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“Poesia Sem Fim” uma obra surrealista e autobiográfica de Alejandro Jodorowsky

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Poesia com imagem e som, essa é a melhor maneira de descrever o belo “Poesia Sem Fim”, o mais novo filme do diretor chileno Alejandro Jodorowsky, que aqui volta a misturar fatos com ficção em uma obra surrealista e autobiográfica que homenageia através da sua história a herança artística do Chile.

O longa é uma continuação de “Dança da Realidade” que o diretor lançou em 2013 e contava as histórias de sua infância na cidade de Tocopilla, Chile e mostrava a rígida criação que ele recebia de seu pai Jaime, um comunista que trabalhou para Stalin. Já em “Poesia Sem Fim” vemos Alejandro em sua juventude, no momento em que se libertou de todas as suas amarras, como família e limitações, e buscando seu sonho de se tornar poeta foi introduzido no principal círculo artístico boêmio dos anos 40, no Chile.

Jodorowsky que está com 88 anos mostra a lucidez e a capacidade de mesclar diversos elementos diferentes que envolvem a arte na trama: a literatura, a dança, a música, as artes plásticas. Tudo é arte na mão do diretor que consegue transformar o filme em uma verdadeira exposição artística, nesta produção que foi totalmente financiada pelo Kickstarter. A verdade é que muitos podem ver esse como o filme mais acessível do diretor, mas nem por isso o flerte com o surrealismo e a inspiração no teatro para criação de um espetáculo visual e repleto de significados profundos, que foge do cinema padrão, foi deixado de lado.

Um filme delicado e muito pessoal, sendo esse um elemento refletido até na escolha de seus filhos para o elenco, enquanto Adan Jodorowsky interpreta o pai na fase adulta, o irmão Brontis Jodorowsky interpreta o avô, Jaime. O próprio Alejandro aparece em cena para falar de si mesmo, dirigir os atores diante das câmeras, e servir como voz da experiência mandando mensagens e conselhos ao seu eu no passado.

Outro fator interessante apresentado no filme são as construções dos signos na construção artística, como o fato de Alejandro cortar uma árvore no quintal de sua família no momento em que deseja deixar tudo para trás, ele está cortando os laços com sua árvore genealógica. Isso também é representado na hora de traçar o nível do inconsciente do protagonista que é acaba tendo um literal complexo de Édipo, onde a atriz Pamela Flores da vida a Sara e Stella, a mãe e a amante/musa inspiradora de Alejandro, que ironicamente se configura numa interessante metáfora visual.

Sem dúvidas um brinde a vida desse que é um dos grandes artistas ainda em atividade, que consegue apresentar obras com uma qualidade rara e sempre mostrando o melhor da composição de diferentes elementos artísticos, fazendo de Jodorowsky e de sua “Poesia Sem Fim” um deleite para os amantes de arte em geral.

Renato Maciel
Renato Maciel
Carioca e tijucano, viciado em filmes, séries e tudo envolvendo cultura pop, roteirista e estudante de cinema, podcaster no Ratos de Cinema

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