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Shadow Force: Sentença de Morte mistura ação com drama familiar

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Com o advento dos streamings, muita gente substituiu o hábito de ir ao cinema em família para se reunir na sala de casa e ver os filmes que estreiam diretamente nesses novos canais. Sem pesquisa, sem dados coletados, só com uma rápida zapeada, o espectador encontra obras para todos os gostos: comédias, romances, suspenses, histórias sobre crimes reais, mas talvez o que mais povoe a programação sejam as produções de ação altamente genéricas. Elas até parecem feitas em escala industrial, uma atrás da outra, com o intuito de agradar àquelas pessoas que estão procurando somente um bom escapismo. Algumas funcionam, outras não. Quando fui escalado para a cabine de Shadow Force: Sentença de Morte, de Joe Carnahan, apesar do lançamento em tela grande, eu senti logo o cheirinho de uma produção nos moldes supracitados. Assim, cabia a mim desmistificá-la ou não. 

Em Shadow Force: Sentença de Morte, temos a história de Kyrah Owens (Kerry Washington) e Isaac Saar (Omar Sy), ex-líderes de um esquadrão da morte a serviço do Governo dos Estados Unidos chamado Shadow Force. Oito anos após deixarem o grupo, eles vivem na clandestinidade porque desrespeitaram a única regra imposta pelo ex-diretor da CIA Jack Cinder (Mark Strong): não se apaixonar por um colega de equipe. O desrespeito à regra teve ainda outro agravante, um rebento fruto deste amor: Ky Saar (Jahleel Kamara). Por causa disso, o casal não vive junto. Indo contra o senso comum de que é a mãe que fica com as crianças, Ky mora com Isaac e Kyrah vive nas sombras, sempre à espreita, pronta para proteger o marido e o filho. Um dia, um incidente expõe a localização da família e isso é mais do que suficiente para que Jack ordene uma caçada extremamente brutal contra os seus antigos aliados. 

Inicialmente, há uma tentativa de fugir do estereótipo de longa-metragem de ação altamente genérico. O diretor Carnahan, que escreveu o roteiro em parceria com Leon Chills, investiu bastante em cenas de um flagrante amor paterno. Isaac não se parece em nada com um assassino de elite. Nesses momentos, bem bonitos por sinal, ele se parece muito mais com um pai solteiro que leva o filho ao colégio, prepara o lanche e lê uma historinha para que esse possa dormir. Só que, na ânsia de conferir um ar intimista ao enredo e fugir assim do generalismo, é possível que o realizador tenha perdido a atenção de quem justamente queria somente um bom e velho entretenimento escapista. Posteriormente, quando o filme volta ao percurso convencional, descartando quase que totalmente as ternas cenas familiares, outros problemas começam a surgir. 

Em sua primeira cena verdadeiramente de ação, Shadow Force: Sentença de Morte faz uso do recurso “Deus ex-machina” com o intuito de resolver uma situação que não tinha uma solução crível. No evento que expõe o paradeiro de pai e filho para os inimigos, Ky tem uma arma apontada para a sua cabeça e Isaac precisa salvá-lo a qualquer custo da ameaça. Acontece que nesta cena, um assalto a banco, ele está longe do garoto e sozinho contra quatro ladrões armados. O que ele faz? Pode para que o filho feche os olhos e não preste atenção em mais nada. Assim, a tela escurece e os espectadores também não veem mais nada. Quando a tela se ilumina novamente, um inexplicável rastro de violência se espalhou pelo recinto. Os bandidos estão apagados e os demais reféns perplexos. O uso deste recurso, via de regra, é um sinal da fraqueza do roteiro e de seus argumentos. 

O roteiro se revela fraco também na hora de construir seus personagens e determinadas situações. Quando Jack fala sobre a Shadow Force para os representantes do G7, o grupo das sete nações mais ricas do mundo, ele apresenta o seu esquadrão como uma força de elite capaz de despojar dos seus tronos os ditadores e os narcotraficantes mais vis e poderosos do mundo. Todavia, quando eles são finalmente postos à prova em um embate contra Kyrah e Isaac, falham miseravelmente. E da pior forma possível. Assassinos de elite não podem lutar ou morrer da maneira como eles lutam ou morrem. Kyrah, por sua vez, quando se vê cara a cara com Jack e tem a primeira grande oportunidade de liquidar seu inimigo, age de forma contrária ao bom senso que aquela situação pedia e desperdiça uma chance ímpar. O porquê de tal atitude? Talvez uma tola tentativa de criar suspense esticando o roteiro e adiando o desfecho da trama, afinal, nada justifica uma assassina do seu quilate não seguir o protocolo do bom senso. 

Eu comecei este texto dizendo que tentaria desmistificar o cheirinho de produção de ação genérica de Shadow Force: Sentença de Morte, mas, assim como alguns dos seus assassinos de elite, falhei miseravelmente. Falta ao filme do diretor Carnahan tudo o que sobra em Chefes de Estado, com os atores John Cena e Idris Elba que estreou recentemente no Prime: ótimas sequências de ação, protagonistas cativantes,  personagens engraçados e um roteiro que, ainda que soe forçado como qualquer outro do gênero, faça sentido dentro de sua própria lógica interna. Se não for para ser assim, não vale a pena ir ao cinema. É melhor mesmo ficar no conforto do lar. E olha que, para mim, cinema continua sendo a melhor diversão. 

Desliguem os celulares.

Bruno Giacobbo
Bruno Giacobbo
Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.

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