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Stella: Vítima e Culpada, um drama real sobre o Nazismo

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Vocês já pararam para pensar no que fariam para salvar a sua família? O que um homem ou uma mulher seriam capazes de fazer para salvar a vida de seus pais, de seus irmãos ou de um amor? E se levarmos essa situação para o extremo? Ao longo de toda a Segunda Guerra Mundial, no período de 1939 a 1945, muitas pessoas foram perseguidas. A Alemanha Nazista, sistematicamente, caçou, prendeu e matou aqueles que eram considerados diferentes. No entanto, Adolf Hitler elegeu um inimigo número um: os judeus. Estes, mais do que qualquer outros, foram mandados para campos de concentração e exterminados. Assim, voltando a pergunta que abre este texto, se vocês fossem judeus, lá por volta do ano de 1943, seriam capazes de entregar o seu próprio povo para salvar a sua família? É partindo dessa situação nada hipotética e absolutamente real, que o filme Stella: Vítima e Culpada, dirigido pelo cineasta alemão Kilian Riedhof, começa a contar a sua história. 

Baseado na vida de Stella Goldschlag (Paula Beer), a trama acompanha essa mulher, jovem, loira, deslumbrante e dona uma voz de anjo. Seu sonho é se mudar para os Estados Unidos e cantar Jazz do outro lado do Atlântico, mas enquanto não o realiza, ela tem a sua banda em casa mesmo. E é neste grupo que conhece o seu marido, Manfred Kübler (Damian Hardug). No início da história, em 1939, a vida da protagonista parece uma grande festa e o filme tem esse ar: frugal, bem leve e festivo. São muitas cenas musicadas, todas bastante animadas. Com o aumento da perseguição, a vida de Stella e de todos a sua volta muda. Após a prisão do esposo, ela adota uma nova identidade e passa a vender documentos falsos para outros judeus. Nessa atividade acaba conhecendo o seu segundo marido, Rolf Isaaksohn (Jannis Niewöhner). Juntos, cheios de tesão, parecem felizes, mas, aqui, o filme já tem outra cara, muito mais tensa, só que uma nova virada se aproxima. 

Essa nova virada ou guinada, como vocês preferirem, ocorre em 1943, quando Stella e seus pais, Gerhard Goldschlag (Lukas Miko) e Toni Goldschlag (Katja Riemann), são presos pela Gestapo. Duramente espancada, com medo de ser enviada para o campo de concentração de Auschwitz, ela reluta um pouco, mas acaba aceitando colaborar com os nazistas entregando outros judeus. Em troca da garantia de que seus progenitores permaneceriam em segurança, Stella usa da beleza para atrair as suas vítimas. Aí é óbvio que essa traição gera enorme revolta entre os membros da comunidade judaica. Neste momento da trama, o clima que já era tenso fica ainda mais tenso. São várias as cenas de Stella: Vítima  e Culpada impregnadas de muita ação, quase elétricas, tudo favorecido pela montagem da editora Andréa Mertens. E a edição não se destaca somente neste momento, pois nas cenas alegres já dá para antever a importância do trabalho de Mertens em relação ao ritmo pretendido pelo cineasta para a obra como um todo. 

Tudo ligado ao regime nazista é deplorável. As ações de Adolf Hitler e seus bitoladas estão entre as páginas mais perversas da história da humanidade. Dito isto, a pergunta que fiz lá no começo até empalidece, afinal, alguma coisa seria capaz de justificar os atos de Stella? Não, aliás, muita gente diria que talvez fosse melhor ela ter morrido com dignidade do que fazer o que fez. Todavia, o trabalho da atriz Paula Beer pode levar alguns espectadores a terem sérias dúvidas. Em uma atuação viceral, Beer justifica o título do filme em português. A personagem é, em muitos momentos, vítima e, em outros tantos, culpada. O ser humano é dotado de um senso de sobrevivência e de autopreservação absurdo, o que pode levar uma pessoa a fazer coisas antes impensáveis só para sobreviver. Desta forma, acaba sendo bastante difícil colar nela o rótulo de mártir ou de monstro. No final das contas, o que temos é um estudo de personagem de extrema complexidade e relevância. 

Assistir ao longa-metragem Stella: Vítima e Culpada e não pensar em A Espiã, do holandês Paul Verhoeven, é quase impossível. Há muitas semelhanças, a começar pela trama que tem como protagonista uma mulher judia e o seu envolvimento muito particular com os inimigos nazistas. Há também uma questão que passa pela semelhança física das atrizes Paula Beer e Carice van Houten, respectivamente, e pela caracterização das personagens. E, em uma comparação bem isenta, o filme do cineasta alemão talvez não seja tão badalado quanto o do holandês, em função somente dos currículos dos seus dois realizadores. Afinal, em termos de técnica e dramaturgia, o primeiro não deve nada ao segundo. Fiquem de olho na última cena da protagonista e na forma como ela se liga de modo análogo a uma outra tomada anterior. 

Desliguem os celulares e ótima diversão.

Bruno Giacobbo
Bruno Giacobbo
Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.

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