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Quebrando regras: “King” é uma ode ao feminismo contemporâneo

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“King” é um manifesto pessoal, sobre transcender papéis definidos por sexo.

Florence, certamente, deu mais um passo em direção à revolução feminista contemporânea, em mundo que ainda caminha devagar para a equidade de gênero. Seguindo seu próprio som, intuição e vivências, ela segue com sua revolução sutil com “King”, mas forte de um jeito estranho e único até mesmo para o perfil imagético que remete sempre à fragilidade. No entanto, em “King”, ela não parece estar tão frágil e nem parece que vai sucumbir frente às pressões diárias vividas só por ser uma mulher na casa dos trinta. Ela parece ter aceitado o fato de que não vai dar pra ser como a sociedade quer que seja.

Em “King”, ela saiu das telas pré-rafaelitas e aparece vivíssima, vestida em um vestido cor de framboesa com capuz de seda roxa assinada pela Rodarte para dar um grito e dizer: “Eu não sou mãe, Eu não sou noiva, Eu sou Rei”! Conheça a nova musica!

Ela admite ser ótima no que faz sem ter medo de ferir o ego de homem algum, assume as rédeas de sua vida pessoal e artística da mesma forma como um homem toma uma mulher como sua esposa, torcendo o pescoço de um homem nos primeiros minutos de clipe trazendo um papo aberto sobre obrigações impostas à vida das mulheres, inclusive, ela. Mesmo estando na lista dos 500 artistas mais influentes do mundo, segundo dados do Spotify.

Certamente uma ótima forma de voltar aos palcos, depois de quatro anos do lançamento de seu último disco “High As Hope” (2018), aliás, o álbum mais pessoal e físico da carreira dela até, então. Agora, ela parece ter domínio sobre seu jeito de dizer ao mundo como se sente em relação aos seus próprios sentimentos conflituosos.

De forma mais direta e sem muita metáfora, Florence retorna com muita segurança durante os cinco minutos de material audiovisual do single “King” e mostra a mesma certeza na letra da canção. Florence já tinha feito isso na canção “Hunger” e já tinha nos dado a força de sua indignação no clipe de “Big God” também dirigido por Autumn de Wilde, fotógrafa e diretora de cinema, cujo pai é conhecido pelas fotos de Jimmi Hendrix e outros ícones da cena pop dos anos 60, diferentemente do clipe de “Big God”, em que ela parecia estar no vazio lutando contra si mesma e contra o mundo.

Agora, o clipe de “King” apresenta uma Florence vagando acima do vazio, em um lugar concreto. Quase tudo é cinza, não por acaso. A simbologia e metáfora do cinza é neutra, sem carga emotiva e que muitas vezes traduz estabilidade e solidez. Além disso, ela aparece acima de tudo e todos durante quase todo o clipe e repete mais de uma vez o refrão. Há uma cena bastante categórica em que ela aparece subindo uma escada. Objeto que, segundo significado esotérico, é o elemento de ligação entre o Céu e a Terra, à ascensão e à evolução de natureza espiritual. Isso é, surpreendentemente, muito a Florence!

Com uma coreografia ensaiada com outras dançarinas, nos dois minutos e vinte segundos de vídeo, ela ergue o punho em sinal de apoio e solidariedade às outras mulheres, exprime um lamento que nada mais é que uma expressão de libertação do cansaço e da sobrecarga de ser uma mulher no mundo e sai numa corrida coreografada em direção à própria liberdade e diz:

“E nunca era tão boa
Quanto eu pensava que eu fosse
Mas eu sei me vestir bem
Eu nunca estava satisfeita
Isso nunca me deixou ir
Apenas me arrastou por meus cabelos
E continuou o show”.

Tudo com um sorrisinho no rosto e uma leveza dessas que vem da paz de se aceitar quem se é. Sensacional! Sabe-se que tanto na vida como na indústria da música existe a estrutura que, historicamente, é conhecida por excluir as mulheres dos espaços seja ele qual for. Por isso, esse clipe da Florence veio em excelente hora e mostra o quanto a artista se preocupa em traduzir em forma de arte os desafios dos nossos tempos. Ela toca sua própria sinfonia e traz sua singela, mas potente contribuição para se afirmar e continuar com seu show, do seu jeito sem precisar se sujeitar ao controle dos outros.

KingAliás, isso fala muito da estética do clipe e do pré-lançamento. A imagem promocional do single apresenta uma carta de tarô. Bem, isso é meio contrastante com o visual gótico da foto. Afinal, na Idade Média, a igreja tinha total controle no que diz respeito à voz e ao canto. E mesmo no período renascentista, eram os homens que detinham o protagonismo nas artes (E se eu não estiver exagerando essa realidade segue até meados do século XVII). Depois com o surgimento da Ópera era permitido que as mulheres se apresentassem, mas elas ainda sim, tinham um tutor. Ou seja, existe um pouco mais de abertura como intérpretes, mas não como autoras. Então, leitor, repare o quanto a Florence foi inteligentíssima em trazer uma imagem de uma mulher gótica com uma música de letra bem feminista para mostrar que esse é um problema ainda muito atual de todas as mulheres do mundo.

Pois bem, tudo isso para dizer que: o clipe estreou ontem, é o décimo oitavo vídeo mais assistido do Youtube e você pode até não gostar do som, pois pode soar bem alternativo e fora do que é vendido como Pop ou Rock nos dias de hoje, mas isso é só uma parte da obra. Isso é uma parte bem pequena, aliás. Se você reparar com olhos atentos, Florence  traz uma importante mensagem para nossos dias e merece todo o respeito por isso.

Por fim, para finalizar, o álbum ainda sem nome será lançado em maio e contará com mais 14 faixas. A jornalista que vos escreve é fã e mal pode esperar pelas próximas faixas que serão lançadas em breve.

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