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O Último Rodeio, um drama familiar com o suor de uma arena de competição

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O longa-metragem O Último Rodeio, dirigido por Jon Avnet, carrega o coração de um drama familiar com o suor de uma arena de competição. O ex-campeão Joe Wainwright (Neal McDonough), aos cinquenta anos, não é só um cowboy fora de época — ele é um homem tentando costurar pedaços de si mesmo que se perderam há quinze anos. O filme, realizado por uma produtora cristã — mais um de um nicho off-Hollywood que só cresce — não força sermão nenhum; em vez disso, deixa os valores brotarem nas pausas: um abraço apertado no hospital de Dallas, o olhar torto da filha que diz mais que diálogo, o perdão que vem devagar, como poeira assentando depois de um torneio em Tulsa.

Na trama de O Último Rodeio, aposentado há bastante tempo, Joe decide voltar a competir quando descobre que o seu neto, Cody (Graham Harvey), tem um tumor na cabeça e precisa operar. Além da complexidade da cirurgia em si, o plano de saúde da família não é suficiente para arcar com os custos totais. Eles precisam de pelo menos 150 mil dólares. Diante do desespero da filha, Sally (Sarah Jones), e da impotência econômica, ele toma uma decisão que vai deixar todos apreensivos. Mas o protagonista não está sozinho nesta jornada. Ele pode contar com a ajuda preciosa de Charlie (Mykelti Williamson), outro cowboy e amigo das antigas com quem retoma um contato próximo após um prolongado hiato.

O Último Rodeio não é sobre o chapéu de cowboy perfeito, mas sobre quem ainda tem coragem de montar. A competição é, certamente, o gancho, mas o que segura a telona é o confronto interno: corpo gasto versus alma teimosa. Aos olhos dos peões jovens, Joe é relíquia; para os fãs de Barretos ou de Jaguariúna que assistirem, é ídolo ressurgido. Por sinal, a presença de um personagem brasileiro entre os competidores é um plus. E, nesta toada, a arena fecha o céu, mas abre as feridas. E quando o protagonista cai — porque uma hora ele cairia, óbvio —, cai devido ao peso do que deixou para trás: com a filha, com Charlie e com Jimmy (Christopher McDonald), organizador do torneio e também companheiro de histórias pregressas. O filme filma tudo isso sem pena, com a crueza da fotografia de Denis Lenoir e de quem sabe que redenção não vem de graça.

Como produção, analisando todas as suas valências, O Último Rodeio não inventa a roda. A montagem de Tom Constantino é previsível, vai do flashback ao clímax como todo mundo espera. E é aí que está o truque: parece uma cinebiografia porque a gente quer acreditar que alguém real já fez isso. Mas é ficção e, por um lado, melhor por isso: sem amarras para ser inspiradora. As cenas no hospital são o contraponto quieto. Enquanto Tulsa explode em aplausos e poeira, Dallas é luz fria e bipes. É lá que o filme solar aparece — não no sol de verdade, mas na mensagem que não desiste: família se reconstrói, erros se perdoam, um avô vira santo aos olhos de um menino de olhos arregalados. Joe não vence por força; vence por insistir em acertar os passos.

Para os jovens peões, o prêmio são os 750 mil dólares e uma picape moderna. Já para Joe, o prêmio é a cirurgia que pode salvar a vida de Cody — e o que fica é o eco de que valeu a pena tentar. No fim, o público sai do cinema — ou do sofá — se sentindo menos nublado. O Último Rodeio não corre qualquer risco como o seu protagonista, mas entrega o que promete: uma história de cowboy com alma de gente comum. E se tem um tom cristão firme, ele não prega — conversa e convida. Faz a plateia sair pensando se, amanhã, não seria hora de montar no touro que deixou para trás e seguir em frente com a coragem recobrada.

Desliguem os celulares e boa diversão.

Bruno Giacobbo
Bruno Giacobbo
Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.

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