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Urubus borra os limites entre a ficção e o documental

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Por Francisco Carbone – Foi com um susto que Urubus ganhou tanto o prêmio da crítica quanto o do público na 45a. Mostra de Cinema de São Paulo. A partir daí, o filme que tinha sido pouco divulgado no Brasil até então, começa sua trajetória de reconhecimento de uma produção muito laureada internacionalmente, mas que talvez viva no próprio país uma parte do estigma que está entranhado nos artistas retratados pelo filme. “O que é arte?” é uma pergunta que tem se intensificado nos últimos anos a partir de inúmeros casos e expressões, mas nem é necessariamente sobre isso que Urubus quer documentar.

UrubusDirigido por Claudio Borrelli em sua estreia no cinema, o cineasta não explora o tanto de sua divisão publicitária aqui. Apesar de não estar relacionado às quebradas que o filme radiografa, o mergulho do realizador tenta ser o mais próximo de um documento honesto possível. Próximo do artista CRIPTA Djan, desde 2008, quando realizava um documentário sobre ele, Borrelli esquadrinhou a base para o que é visto em Urubus, um retrato bem aproximado de uma realidade que não interessa a lugar algum, mas que resolveu rasgar as estruturas para mostrar sua cara.

Independente da história de Trinchas e seus outros ‘parças’,  Borrelli mostra a própria capacidade enquanto provedor de imagens, aliás, elas são marcantes em grau suficiente para encará-lo como uma figura a ser observada dentro do nosso cinema. Como um primeiro exemplar de suas capacidades, Urubus mostra alguém que temos vontade de reencontrar, um olhar devidamente antenado com o que desejava filmar, da maneira mais próxima como conseguia perceber aqueles personagens e seus tratamentos particulares.

Além disso, Urubus é um filme colérico, cheio de uma energia impossível de ser domada. Borrelli e Marcelo Cavalieri são responsáveis pela edição que concebe esse caos às imagens, que nos carrega para dentro de uma atmosfera onde adrenalina e medo se confundem e se entrelaçam. É, certamente, o trabalho de montagem que executa as manobras que levam esse título para o lugar onde ele se encontra. O que percebemos é que existe uma intenção no hibridismo, de não deixar claro para o espectador menos experimentado onde são borrados os limites entre a ficção e o documental.

Estamos diante de um produto estritamente ficcional, seus personagens são inspirados e estão inseridos em eventos reais, mas nada ali está representando uma realidade factual. Nesse sentido, o trabalho de Gustavo Garcez, Bruno Santaella e Leonardo Muniz é impressionante; sob o comando de Fátima Toledo, eles realizam algo com uma virulência que não é vista todo dia, mesmo no cinema brasileiro com a mão de Fátima. Além de tudo, são conectadas a linguagem cinematográfica com o que é alcançado pelo elenco, e algumas cenas conseguem transcender como a da cobrança da dívida.

Ainda que seja possível cobrarmos de Urubus um posicionamento ainda mais ostensivo para suas histórias, cujo desenvolvimento parece não tão aprofundado quanto poderia ser – em específico, a relação entre jovens e seus pais, o pouco que já vimos é tão forte, que merecia mais. Mesmo assim, isso não arranha a estreia tão certeira de Borrelli, que desafia os lugares de observação para avançar terreno sobre um grupo tão pouco explorado, cuja arte parece estar sempre à beira do reconhecimento, para em seguida voltar a ser segregado.

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