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Screamboat: Terror a bordo traz versão sanguinária de Mickey Mouse

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Obras clássicas caem em domínio público quando completam cem anos de seu lançamento original, nos últimos anos, muitas das fábulas infantis têm conseguido um espaço longe dos domínios de Walt Disney, com suas bases alcançando esse lugar universal, dessa forma, nenhum outro gênero tem se aproveitado mais da brecha que o terror, que co-opta para suas cercanias muitas das histórias que lemos desde a infância. Aliás, o que mais ‘viralizou’, por assim dizer, foi o Ursinho Pooh, que já rendeu dois longas – e um terceiro vem aí, criando um multiverso entre tais filmes. Uso a expressão viralizar, porque sucesso é um conceito que não se aplica a essas produções; são filmes assumidamente trash, e a ideia de que produções desse segmento estão aportando nos nossos cinemas, não deixa de carregar uma curiosidade mínima, além de oxigenar o circuito com outras propostas. 

Screamboat

Screamboat: Terror a Bordo estreia essa semana e é um desdobramento dessa ideia. Porque trata-se não apenas mais de um título que pegou carona nos contos que a Disney imortalizou, e sim da bebida em uma obra própria do estúdio. Aliás, em 1928, o próprio Walt dirigiu um curta-metragem de menos de 8 minutos ao lado de Ub Iwerks, chamado Steamboat Willie; o filme é, oficialmente, a primeira aparição animada de Mickey Mouse e sua namorada, Minnie.

O longa de Steven LaMorte é uma versão sanguinolenta da premissa apresentada ali, todo atualizado para os dias de hoje e reimaginando os parcos conflitos de uma produção curta para outros padrões, incluindo o acréscimo de personagens e um sem número de trágicos eventos, para justificar sua feitura. 

Diferente de outras produções recentes (porque temos encontrado por aí, além do Pooh, Cinderela, Alice e até o Grinch – inclusive é a inspiração do filme anterior do diretor, O Malvado), Screamboat: Terror a Bordo consegue alguma coerência dentro do cinema que representa. O público das salas de circuito não recebe esse tipo de produto, e justamente por isso não tem a liberdade de apreciação para os parcos valores apresentados. Mas como ouvi de um realizador há pouco tempo, existem muitos filmes pouco nobres, pouco valorosos e pouco importantes, que também merecem nosso debruçamento. Porque o cinema também é feito de baixos custos, de precariedade e de mau gosto; na última questão, esse filme é repleto, e não estou falando do toque ‘gore’ nas imagens. 

Dentro do que vem sendo feito nos títulos apresentados por essa sub-seara onde títulos infantis são subvertidos ao horror, Screamboat é um achado. Porque sabe rir de si mesmo, acima de tudo, e não pretende vender uma ideia conceitual que tente justificar sua pobreza estética. Dentro do que poderia ser apresentado inclusive, compreende-se que o filme vai além de suas capacidades, e com ideias que são igualmente criativas, como a utilização do assobio. O personagem protagonista do curta animado cantarolava uma melodia que é repetida aqui da mesma forma, e que não representa nada além do que de fato é – uma referência carinhosa de um título bastante malcriado. 

Com os recursos limitados como se imagina, podemos nos surpreender de verdade com sequências bem elaboradas, como a da inundação do navio (possivelmente uma maquete, mas que não suja a imagem). Screamboat não aproveita todo o seu potencial de alcance, e acaba com boa parte do elenco em uma cena preguiçosa, quando poderia ter sido mais detalhista e pontual em cada crime. Ou seja, o filme não está livre de críticas acerca não das suas capacidades, mas mesmo do que de pequeno poderia alcançar, e em muitas saídas, encontramos a ineficácia de seu autor em resolver os problemas gestados por uma produção, ainda que diminuta. Ou seja, o próprio filme, cuja simpatia é inegável, também não nos deixa esquecer a respeito de que nasceu para orgulhar-se de seus “defeitos”. 

Ao longo da duração, o filme une o espectador que gostava de coisas infames como Rato Humano Aligator, ao público mais jovem que vive ligado nas redes sociais, porque o filme funciona como um manancial de referências. Como não pode pagar pelas mesmas, tudo está entrelinhas: a roupa da Minnie, a autoria das canções, a cartela que abre com a citação de um tal ‘Walt D.’. É um compêndio de elementos que traduzem os autores de Screamboat: Terror a Bordo, pessoas cujo amor pelo que fazem é inversamente proporcional às suas capacidades. A cereja do bolo é o personagem central ser feito David Howard Thornton, simplesmente o homem por trás de Art, o palhaço de Terrifier; não poderia estar mais conectado ao público que, por um acaso, se interessar por essa salada sangrenta e irregular. 

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