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Novo filme de Philippe Grandrieux, “Apesar da noite” chega aos cinemas

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O tema sexo já foi trabalhado a exaustão durante a história do cinema, dos anos sessenta com “Belle de jour” até os idos dos anos dois mil com “Ninfomaníaca”, tendo recebido enfoques no que concerne a drama, romance, terror e comédia. Entretanto as abordagens dificilmente variavam, ficando sempre com a narrativa de como o casal principal se conhece e quais os trajetos individuais deles até culminar no clímax.

Em “Apesar da noite” ( Malgré la nuit) o diretor Philippe Grandrieux narra a historia de Lenz (Kristian Marr) que volta à Paris com o objetivo de encontrar Madeleine, uma mulher pelo qual ele ficou obsessivo, e nesse meio tempo ele conhece duas mulheres: Hélène (Ariane Labed) e Lena ( Roxane Mesquida). Ambas mudarão sua vida para sempre.

Antes de mais nada é bom ressaltar que o diferencial da obra é o modo como Grandrieux conduz a narrativa. O diretor lança mão do estilo tradicional de historia gradativa ( inicio/meio/ fim) bem delimitados, e propõe uma colagem de situações no lugar.

Melhor dizendo, muitos pontos da narrativa são deixados propositalmente de lado (como Lenz conhecendo Madeleine, ou como quando ele conhece Hélène) para que o espectador possa imaginar como tais coisas aconteceram. A passagem de tempo também é deixada de lado pois não se estipula quanto tempo durou determinada relação entre os personagens, em uma tomada eles estão juntos e em outra separados.

Assim como lança mão de uma linguagem nova, o diretor trabalha com o conceito do sexo de forma incomum. Aqui todos os personagens possuem suas próprias obsessões e todos eles são, por consequência, reféns do ato sexual, não há amor ou qualquer sentimento puro envolvido. Lenz, por exemplo, faz amor com Hélène e Lena mas sua mente está voltada para Madeleine, Hélène está presa a uma relação que não a satisfaz, o que a obriga a buscar experiências sexuais mais intensas e perigosas para que ela possa sentir algo e Lena é a garota quem sempre teve tudo o que quis e para manter Lenz por perto ela tenta “ acorrenta-lo” com o sexo.

Curioso também é a forma como os cenários são trabalhados durante a produção, nota-se que os personagens pouco interagem com eles ou que eles são pouco explorados durante os tempos de cena, muito pelo fato da câmera focar muitas vezes em takes compactados nos atores em destaque, deixando muito pouco espaço de tela para o ambiente no entorno.

Por fim, “Apesar da noite” é um drama que tenta escapar do lugar comum reservado a filmes de relacionamento. A todo momento Grandrieux quer deixar, da forma mais explicita possível, que sexo não se trata de amor e sim uma disputa de poder entre os praticantes, prova disso são certas cenas sado-masoquistas filmadas de maneira a simular um filme snuff ( estilo de filme em que tudo o que foi filmado aconteceu de verdade). Ao mesmo tempo a linguagem narrativa inédita abre margens para o espectador poder montar a sua própria interpretação da história e dos personagens, julgando-os pelas suas ações. Além de impactante, “ apesar da noite” também é um tributo a movimentos como a Nouvelle vague (francês) e à New Wave (britânico) por saber trabalhar com elementos historicamente controlados pelo conservadorismo.

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