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Juntos traz atmosfera de terror, com crise conjugal

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Se você está se iniciando na cinefilia agora, talvez nunca tenha escutado falar em body horror, uma expressão utilizada para designar um determinado subgênero de filmes de terror. Horror corporal, em tradução literal, ela se refere às obras que exploram a fragilidade do corpo humano, mostrando, de uma maneira crua, transformações, mutilações ou violações bastante perturbadoras. Aliás, se enquadram nesse grupo produções clássicas como A Mosca (1986), Crash: Estranhos Prazeres (1996) e, mais recentemente, A Substância (2024), uma das sensações da última temporada de prêmios rumo ao Oscar. Quem também se encaixa nessa categoria, e almeja o mesmo sucesso, é o longa-metragem Juntos, dirigido pelo cineasta australiano Michael Shanks. 

Na trama, Millie (Alison Brie), uma professora de Inglês, consegue um emprego no interior e se muda para uma bucólica cidadezinha acompanhada de seu namorado de longa data, o músico Tim (Dave Franco). Um pouco antes da viagem, durante uma festa de despedida, na presença de vários amigos, ela o pede em casamento e ele trava. Assim, a chance de se mudarem para um lugar onde não conhecem ninguém, talvez seja também a uma oportunidade deles se reconectarem. Uma vez lá, eles são recepcionados por Jamie (Damon Herriman), um professor de História que leciona na mesma escola em que Millie trabalhará em breve. 

Roteirizado pelo próprio Michael Shanks, o longa-metragem Juntos trabalha o mise-en-scène de forma a construir toda a tensão que se espera da história, paulatinamente, até chegar ao píncaro do enredo. Logo em um de seus primeiros dias na cidade, o casal, seguindo uma sugestão de Jamie, decide explorar uma das muitas trilhas da região e acaba se perdendo devido a uma forte chuva. Para piorar, eles caem em uma gruta que, na verdade, é uma espécie de igreja antiga, só que afundada no solo. Os ornamentos nas paredes são ricos e um grande sino badala parcimoniosamente conforme o ritmo das correntes de ar que entram no recinto. O aguaceiro do lado de fora é tão intenso, que eles decidem pernoitar ali e sair somente no dia seguinte. E, com sede, acabam por beber a água de um pequeno e estranho riacho. 

Com uma campanha de divulgação que tem como mantra a frase “o melhor filme de terror do ano”, Juntos sabe exatamente o lugar que pretende ocupar na próxima temporada de prêmios, o mesmo que um dia já foi ocupado por Corra! e A Substância. Para isso, rezando pela cartilha do body horror, o longa quase não faz uso do estratagema do susto pelo susto. São pouquíssimas as cenas que utilizam a técnica de jump scare. E não é que ela não seja empregada, mas há momentos certos para ela e esses são poucos. De resto, o impacto que o horror proporciona e provoca no público vem da deformação pela qual os corpos de Millie e Tim passam ao longo dos 102 minutos de sessão. Aqui, cabe um baita elogio à maquiagem e aos efeitos visuais e especiais de toda a produção.  

A escolha de Alison Brie e Dave Franco para estrelar Juntos, por motivos óbvios, foi mais do que acertada. Eles são casados na vida real. Este combo, marido e mulher interpretando marido e mulher na ficção, geralmente é uma fórmula de sucesso. Exemplos não faltam: Emily Blunt e John Krasinski, na franquia de terror Um Lugar Silencioso, ou até mesmo em obras de comédia, como Lara Tremouroux e Felipe Frazão, em O Combinado Não Sai Caro. Esse combo traz para dentro da ação sentimentos e reminiscências do dia a dia. A química entre Alison Brie e Dave Franco é bastante visível quando estão brigando ou quando estão ensaiando um retorno aos bons termos daquela relação marital. 

Juntos, assim como outros ótimos filmes de terror e horror, utiliza muito bem os medos cotidianos como combustível, construindo, assim, muitas vezes, metáforas sobre justamente o que nos assusta na vida real. Existem dois medos muito comuns em casais que estão juntos há bastante tempo: o de se afastarem, deixando de se interessar um pelo outro e o de perderem suas individualidades. Millie e Tim passam por essas duas situações, com todos os seus problemas e os temores que elas provocam. No início do filme, estão distantes. Essa é uma das razões para a mudança. Mais tarde, de um jeito nada metafórico, começam, aos poucos, a perderem as tais individualidades. E o que poderia ser a resposta para o primeiro medo pode acabar se tornando um problema. Será que juntos eles conseguirão sobreviver a essas turbulências matrimoniais? 

Desliguem os celulares e excepcional diversão. 

Bruno Giacobbo
Bruno Giacobbo
Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.

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