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O Contador 2 traz ação e adrenalina na medida certa

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Qual é a imagem ou a ideia que vocês fazem de um contador? Um profissional burocrático, bom de números, tipo sóbrio que usa camisa de botão abotoada até o gorgomilo e que, geralmente, trata-se de um senhorzinho, muito embora, um dia, ele tenha sido jovem? Eu já trabalhei com um que seguia exatamente esta descrição. Idealizações à parte, o título de O Contador 2, o novo longa do cineasta Gavin O’Connor, com Ben Affleck no papel principal, uma continuação da obra homônima de 2016, pode tapear os incautos que acabaram de chegar, então, vamos logo avisando: aqui não há espaço para chatice e monotonia. Repleto de cenas de ação e muita adrenalina, este é um daqueles filmes para desligar o cérebro, não problematizar e desopilar o fígado após um estressante dia de trabalho. O contador em questão, apesar de bom com os números e sóbrio em sua maneira de se vestir, não tem nada de burocrático! 

Na película de nove anos atrás, conhecemos Christian Wolff (Ben Affleck), um contador, portador de algum tipo de autismo, que na infância foi treinado pelo pai, junto com o irmão, Braxton (Jon Bernthal), em todo tipo de artes marciais, o que faz de ambos duas perfeitas máquinas de matar. Nesta nova aventura, o protagonista é contactado por uma velha conhecida, a agente do tesouro americano Marybeth Medina (Cynthia Addai-Robinson), após o ex-chefe dessa, outro antigo associado de Wolf, Raymond King (JK Simmons), ser assassinado por matadores profissionais desconhecidos. Medina precisa de ajuda para entender o que aconteceu, contudo, a investigação vai esbarrar em uma quadrilha internacional do crime e o caminho dos irmãos cruzará com o de uma assassina (Daniella Pineda) tão letal quanto eles. 

Assim como na obra anterior, O’Connor aposta na ação desenfreada e vertiginosa. Reafirmo o que disse no story logo depois do término da cabine de imprensa, O Contador 2 é pura diversão, entretenimento de primeira e cinema pipoca de qualidade, porém, não se resume a isso. O roteiro novamente assinado por Bill Dubuque, que tem como principal trabalho na carreira a criação da série “Ozark, de 2017 a 2022, que também versa sobre crime organizado, é bem engendrado a ponto de levar o público a matutar sobre os mistérios da trama e o quebra-cabeça que precisa ser desvendado pelo contador. Nada bastante sofisticado, é verdade, porque este não é um filme de plot twists, mas no equilibro certo com as cenas de ação que são, de fato, muito boas e têm em Affleck e Bernthal dois intérpretes perfeitos para os personagens que dão vida.

E por falar em Affleck, o ator que já foi muito criticado por sua falta de expressividade e de carisma, em que pese, na opinião deste crítico, a sua tenacidade às críticas e a busca incessante pelo acerto seja como intérprete ou como diretor, aqui, encontrou um papel que lhe serviu perfeitamente. Wolff é um homem de poucas expressões, que não demonstra emoções durante a maior parte do tempo. Seu olhar, muitas vezes, contempla o infinito de uma forma que ao interlocutor não é possível perscrutar aqueles olhos e, por consequência, descobrir o que passa em sua mente. E a este papel, as características de Affleck que são tidas, na maior parte do tempo, como defeitos,  acabam casando bem com o personagem, ainda que o mesmo (Wolff) tenha evoluído de um longa-metragem para o outro, como mostram duas ótimas tomadas, uma em um encontro às cegas e a outra em um bar, em que ele tenta socializar com estranhos.  

Também no story de O Contador 2, cheguei a dizer que, assim como o primeiro, essa nova película talvez fosse um guilty pleasure, expressão usada quando sentimos vergonha de sentir prazer por alguma coisa. No universo da crítica cinematográfica, isso significa gostar de um filme ruim. Passado algum tempo, confesso que talvez tenha exagerado na hora de dar minhas impressões iniciais. Acontece. De fato, Gavin O’Connor não é o mais hábil diretor da face da terra. Versado em dramas policiais e esportivos, na seara dos primeiros, por exemplo, temos gente muito melhor como Michael Mann. Só que isso não quer dizer que ele não tenha o seu valor. Muito pelo contrário. A direção de O’Connor é firme, principalmente, na hora das cenas de tiro, porrada e bomba, todas bem orquestradas. No final das contas, o que, muitas vezes, nos leva a classificar este tipo de produção como guilty pleasure é a dificuldade de aceitar a veracidade de determinadas situações.

Desliguem os cérebros… Ops! Desliguem os celulares e boa diversão. 

Bruno Giacobbo
Bruno Giacobbo
Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.

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