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Rashid fala sobre as mudanças fonográficas no Rap

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O garoto da periferia reconhecido no Brasil e internacionalmente pelo flow  ultrapassou barreiras de classe ou raciais, com ritmo e poesia sobre a verdade crua em seus versos.

Com um  discurso consagrado pelo público, Rashid tem em sua discografia, uma coleção que agora soma sete títulos (entre EPs, mixtapes e álbuns) e marca as diversas linhas do tempo na história do artista, história que ganhou livro escrito por ele, inclusive, e em 2019, completa 12 anos de carreira.

Você lançou seu primeiro livro em 2018, onde você revisita o seu repertório enquanto reconta sua trajetória até o ano de 2014. Como foi o processo de criação do livro? Nesse percurso como você vê a evolução do seu trabalho com relação ao publico?

Foto: Tiago Rocha

Rashid – Escrever este livro foi uma das experiências mais legais da minha carreira. É um processo um tanto quanto solitário e delicado, mas essa viagem no tempo que revisitar as músicas me proporcionou foi incrível.

Olhar tudo aquilo que escrevi naquela época, da perspectiva atual de hoje, e continuar concordando, acreditando e gostando da maioria das coisas, me deixa feliz com minha trajetória. Óbvio que minhas ideias amadureceram muito, até mesmo o approach amadureceu, mas olhar pra trás e se orgulhar do seu caminho é uma sensação maravilhosa.
Sem contar a nostalgia.

Acho que o público que me acompanha a mais tempo, sente a diferença entre as fases do Rashid, até porque eles amadureceram junto. Sinto que meu caminho artístico foi bem sólido até aqui, quando olho pros fãs que me seguem desde os seus 16/17 anos e hoje já passaram dos 20 e estão na correria do trabalho ou faculdade, escutando Rashid.

A música e a poesia tem um processo muito importante na sua vida. Você poetiza em versos musicais uma realidade que muitos não querem ver, qual é a importância disso no seu trabalho e no seu processo de construção como pessoa?

Foto: Gabriel Camacho

Rashid – Na minha visão, todo mundo deveria ter essa sensibilidade, de enxergar os problemas ao seu redor, que te afetam ou não. Um grande erro das pessoas é “calcular” a realidade do outro a partir da sua própria experiência, isso é o que causa a maioria dos comentários idiotas que lemos/ouvimos hoje sobre “racismo não existe”, “mimimi”, etc.  Então, na minha música, tento expor minhas experiências de uma forma transparente, usando referências que me ajudam a desenhar isso. No meu entendimento, a partir daí, por mais que o (a) ouvinte não viva a mesma coisa, ele(a) pelo menos passar a saber que aquela questão existe. E as pessoas que passam pelas mesmas coisas, se identificam naturalmente.

Nem sempre aquilo que colocamos na música é sobre nós mesmos, as vezes são histórias de pessoas próximas, familiares ou amigos. Outras vezes, são histórias criadas pra exemplificar um tema específico. O mais importante é a mensagem final, que nem sempre é sobre dor, muitas vezes é sobre a riqueza do gueto também.

O mercado musical do Rap vem mudando há algum tempo, como você vê essa mudança? E o mercado atual?
Rashid – O mercado do Rap vem crescendo muito. Hoje inclusive, nos damos ao luxo (e a alegria) de chamar de mercado, não é mais uma cena, um nicho. Claro que tem muita coisa pra mudar e muito dinheiro ainda precisa entrar pra se aproximar do POP ou Sertanejo. Isso em relação a estrutura, porque em questão de números nas plataformas, o Rap está lado a lado com os ritmos de massa. Aliás, o Rap é um ritmo de massa já.

 Cada musica tem um processo de criação diferente? Como é o seu processo de criação? Tem algum ritual?
Rashid –Não tem um ritual específico, as músicas as vezes nascem no meio das viagens, nos camarins de shows e por aí vai. Mas na maioria esmagadora das vezes, eu paro conscientemente pra fazer música. Tipo “preciso escrever aquele letra”, então vou pro meu escritório e só saio de lá quando a música nascer, de preferência.

