Elenco e diretor de “A Glória e a Graça” falam sobre o filme

Graça é uma mãe solteira que trabalha com medicina alternativa e faz o que pode para se dividir entre o trabalho e os dois filhos. Quando descobre estar com um aneurisma cerebral impossível de ser operado, seu mundo desaba. Sem família ou qualquer pessoa para cuidar dos seus filhos, no eventual caso de sua morte, Graça resolve ir atrás do irmão, Luiz Carlos, que não vê há 15 anos, por conta de uma briga. Quando se encontram, Graça é surpreendida ao se deparar com Glória – uma linda travesti, que deixou de ser Luiz Carlos há alguns anos e agora diz viver uma vida completa, como dona de um restaurante em Santa Teresa.

Drama com alguns alívios cômicos nos diálogos, “A Glória e a Graça” apresenta os dilemas do transgênero, na qual o diretor Flávio Ramos Tambellini constrói um drama delicado, sobre a aceitação das diferenças e a possibilidade de novas configurações de família.

Sandra Corveloni que faz a irmã de Glória, Graça conta como foi fazer o filme. “É muito emocionante finalmente estar aqui. Muitas coisas aconteceram. Esse filme é o resultado de uma história de amizade das irmãs que correm vidas paralelas e se encontram no final e é a espinha dorsal do nosso filme. É uma história de reencontro. De amor e de perdão.”

A proposta do filme funciona, mesmo com um roteiro didático, “A Glória e a Graça” apresenta um mundo de sutilezas fugindo do estereotipo. Cabe a Carolina Ferraz brilhar em cena com uma ótima caracterização e emocionante atuação.

A história do filme existe há 10 anos, contou o roteirista Mikael de Albuquerque. Durante esse tempo o roteiro foi mudando e ganhando influencias de “Volver” de Almodôvar tanto na fotografia quanto no roteiro, “Transamerica” (estrelado por Felicity Huffman) na caracterização da personagem e “As Filhas de Marvin” (com Meryl Streep, Leonardo DiCaprio e Diane Keaton) na relação familiar.

Mikael conta que foi muito bem recebido por Carolina com a proposta do filme, que topou de primeira fazer o longa. “A Carolina queria fazer o papel da travesti antes de eu falar qual seria o papel dela no filme o que foi ótimo. Tenho muito orgulho do nosso projeto e de ele ter ganho vida própria.”

Alias, Carolina Ferraz contou que não usou de influencias cinematográficas “Quis faz um personagem muito particular”, acrescentando “O processo era transformar a Carolina num homem para depois transforma-lo em uma mulher”. Carolina acrescenta: “Eu sempre quis me libertar, transcender como artista”.

Carol Marra que interpreta a melhor amiga de Glória,comentou a importância da obra: “Como mulher trans eu me vejo na tela pela primeira vez através da personagem da Carolina Ferraz. Esse filme veio em um momento importante onde a morte de um travesti não é noticiada. Gostei da oportunidade que me foi dada.”

A direção de fotografia chama a atenção junto com a montagem e a trilha sonora, com cores saturadas que dão a impressão de estarmos num universo fantástico, Tambellini filma suas cenas multicoloridas com os enquadramentos mais fechados se limitando as protagonistas, praticamente. Cabe a trilha dar um tom melodramático.

O filme foge da questão jurídica, nesse quesito, tudo acontece superficialmente e o diretor explica: “é mais fácil fazer um filme sobre os Correios” complementando: “Sempre quis fazer um filme de 1 hora e 30, não uma tese, eu costumo definir o filme como um melodrama”.

O filme foi rodado em quatro semanas. “A Glória e a Graça” estreia dia 30 de Março nos cinemas e vale a pena ser conferido. É daqueles filmes bonitos de se ver, capaz de emocionar o espectador.