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O Ritual, um terror baseado em fatos reais, com Al Pacino

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Não foi na cabine de imprensa do filme desta crítica, foi em outra, mas a frase que ouvi, com a devida adaptação, serve adequadamente para o longa-metragem sobre o qual vou começar a discorrer a partir de agora: saiu, topou em uma árvore, pronto, foram feitos mais meia dúzia de filmes sobre exorcismo e possessão demoníaca. Desde o ano de 1973, quando o mundo se assustou com O Exorcista, a obra-prima de William Friedkin, Hollywood vem realizando produções com esta temática com o intuito de repetir o sucesso, mas nada chegou perto. A película O Exorcismo de Emily Rose, lançada em 2005 pelo diretor Scott Derrickson, talvez tenha sido a que ficou mais próxima, de alguma maneira, de emular tal sucesso. Dito isto, O Ritual, do cineasta David Midell, é mais uma produção a encarar este desafio. E se a sua história não conta com nenhuma grande novidade, a presença de Al Pacino no elenco é, certamente, um baita chamariz.  

Baseado em fatos reais, o filme conta a história de Emma Schmidt (Abigail Cowen), uma mulher que, durante a sua vida, dos 14 aos 46 anos, sempre com um hiato entre um evento e outro, foi possuída por entidades malignas diversas que ora se apresentavam como Belzebu, ora como Judas Iscariotes e até mesmo como os espíritos dos seus falecidos pai e tia, Jacob e Mina. Por muito tempo, principalmente ao longo da sua juventude, a protagonista foi tratada como portadora de uma grave doença psiquiátrica. Assim, ela foi negligenciada por todos, inclusive pela Igreja Católica que enviou o frade Theophilus Riesinger (Al Pacino) para examina-lá. Sua sorte só mudaria em 1928, graças à intervenção do próprio frade que, consciente do seu erro no passado, resolve submetê-la a um ritual de exorcismo. 

O caso retratado em O Ritual é o exorcismo mais famoso e documentado da literatura religiosa dos Estados Unidos. Muito do que foi escrito, mais tarde, vem das anotações feitas pelo padre Joseph Steiger (Dan Stevens), um pároco da cidade de Earling, Iowa. Foi no convento anexo à paróquia administrada pelo religioso que Emma recebeu o tratamento ministrado por Riesinger. Inicialmente, Steiger se mostra bastante descrente em relação ao diagnóstico de possessão demoníaca e, por tabela, um partidário da teoria da doença psiquiátrica. Como o filme explica, há uma razão familiar para isso. No entanto, com o tempo, ele muda de ideia e sua participação no ritual se revela fundamental. A sua e a da irmã Rose (Ashley Greene). 

O Ritual, como escrevi lá em cima, não traz nenhuma grande novidade. Na verdade, ele reproduz clichês costumeiros dos filmes deste gênero, porém, em uma escala menor. Midell enfoca muito mais nos aspectos da história propriamente dita do que em cenas, por exemplo, com a protagonista subindo pelas paredes ou vomitando excrementos. Neste ínterim, chama atenção, logo de cara, uma subtrama envolvendo o padre Joseph Steiger e a irmã Rose. Em uma das primeiras cenas da dupla, ele a ludibria para “roubar” um biscoito de uma bandeja. Gracejos para lá e para cá, eles trocam olhares cúmplices. Qualquer um, inclusive o Diabo, é capaz de perceber as faíscas de um amor proibido devido aos votos religiosos que ambos fizeram. Proibido ou não, todavia, todo amor vem de Deus. E se na mão das entidades malignas que possuem Emma esse amor é uma arma para desestabilizar Steiger, por outro lado, é também uma fonte de poder contra as forças do mal.  

Já a badalada escalação de Al Pacino para viver um frade exorcista em O Ritual acaba servindo apenas de chamariz. Ainda que ele seja um dos protagonistas da história, sua participação é ofuscada pelos dilemas e pela subtrama do personagem de Dan Stevens. Além disso, o maior ator de todos os tempos entrega – como tem sido comum nos últimos anos, com a exceção de O Irlandês – mais uma interpretação no piloto automático. É sempre bom vê-lo em cena, o sotaque, tão criticado lá fora por alguns dublês de críticos e linguistas (Riesinger nasceu na Alemanha), não me incomodou nada, mas não tem como se conformar quando Al Pacino não entrega algo novo ou excitante. E é essa mesma falta de excitação que parece contaminar a obra como um todo, impedindo, assim, uma avaliação um pouco melhor deste bom longa-metragem. 

Desliguem os celulares e boa diversão.

Bruno Giacobbo
Bruno Giacobbo
Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.

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