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As Polacas traz retrato intimo e dolorido de mulheres judias obrigadas a se prostituir

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Baseado em fatos reais, As Polacas retrata as dores e os absurdos de mulheres judias que se tornavam escravas sexuais ao entrarem no Brasil na segunda metade do século XIX. A história é livremente inspirada nas obras “El Infierno Prometido”, de Elsa Drucaroff, e “La Polaca”, de Myrtha Schalom, livros que retratam a história real das “Polacas”.

As PolacasO longa, que atravessa temas atuais e urgentes, como o tráfico de pessoas e os refugiados, reconstituem o Rio de Janeiro do final do século XIX com o mote a história real das “Polacas”, mulheres que eram enganadas com promessas de uma vida melhor e levadas a trabalhar em prostíbulos, ao desembarcar em países distantes.

Durante o século 19 e 20 a organização criminosa Zwi Migdal operou no leste europeu traficando mulheres judias para o Brasil, Argentina e Estados Unidos. As polacas, como ficaram conhecidas, foram escravizadas sexualmente por membros da própria comunidade judaica. Os primeiros relatos da chegada das escravas judias no Brasil são de 1867.

Aliás, além de retratar este período tão sombrio, algumas conquistas das polacas estão retratadas no filme, como a sua organização para assegurar direitos básicos, conhecida como a Sociedade da Verdade, além de um construção de um cemitério para serem enterradas de acordo com suas crenças.

As Polacas é sobre a exploração sistêmica e estrutural da mulher. A trama traz o ponto de vista de Rebeca, que vem ao encontro de seu marido no Brasil, mas por obras do destino se vê envolvida nesse mundo sujo e promiscuo, pela necessidade de sobrevivência. Ao se deparar com agressões físicas, emocionais e patrimoniais, sofre durante a jornada de escapar da pobreza e da violência, no caso dela o antissemitismo.

Além disso, o filme mostra como a união e a organização são uma poderosa estratégia de combate à violência. As Polacas retrata um contexto de um século atrás, mas que, infelizmente, segue atual como nunca e contar esse passado é, certamente, uma chance de reescrever o presente.

Dirigido por João Jardim (Pro Dia Nascer Feliz), As Polacas conta uma história de abuso psicológico e sexual que, por mais relevante que seja como fato histórico, é também bastante familiar na sociedade em que vivemos. O roteiro de As Polacas conduz esse arco de aprisionamento com uma linguagem visual polidamente folhetinesca. João Jardim instiga o espectador a refletir sobre a crueldade com que os imigrantes foram tratados ao longo de séculos desse país.

*Filme visto durante o Festival do Rio 2023

Alê Shcolnik
Alê Shcolnikhttps://www.rotacult.com.br
Editora de conteúdo e fundadora do site, jornalista, publicitária, fotografa e crítica de cinema (membro da ACCRJ - Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro). Amante das Artes, aprendiz na arte de expor a vida como ela é. Cultura e tattoos nunca são demais!

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