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“Branca” transporta o espectador para a contemplação do drama alheio

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Em nova incursão pelo poética teatral e investigação sobre a afetividade familiar, Ivan Sugahara descortina o texto inédito de Walter Dagerre, contando com o profissionalíssimo trabalho de Ludmila Wischansky, José Karini, Julia Stockler e Karen Coelho.

A criação de clima idílico, inicialmente, é muito competente. O grande êxito da apresentação do conflito é o de transportar o espectador para a posição da contemplação do drama alheio – em ambiente favorável à maximização do fenômeno teatral.

“Branca” conta a história, baseada em caso verídico, de uma mulher que, ao receber anestesia na cadeira do dentista, sofre um choque anafilático e perde a memória. A partir daí, seu marido e sua filha passam a lidar com o descolamento e a estranheza daquela mulher em relação ao espaço familiar. Suas lembranças de afetos e acontecimentos naquela vida não existem mais e a personagem central passa a encarar um tratamento psiquiátrico para recompor sua memória e funcionalidade no lar.

Ao perpassar as dores desta família, questionamentos são propostos pela dramaturgia de Daguerre: o retrato do drama ganha bases mais realistas e são descortinadas várias camadas de linguagem, sem muito apego à forma ou a gramática convencional. São feitas inserções em terceira pessoa e há uma segmentação de cenas, por meio de blackouts sucessivos. A concepção de Sugahara também é imprescindível para a criação de uma poética própria. Utiliza-se de vários estilos em um só concerto.

São explorados o universo da memória afetiva, celular, muscular e a fática. Questões de caráter e de formação da personalidade do indivíduo também são suscitadas. Há grande virtude na composição de todo o espetáculo. As performances dos atores também não decepcionam: Karen Coelho revela uma psiquiatra com muitas faces; Julia Stockler é a filha com seus dilemas de adolescente e demonstra muita consistência relacional com a mãe e José Karini, o esposo e pai, parece encarnar com densidade as demandas de um homem esquecido.

Quanto a Ludmila Wischansky, pode-se dizer que cuida muito bem da personagem que e de seu encontro com o público. Em seu exercício de resistência como artista, dá o tom da dinâmica espetacular e consegue preencher as nuances exigidas por um conflito tão desafiador. A construção e a reconstrução da identidade desta mulher imersa na escuridão é inquietante. A peça já é um projeto bem sucedido.

SERVIÇO:
BRANCA
Local: Teatro Glaucio Gill (Praça Cardeal Arco-Verde, s/n – Copacabana)
Temporada: de 6 a 29 de maio.
Apresentações: de sexta a segunda-feira, às 20h.
Ingressos: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).
Duração: 90 minutos.
Classificação indicativa: 14 anos.

Foto: Renato Mangolin

Felipe Mury
Felipe Mury
Felipe Mury é ator formado pela Casa de Artes de Laranjeiras e bacharel em Direito pela UFRJ. Amante das Artes Cênicas, especializou seu olhar em relação ao Teatro, sendo uma ficcionado por Shakespeare e Brecht.

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