- Publicidade -

Sol de Inverno: Hiroshi Okuyama reflete sobre amizade

Publicado em:

Quando li o release que me foi enviado pela assessoria de imprensa sobre o filme Sol de Inverno, achei que, em um primeiro momento, parecia um pouquinho de forçação de barra chamar o mesmo de “joia escondida do Festival de Cannes”, porém quem sou eu para julgar alguma coisa sem ter visto? Além disso, a  propaganda é a alma do negócio e eu sei como funciona o trabalho de um assessor, pois por um breve período estive do outro lado do fronte. No entanto, quando dei play no link e mergulhei na experiência de assistir ao segundo longa-metragem do cineasta japonês Hiroshi Okuyama, percebi, quase que instantaneamente, que o epíteto não era mera jogada de marketing, mas uma constatação genuína e assertiva em relação àquele conjunto de frames que mal começava a se desenrolar diante dos meus olhos. 

A inspiração para a história que o jovem cineasta, nascido em 1996, decidiu contar foi a música “Boku no Ohisama”, em inglês “My Sunshine”, do grupo folk The Les Humphries Singers. Na trama, o introvertido Takuya (Keitatsu Koshiya), de apenas nove anos, mostra pouca aptidão para os esportes em geral. No outono, joga baseball, com a chegada do inverno, assim como todos os outros meninos da sua faixa etária, se dedica ao hóquei no gelo. Até que, um dia, ele observa a graciosa Sakura (Kiara Takanashi) praticar patinação artística. Seu fascínio não passa despercebido para Hisashi (Sôsuke Ikematsu), um ex-campeão da modalidade e treinador da menina. Assim, convidado pelo técnico, o garoto também passa a se dedicar a patinação. E o resultado surpreende. 

Esta não é uma película sobre esporte, muito embora, confesso, que em um dado momento, me peguei torcendo para saber quais seriam os resultados da dupla Takuya-Sakura, já que Hisashi começa a prepará-los para uma competição que acontecerá em breve. Esta, na verdade, é uma película sobre o doce amadurecimento do jovem protagonista por caminhos inesperados. Não chega a ser uma típica história de coming of age porque o recorte escolhido por Okuyama, que além de dirigir, assinou o roteiro, fotografou e montou toda a produção, é bastante específico e dura o tempo de uma única estação do ano. De qualquer forma, é possível perceber como aqueles poucos meses transformam a vida do personagem principal. 

Paralelamente, o diretor nos apresenta um pouco da vida privada de Takuya e Hisashi. O garoto vive com os pais e o irmão. Nas cenas caseiras, enxergamos a família sempre em volta de uma mesa, fazendo alguma refeição. E o que podemos apreender destes momentos é que sua introspeção não é nem um pouco aliviada pelo rigor do pai insatisfeito com o desempenho esportivo do filho. Já a mãe se preocupa apenas com o fato do menino estar tendo aulas de algo pelo qual eles não pagaram. Por outro lado, o treinador é retratado morando com outro homem. Apesar de ficar claro, desde o princípio, a natureza da relação daqueles dois homens, a confirmação imagética só é fornecida no momento de inflexão da trama, quando acontece uma ruptura acerca de tudo o que tínhamos visto até ali. O desfecho, no final das contas, tem um sabor azedo, contudo, sem ser propriamente desagradável. 

Vocês repararam que eu não escrevi sobre a vida privada de Sakura? Se não o fiz, isso se deve ao fato de muito pouco ter sido mostrado ao longo dos 90 minutos de duração de um Sol de Inverno. Como terceiro vértice do trio de protagonistas, a jovem desempenha um papel relevante na história e no amadurecimento de Takuya. É também por causa dela que temos o momento de inflexão e, apesar disto, sua mãe, por exemplo, é mostrada apenas duas vezes e de uma maneira vilanesca. Não que pessoas como ela não sejam capazes de determinados comentários e atitudes, mas, aqui, no belo texto do diretor japonês, soou quase como algo cartunesco. Mais do que um desejo meu, creio que era necessário que tivéssemos visto mais sobre esta família. Em um filme em que a fotografia remete à um balé glacial, com forte ênfase nos tons de azul, no branco ofuscante e no dourado do sol, esta ausência é a única bola fora, o pecadilho da negligência em uma joia quase perfeita. 

Desliguem os celulares e excelente diversão.

Bruno Giacobbo
Bruno Giacobbo
Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.

Mais Notícias

Nossas Redes

2,459FansGostar
216SeguidoresSeguir
125InscritosInscrever
4.310 Seguidores
Seguir
- Publicidade -