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A Vida de Chuck: Tom Hiddleston em um conto de horror e fantasia

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Aplaudidíssimo no Festival de Toronto 2024, quando venceu o People’s Choice Award, o longa-metragem A Vida de Chuck poderia muito bem ter aparecido nas prévias do Oscar passado, entretanto, por uma questão estratégica, seu lançamento foi adiado para o segundo semestre de 2025. Não sei quais razões levaram o estúdio a tomar essa decisão em relação ao filme dirigido por Mike Flanagan, mas talvez tenha a ver com uma espécie de regra não escrita sobre cotas. A Substância e Wicked eram apostas seguras, obras praticamente indicadas, fato que se confirmaria depois, e dificilmente outro filme de horror ou de fantasia, categorias em que podemos encaixar o objeto da análise desta crítica, seria indicado. Se a ideia foi essa mesmo e se vai dar certo pensando no Oscar 2026, apenas o tempo dirá, porém, sem dúvida alguma, o cineasta entrega aqui a sua melhor produção cinematográfica.

Nova adaptação de uma obra de Stephen King por parte do Flanagan, A Vida de Chuck conta a história do contador Chuck Krantz (Tom Hiddleston), um homem comum com uma vida ordinária, no bom sentido. O longa-metragem é dividido em três partes que são exibidas na ordem inversa da cronologia existencial do protagonista: Ato 3: “Obrigado, Chuck”,  Ato 2: “Artistas de Rua para Sempre” e Ato 1: “Eu Contenho Milhões”. 

Na terceiro ato, o Planeta Terra passa uma crise climática que coloca em risco todas as formas de vida existentes. No centro desse enredo estão o professor Marty Anderson (Chiwetel Ejiofor) e a enfermeira Felícia Gordon (Karen Gillan), um casal em crise e em busca da reconciliação em pleno fim do mundo. Simultaneamente, anúncios na rua, no rádio e na TV se despedem de Chuck e o agradecem por seus 39 anos bem-vividos. Acontece que ninguém parece conhecê-lo.

No segundo ato de A Vida de Chuck, por sua vez, Chuck está em um congresso. Uma tarde, após o intervalo para o almoço, ele sai para caminhar e conhece Taylor Franck (Taylor Gordon), uma baterista que se apresenta em troca de gorjetas. A performance da moça é a senha para que o protagonista comece a dançar, inicialmente sozinho, posteriormente com Janice (Annalise Basso), uma jovem que acabou de sofrer uma desilusão amorosa. Eles dão um verdadeiro show em uma cena extremamente carismática. 

Já no primeiro ato, encontramos Chuck na infância e na adolescência, aos 7 (Cody Flanagan), aos 11 (Benjamin Pajak) e aos 17 anos (Jacob Tremblay), morando com seus avós paternos Albie “Zaydee” Krantz (Mark Hamill) e Sarah “Bubbie” Krantz (Mia Sara). Órfão desde cedo, o menino vê em ambos um modelo e um exemplo de conduta, por essa razão eles serão os responsáveis por incutir nele o prazer pela matemática e pela música, artes que regerão sua vida dali em diante.  

A Vida de Chuck é um daqueles filmes difíceis de serem explicados sem spoilers, mas como nunca foi política da casa dar spoilers, vamos lá. Pelo título, o mesmo em inglês e português, o público pode pensar que se trata de uma obra que retrata biograficamente a vida do protagonista. Todavia, a maneira como os atos são apresentados já servem de indício contra essa pré-suposição. Além disso, o terceiro ato se parece com um ótimo episódio de Black Mirror. Quando a imagem de Chuck se torna onipresente, ninguém, nem Marty, nem Felícia ou o público, sabe quem é aquele homem. Um clima de mistério passa a pairar no ar adensado pelo horror do apocalipse. Só que as pistas estão todas lá. Quem tiver um pouco de paciência conseguirá ligar os pontos se prestar bem atenção nos outros atos. 

Toda a divulgação de A Vida de Chuck é centrada no nome de Tom Hiddleston como se ele fosse o único protagonista. São múltiplos Chucks em cena o que, obviamente, confere a todos um natural protagonismo, inclusive ao garoto Benjamin Pajak que se mostra um dançarino tão bom quanto a sua versão mais velha. E há ainda Annalise Basso, Chiwetel Ejiofor, Karen Gillan e Mia Sara, além claro de um maravilhoso Mark Hamill, o eterno Luke Skywalker, (quase) irreconhecível em sua versão humana de Mestre Yoda (Guerra nas Estrelas) com Geppetto (Pinóquio). É para ele que se voltam os holofotes no primeiro ato. 

Uma boa parte do clima de conto de horror e fantasia, próprio da obra de Stephen King, vem do roteiro e da montagem de Mike Flanagan, contudo, a fotografia a cargo de Eben Bolter também desempenha um papel fundamental ao ajudar a guiar o público em uma experiência sensorial. A atmosfera que perpassa A Vida de Chuck é a de um grande sonho, como se estivéssemos imersos em um universo onírico onde nada é exatamente o que parece ser, tornando, assim, mais fácil e palatável falar sobre existencialismo e as agruras de ser humano. 

Desliguem os celulares e excepcional diversão. 

Bruno Giacobbo
Bruno Giacobbo
Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.

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