realidade do resto do planeta e aquele não é um mundo normal. O garoto está crescendo na marra e a entrada em cena do personagem de Ralph Finnes, a principal adição em termos de elenco para este capítulo da franquia, vai oferecer um suporte emocional que o pai não foi capaz, minimamente, de oferecer. 

Extermínio 3: Evolução foi por muitos anos uma promessa. Muitas pessoas chegaram a acreditar que ele jamais sairia do papel. No entanto, Danny Boyle e Alex Garland nunca estiveram para brincadeira e cumpriram a promessa. O novo filme não só completa e revigora a franquia, como deixa um gancho muito claro para pelo menos mais uma produção. E a julgar pelo que vimos aqui, por esta obra que reúne o melhor de dois cineastas para lá de gabaritados – a direção frenética de um e o roteiro profundo, repleto de questões, do outro – mais um capítulo será muito bem-vindo. 

Desliguem os celulares e excepcional diversão.  

Bruno Giacobbo
Bruno Giacobbo
Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.

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