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Artista do Desastre redefine o conceito de metalinguagem

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Lançado em 2003, o filme The Room rapidamente ganhou um status cult ao ser considerado o Cidadão Kane dos filmes ruins. Muito se falou do filme e principalmente de seu criador o excêntrico Tommy Wiseau que até hoje vive da fama conseguida com seu filme. O impacto de The Room na cultura pop atual é tão forte que 14 anos após o seu lançamento o ator e diretor James Franco resolve levar para os cinemas o filme O Artista do Desastre, que mais do que um tributo a um dos mais adorados piores filmes já feitos, é uma história de amizade e de busca dos sonhos.

O longa conta a realização de The Room pelos olhos de Greg Sestero (Dave Franco), um jovem ator que luta por um espaço no show business, quando em uma de suas aulas de atuação na cidade de São Francisco ele conhece Tommy Wiseau (James Franco), um excêntrico e misterioso homem que mostra muita intensidade em suas cenas e parece não ter medo de se arriscar. A confiança de Tommy atrai Greg e eles rapidamente começam uma amizade.

São nesses momentos que o filme ganha sua força, pois as melhores cenas estão sempre nas interações de Greg e Tommy, todas as diferenças nos personagens que juntos se completam. Mostrando todo o carisma e química, os irmãos Franco, pela primeira vez, protagonizam juntos um filme e conseguem representar todo o coração que existe na relação dos dois aspirantes a atores, mas sem deixar de mostrar todos os limites sendo ultrapassados na estranha relação de Greg e Tommy.

Sonhando sempre com sucesso e reconhecimento, os dois inspirados pelo ator James Dean resolvem seguir os seus sonhos e se mudam para um apartamento de Tommy na cidade de Los Angeles. Após um tempo tentando vencer em Hollywood, Greg ainda buscava por uma grande oportunidade, quando Tommy surge com o roteiro do agora icônico filme. Mesmo sem experiência e conhecimento para comandar uma produção Wiseau resolve bancar de seu bolso toda a realização do filme e assim começa uma das mais excêntricas produções na história de Hollywood.

Os fãs do filme encontram no segundo ato um prato cheio, repleto de cenas que recriam e mostram os bastidores de alguns dos momentos mais icônicos do filme. Criando momentos que redefinem o conceito de metalinguagem, eles mostram todo a loucura por trás da produção, indo a fundo na revelação por trás de cada péssima escolha criativa feita por Wiseau.

Sabemos que James Franco sempre foi um artista fascinando por todo tipo de artes performáticas e com isso ele entra de cabeça na composição de Tommy Wiseau. Franco acerta os maneirismos, sotaque e caracterização desse que pode ser considerado o Ed Wood contemporâneo. Além disso a atuação não transforma Tommy em piada em nenhum momento, o que é difícil na criação de um personagem tão peculiar igual a esse. Ele é sim engraçado, mas existe uma vulnerabilidade por trás do personagem e o ator consegue transparecer isso muito bem em sua interpretação.

Já Dave Franco não deixa a bola cair, mas mesmo entregando uma boa atuação ele ainda não conseguiu sua oportunidade para ultrapassar seus limites como ator, mas caindo mais uma vez no papel de simpático e divertido amigo do protagonista, papel esse que persegue a carreira do mais novo dos irmãos Franco.

Sem dúvidas o público não precisa ter assistido a The Room para se divertir e entender as loucuras da produção mostrado no filme de James Franco, mas com certeza ajuda na experiência. Afinal, é interessante ver as referências e piadas no filme que foram aproveitadas na obra de Wiseau, inclusive o personagem de Seth Rogen (o supervisor de roteiro Sandy Schklair) serve para dar uma voz ao público, sempre questionando as decisões de Tommy assim como qualquer um que assiste ao filme.

No final, O Artista do Desastre é um divertido e peculiar retrato sobre amizade e as ambições no mundo do cinema, que com certeza vai agradar até mesmo aqueles que não vem graça nos absurdos da obra original de Tommy Wiseau. Sendo ironicamente ótimo filme feito para homenagear um péssimo filme.

 

Renato Maciel
Renato Maciel
Carioca e tijucano, viciado em filmes, séries e tudo envolvendo cultura pop, roteirista e estudante de cinema, podcaster no Ratos de Cinema

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