- Publicidade -

Moneyboys aborda o retrato de uma juventude em busca dos próprios sonhos

Publicado em:

Produção lançada no Festival de Cannes de 2021, é difícil assistir Moneyboys e não lembrar de Vidas Passadas e Passagens. Como em tais, lidamos com um triângulo amoroso que atravessa um espaço de tempo maior do que o esperado, e que passeia muito mais pela imaginação dos envolvidos do que por sua concretude.

Moneyboys

Neste filme de Ira Sachs restou um protagonista tóxico (embora menos letal que o vivido por Franz Rogowski) que desenvolve uma história a três cujas vítimas são todos os que acabam enredados por ele, inclusive o próprio. Além disso, as elipses temporais compõem o painel de criação narrativa nos três títulos, onde seus membros não aprendem a lidar com os próprios sentimentos, mas pior que isso, devastam à sua volta um punhado de outros quereres.

No que tem de particular, Moneyboys olha para seu meio social geográfico como sendo um espaço de obrigatoriedade genética, onde cada escolha feita, ecoa em tudo que você age. Em Taiwan, principalmente nas vilas remotas onde todos se consideram parentes, existe ainda um lastro familiar que precisa ser cumprido, queiramos ou não. É complexo para um ocidental assistir a essas questões, e encarar com a mesma normalidade que os personagens. Toda ação reverbera nos seus, e mesmo nos dias de hoje, os jovens ainda se conectam a quem veio antes deles através do dinheiro. As cenas de velório, onde grandes quantidades de bens são queimados deliberadamente, impressionam em particular a quem assiste e se encontra em um momento vulnerável.

Dirigido por C.B. Yi e tendo participado da seleção Un Certain Regard do Festival de Cannes, Moneyboys é ambicioso em sua narrativa repleta de arremedos que floreiam para lados distintos. É uma maneira de conquistar várias faixas de espectadores, pois se trata de um campo inesgotável de análise. Temos essa questão familiar quase milenar da produção, temos a homossexualidade tratada com uma sinceridade que a cinematografia asiática não costuma explorar tão frontalmente, temos o retrato de uma juventude em busca de descobrir os próprios sonhos que permanecem soterrados pela sociedade. De comunicação fácil, não deixa de ser um filme profundamente rico de camadas, principalmente porque elas não se sobrepõem e acabam por compor esse amplo painel.

É um diálogo muito franco que o filme abre com essas frentes, buscando nunca julgar seus tipos ou atitudes que cada um toma diante das intersecções do destino. De qualquer maneira, Moneyboys não nos engana tentando mostrar uma visão positiva sobre o quadro que apresenta, aliás, isso não define seus personagens, mas os caminhos traçados inevitavelmente levam a um quadro de melancolia coletiva. Porque efetivamente não está sendo colocada em prática nada do que é seu desejo particular e sim o que se espera de cada um, para corresponder às expectativas alheias. Apesar de ter a consciência de que nada ali está sendo feito da maneira correta, o rumo inevitável se desenha com cada vez mais força.

Yi desenha personagens muito críveis, e acabamos por nos enxergar em uma ou outra decisão, o que contribui para essa costura fácil com o público. Que o elenco vista perfeitamente suas motivações e se comporte com naturalidade espantosa, só eleva os valores de Moneyboys. Além disso, o diretor não se assemelha aos compatriotas que fixam suas câmeras em um ponto estático, embora crie situações onde isso parece acontecer, justamente para em determinado momento, o trilho fazer seu ângulo girar. São nesses momentos onde devemos reparar na entrega desse grupo de atores, que estão compenetrados em cada emoção o tempo inteiro. Isso mostra o comprometimento geral dos envolvidos em cada área, que não perdem o fio dos acontecimentos em nenhum momento.

Moneyboys é um filme cuja temperatura é desafiada o tempo inteiro, com cenas frias em tons monocromáticos, ou quando a quentura bate na atmosfera, com luzes neon e instabilidade da câmera, aliás, essa instabilidade é uma marca da água que perpassa todo o filme, desde o rio caudaloso que o abre, até às chuvas constantes que o adornam, é como se fosse um elo que une as implosões e explosões de cada grupo de cenas. Um longuíssimo plano sem cortes de um jantar de família, tudo o que vem a tona de temas durante essa refeição, os lugares de onde a cena parte e onde ela acaba por chegar, são um portfólio do que vemos na totalidade, uma luta constante dos seres em servir aos seus, ouvir a paixão e decidir quais são os caminhos que menos nos farão sofrer.

Mais Notícias

Nossas Redes

2,459FansGostar
216SeguidoresSeguir
125InscritosInscrever
4.310 Seguidores
Seguir
- Publicidade -