Fazer música, não é algo que depende da inspiração apenas, é como um trabalho ou um esporte. Você precisa praticar pra ficar bom, precisa treinar, estudar e parar tudo pra criar.
Eu não sou muito adepto da ideia do ócio criativo, já acho que na vida de quem faz arte (e de qualquer um que trabalha com sua criatividade), todo momento é criativo. Tudo pode virar arte, e vai.

Gostaria de saber sobre as próximas parcerias.
Rashid – Nesse momento, tô trabalhando no meu disco novo. Tem single novo já pra janeiro e o disco deve vir lá pelo meio do ano. Pra quem curtiu a “Bilhete 2.0”, tem mais uma parceria com o Luccas Carlos no trabalho novo, mas essa música não tem nada a ver com o clima de bilhete. Sobre as outras participações, ainda estou pensando. Tudo depende do que as música pedem.

Você pretende misturar gêneros musicais como eletrônico e Rap?
Rashid – To sempre misturando, na medida do possível. O Samba e o Funk, por exemplo, tão sempre permeando tanto as composições quanto os instrumentais. Nesse disco não será diferente.

Acabamos de lançar uma parceria entre Fresno, Caetano Veloso e eu. Uma baita mistura! Quando a gente sente a música, a mistura é sempre válida.

A internet e as plataformas digitais são cada vez mais usadas no processo de criação e divulgação de novos artistas. As plataformas de streaming criaram um novo mercado de distribuição e publicidade. Qual é a importância das plataformas de streaming na construção da sua carreira?
Rashid – Quando comecei a lançar músicas, o mercado estava migrando do CD para o download. Já cheguei a vender 10 mil cópias de um disco e a ter 100 mil downloads na primeira semana num lançamento, o que em 2011/12 era um grande feito. Principalmente pra um artista independente e de Rap. Tudo mudou de lá pra cá, mas acho que nós soubemos nos adaptar.

Em 2017, lançamos o projeto “Em Construção”, colocando uma música por mês (com videoclipe) na rua. Isso fez nossos números nas plataformas subirem absurdamente e tudo isso culminou no disco “CRISE”. Foi uma excelente estratégia, mas pro próximo disco, já queremos encontrar um caminho que também engaje as pessoas mas seja diferente.
Vivemos um momento em que os(as) artistas precisa pensar, e muito, pra colocar sua música na rua, porque muita coisa é lançada toda semana. Então você precisa encontrar sua forma de aparecer em meio a isso.

As plataformas democratizaram o acesso e o sucesso, não é necessário estar numa gravadora pra bombar uma música nos players. Isso é incrível. Mas ainda há muita coisa pra ser acertada nesse meio do caminho, a relação artista x plataforma ainda precisa ser mais próxima e transparente.

O reconhecimento do seu trabalho já existe e é gratificante, junto com ele veio a fama. Como você lida com ela? Mudou alguma coisa na sua vida?
Rashid – Eu sou muito tranquilo em relação a isso e a vida segue. Sou um operário da música, minha parada é essa. É muito comum as pessoas me pararem na rua enquanto estou caminhando, correndo ou andando de bike. Ando muito pelo meu bairro.

Mas o momento que vivo é tranquilo também, porque muita gente me reconhece mas é tudo muito suave, respeitoso e eu tenho meu espaço. Já a Taís Araújo deve sofrer um pouco se for ao mercado (rs).Quando eu chegar nesse patamar, vai ficar mais difícil, mas eu sou um cara da rua. Tá tranquilo.

Alê Shcolnik
Alê Shcolnikhttps://www.rotacult.com.br
Editora de conteúdo e fundadora do site, jornalista, publicitária, fotografa e crítica de cinema (membro da ACCRJ - Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro). Amante das Artes, aprendiz na arte de expor a vida como ela é. Cultura e tattoos nunca são demais!

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