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Drácula: Uma História de Amor Eterno, de Luc Besson, traz personagem mais sedutor

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Em uma rápida consulta ao Letterboxd, rede social que congrega críticos e cinéfilos, ao digitarmos a palavra Drácula, encontramos referências a 19 filmes. Já se procurarmos por Nosferatu, personagem criado pelo alemão Friedrich Wilhelm Murnau para não pagar direitos autorais aos herdeiros de Bram Stoker, o autor do romance de 1897 que é a origem de tudo, achamos mais 20 filmes. Ou seja, são quase 40 versões contando com o novo Drácula: Uma História de Amor Eterno, do francês Luc Besson. Por sinal, foi na cabine deste último que eu escutei aquela frase, citada no primeiro parágrafo da minha crítica de O Ritual, sobre o excesso de produções com uma mesmíssima temática. A razão para elas continuarem sendo feitas é quase sempre a mesma: o lucro que temas populares podem gerar. Porém, para isso as novas versões devem ser boas. A de Besson é? Veremos! 

Assim como o seu primo-irmão mais famoso, Dracula de Bram Stoker, de 1992, dirigido pelo norte-americano Francis Ford Coppola, o longa-metragem de Besson é uma adaptação do livro. Em sua trama, que começa no ano de 1489, Vlad (Caleb Landry Jones) é o Príncipe Regente de um reino nos Cárpatos, na Europa Ocidental. Membro da Ordem de Dracul (dragão, em romeno), ele está em constante guerra com o Império Turco Otomano para defender o cristianismo do islamismo. Em uma destas batalhas, o monarca pede a um bispo que interceda junto à Deus pela vida da sua amada, a princesa Elisabeta (Zoë Bleu). Sem ela, diz ele, não conseguiria viver. Só que as preces não são ouvidas e ela acaba sendo assassinada. E é desta forma que começa a saga do Conde Drácula. Ao renegar Deus, Vlad é condenado a viver eternamente. 

Aliás, é importante lembrar, adaptação nunca é indicativo de fidelidade total à obra original. Essa é a primeira coisa que a maioria dos cinéfilos precisa lembrar e não seria diferente aqui. Na versão roteirizada de Besson, o cientista e caçador de vampiros Abraham Van Helsing, que foi interpretado em 1992 por um ótimo Anthony Hopkins, deu lugar a um padre vivido por um também ótimo Christopher Waltz. A troca que pode soar para alguns como um sacrilégio, ao meu ver, contribui para reforçar a questão religiosa da história. Outrora, Vlad era um cristão devoto, mas tão devoto, que matava em nome da Igreja. Ao ser condenado à danação eterna, em vida, por blasfemar contra Deus, é a sua alma que se perde. E com uma alma em jogo, faz mais sentido que Drácula seja confrontado por alguém capaz de redimir essa. Outra mudança é a cidade onde o conde encontrará a reencarnação de seu amor: sai Londres, entra Paris. 

Passados 400 anos do prólogo de Drácula: Uma História de Amor Eterno, a Cidade Luz está empolvorosa com a aproximação do centenário da Revolução Francesa. É neste cenário que vive Mina Murray (Zoë Blue), noiva do advogado Jonathan Harker (Ewens Abid), sem saber que é a cara de uma antiga princesa dos Cárpatos. Assim como no longa-metragem de 1992, o seu caminho cruzará com o do vampiro quando o seu noivo for ao encontro desse, acreditando que está apenas negociando com um velho nobre. Ao descobrir que sua amada reencarnou, o Conde Drácula irá até Paris disposto a seduzi-la. 

É claro que a troca de Londres pela capital da França foi motivada, principalmente, pelo fato de Besson ser francês. Todavia, há uma particularidade bastante interessante aí: na trama, lá pelas tantas, o padre diz que cortar a cabeça é uma das maneiras mais eficazes de se matar um vampiro. Esta informação pode até passar batida e soar irrelevante para uma grande parte do público, mas nada poderia ser tão emblemático em uma cidade que, 100 anos antes, condenava os seus nobres à guilhotina. Nesse contexto, Vlad pode ser o próximo em uma extensa lista que tem nomes ilustres como Luis, Maria Antonieta e Danton, entre outros personagens históricos. 

Luc Besson entrega aqui uma obra muito diferente de Dracula de Bram Stoker ou do último Nosferatu, dirigido pelo norte-americano Robert Eggers e lançado no ano passado. Enquanto esses dois filmes primam por um visual dark, sempre soturno, independentemente de um usar cores e o outro ser preto e branco, Drácula: Uma História de Amor Eterno é praticamente um balé com bastante movimento, gracejos à vontade e uma aura, digamos assim, um tanto quanto inusitada. 

Há algumas cenas que podem exemplificar o que escrevo. O Drácula vivido pelo ator Caleb Landry Jones é um sedutor, bem mais, diga-se de passagem, do que os de outras versões. Viajando em busca da reencarnação de Elisabeta, ele exerce toda essa sedução em bailes pelas cortes da Europa afora, ao longo de algumas tomadas sequenciais. Há uma cena também em que ele invade um convento em busca de sangue para rejuvenescer, em que toda a movimentação com as freiras é cuidadosamente coreografada. Isso tudo, visto em conjunto com a personalidade do protagonista, confere ao filme uma aura de drama romântico e não de terror. Nenhum absurdo, já que Vlad, com sua fixação na mulher amada e a sua dor dilacerante, é um autêntico e incorrigível romântico pelo qual o público corre o risco de torcer dede o inicio, quando o vemos em ação numa batalha. 

Drácula: Uma História de Amor Eterno não é nem de longe muito parecido com os seus predecessores, especialmente o de 1992. Essa constatação serve, por si só, para validar uma nova adaptação de uma história tantas vezes contada no cinema. Mas eu sei que ainda não respondi a pergunta que fiz no final do primeiro parágrafo: a versão de Luc Besson é boa? Se você quer algo diferente, se não está em busca somente de mais um filme de terror, a resposta é um sonoro e prazeroso sim. Do contrário, o melhor talvez seja rever uma das antigas versões, afinal, são tantas, né? Logo, o que não falta são opções. 

Desliguem os celulares e excelente diversão.

Bruno Giacobbo
Bruno Giacobbo
Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.

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