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CIC – Central de Inteligência Cearense faz parodia de filmes de espionagens

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A paródia cinematográfica é uma verdadeira entidade do cinema brasileiro. A saudosa Boca do Lixo produziu algumas pérolas geniais como, por exemplo, Bacalhau (1976), Histórias Que Nossas Babás não Contavam (1979) e Um Pistoleiro Chamado Papaco (1986), obras que de maneira bem irreverente subverteram as tramas de Tubarão (1975), Branca de Neve e os Sete Anões (1937) e Django (1966). Há quem goste e há quem entenda que a realização deste tipo de filme denote uma certa dose de preguiça na hora de desenvolver histórias originais. No geral, estou com o primeiro grupo e sempre me alegro ao tomar conhecimento de uma nova produção nestes moldes. Com direção de Halder Gomes, CIC – Central de Inteligência Cearense não parodia um longa-metragem específico, mas todo um filão: o de filmes de espionagem, que tem no agente secreto britânico James Bond o seu maior e mais popular ícone. 

Estrelada por Edmilson Filho, espécie de ator fetiche do cineasta, a produção traz a história de Wanderlei, também conhecido pelo codinome de Agente Karkará, que trabalha para a CIC – Central de Inteligência Cearense, um organização secreta de combate ao crime. Prestes a entrar de férias, o intrépido herói brasileiro é convocado para uma missão vital: recuperar a fórmula roubada de um projeto secreto, desenvolvido em parceria por Brasil, Argentina e Paraguai. Para isso, ele terá que ir à tríplice fronteira desses países e enfrentar toda sorte de inimigos, inclusive um perigoso sindicato do crime que atende pela peculiar e sugestiva alcunha de R.O.L.A. Uma vez lá, Karkará contará com a ajuda do paraguaio Romerito (Gustavo Falcão) e da argentina Mikaela (Alana Ferri), agentes envidados por seus governos para auxiliar na luta contra as forças que ameaçam a América do Sul. 

A paródia enquanto gênero, seja ela do cinema, da literatura ou de qualquer outra manifestação artística, implica em satirizar com picardia. E aí entra uma questão bastante importante: a maneira como o humor é percebido e compreendido. Na primeira vez que assisti à uma produção de Halder Gomes, Cine Holliúdy (2012), em uma sessão na cidade de Natal, fiquei meio perdido. A sala toda ria e eu não conseguia a achar a mesma graça que o restante do público. Eu estava na companhia de um amigo carioca e ele também não achava. Só que o problema não era nosso e nem do filme. Acontece que a verve humorística do longa era recheada de piadas regionais, mais afeitas à audiência local e, assim, não dialogava com o humor com o qual estávamos acostumados. Com os anos e a internacionalização dos temas abordados pelo diretor, esse humor se tornou menos regional e, por consequência, mais acessível a todo tipo de plateia. CIC – Central de Inteligência Cearense é a prova disso. 

CIC – Central de Inteligência Cearense apresenta uma história que fala de agentes secretos e espionagem, ainda que a organização para a qual o protagonista trabalha seja regional, tinha que ser internacional. E mesmo não parodiando nenhum filme especificamente, a obra de Halder Gomes brinca com muitos dos chavões de produções do gênero. O modo como Wanderlei, Romerito e Mikaela se apresentam – meu nome é Lei, Wanderlei e assim por diante – é uma cópia da clássica apresentação de Bond, James Bond. Já em um mundo totalmente tecnológico, um espião de gabarito global não poderia viver sem suas parafernálias eletrônicas e o Agente Karkará, tal qual o seu congênere britânico, é repleto delas. Vale frisar aqui que os efeitos especiais e visuais são de ótima qualidade. Em uma época não tão remota assim, o cinema brasileiro teve muitos problemas com este aspecto da produção. Hoje, CIC – Central de Inteligência Cearense vem corroborar com a constatação de toda uma evolução que já vinha sendo percebida em várias produções. 

Tentando não utilizar os tais chavões como muleta, a trama escrita pelo roteirista Márcio Wilson investe em um mistério muito bem engendrado e que chega a ser hilário, graças a um fato bastante peculiar: ninguém na CIC sabe o teor da fórmula roubada ou sobre o que versa o projeto secreto de tão secreto que ele é. Outra nuance trabalhada pelo enredo, e aqui não há como fugir da comparação, é a faceta sedutora do agente. Mais uma vez, tal qual sua contrapartida mais famosa, Karkará seduz e é seduzido por belíssimas mulheres: Mikaela e a vilã Carola (Tóia Ferraz), a cabeça (sem duplo sentido, por favor) da R.O.L.A. E são essas duas atrizes, Alana Ferri e Tóia Ferraz, as melhores surpresas do filme em relação as interpretações. Confesso que não conhecia o trabalho de nenhuma delas. No entanto, a intérprete da agente secreta tem ainda um pouco mais de destaque, fruto de um dedicado trabalho de imersão que a atriz fez, ao passar um tempo na Argentina, para aprimorar o seu sotaque. 

Com ótimas cenas de ação e um humor bem mais universal do que o de filmes anteriores do cineasta, CIC – Central de Inteligência Cearense é entretenimento de qualidade para quem quer deixar os problemas de lado e desopilar o fígado após uma semana estressante. Além disso, a película é uma boa pedida não só para os fãs de James Bond, mas também para os apreciadores do cinema argentino. Há uma cena que não emula, mas que certamente foi inspirada em outra de O Segredo dos Seus Olhos (2009). Se você que está me lendo é um desses apreciadores, já deve ter imaginado que ela se passa em um estádio de futebol. Bem, vou parar por aqui, pois falar mais do que isso é dar spoiler. 

Desliguem os celulares e ótima diversão. 

Bruno Giacobbo
Bruno Giacobbo
Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.

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