Dogville: Um espelho humano sobre reflexos ideológicos

Adaptação do filme de mesmo nome de Lars Von Trier, DOGVILLE, de 2004, retrata o labirinto complexo que o ser humano pode ser. Em um insalubre vilarejo, a visão apocalíptica de Lars repete a de Bertold Brecht, que indaga as razões da sofreguidão com que os circunstantes retalharam sua carne, trazendo doentias relações humanas.

Visceralmente desconfiados, a comunidade onde Grace se encontra, a usa para poder escondê-la, provocando futuramente em abuso e desprezo. Grace (Mel Lisboa) chega de forma ingênua, e assim conquista Tom (Rodrigo Caetano), um filósofo em formação e futuro escritor. Porém ele é o único que parece querer realmente seu bem. Ela é justamente o contraponto de tudo que existe ali, bem vestida, mulher de porte e bem educada, que se coloca à prova pela sobrevivência. Um jogo perverso se instaura entre os moradores da cidade e a bela forasteira.

A moralidade Vs. a consciência, a sensibilidade moral Vs. a desvalorização humana, a peça traz um discurso simétrico ao filme que assombra a contemporaneidade. As patologias do processo civilizatório e o preço que pagamos para socializar são colocados em cena, assim como em “O Mal-Estar na Civilização” de Freud. Domínio Vs. Sobrevivência adentram ao cenário cinzento e apoteótico, onde os atores (sem exceção) exibem com excelência as fraquezas do homem.

A expectativa do indivíduo desempenha um papel difícil de avaliar, mostrando ser dependente de fatores puramente pessoais seja pelo sucesso ou fracasso. Assim o filme e a peça traçam um estudo social de campo, onde a ideologia existencialista traz a responsabilidade do homem sobre seu destino e no seu livre-arbítrio.