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Maria – Não esqueça que eu venho dos trópicos

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Maria – Não esqueça que eu venho dos trópicos apresenta parte da trajetória de Maria desde seus estudos na Europa com Oscar Jespers, em Bruxelas, e sua relação amorosa com Marcel Duchamp, outro grande expoente das artes. O novo longa da Pandora filmes explora através de entrevistas a vida dessa mulher que além de mergulhar na área das artes plásticas, também era embaixatriz e recebeu grandes personalidades como a Rainha Elizabeth. As influências e a vida de uma pessoa que colocava tanta expressão em suas obras são contadas neste documentário.

O surrealismo é um movimento artístico que rejeita a lógica criando peças que mostram a importância do inconsciente na criatividade humana. Salvador Dalí, Joan Miró e Alberto Giacometti são alguns dos grandes nomes dessa era, porém um nome parece ter ficado esquecido por um tempo e reconquistado um espaço de mérito que já deveria ser seu por direito. Maria Martins, escultora, gravurista, pintora, desenhista e escritora conhecida por seu talento ganha um documentário com estreia dia 16 de novembro.

Toda a história é ilustrada pelas produções que saíram da mente criativa de Maria, e a edição curada pelo diretor Francisco C. Martins, coloca em bom lugar, o público, que acompanha as histórias contadas pela filha de Maria, e por tantos estudiosos de sua vida. A combinação dos relatos com as produções contribui para a valorização da artista no momento em que explica os diferentes níveis da construção, desde a física e material até as vivências que a levaram a construir tal obra. “O Impossível” é uma de suas esculturas mais famosas e mostra traços de sua relação com Duchamp quando coloca duas criaturas que se assemelham a plantas carnívoras se aproximando um do outro quase que magneticamente. Feita em bronze, a obra se encontra agora no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.

Durante o doc é também introduzido a questão do feminismo e do quanto Maria representou ainda nos anos 1940, uma força inspirada, que detinha seus próprios valores e não se permitia ser negada pelo machismo da época. Muito se fala que ela era inspirada por Duchamp, mas como o curador Celso Frateschi defende durante o longa, ambos tiravam inspirações de si próprios, mas se auxiliavam mutuamente. Contudo, pensar que ela era a “inspirada” e ele a “inspiração” seria um pensamento machista incutido nas mentes.

Um dos momentos mais interessantes do documentário é sobre a viagem da embaixatriz à China, em que conversou e se aproximou bastante de um mestre budista que a ensinou uma lição que muito reflete no que produz: “Não resista a tentações ou tenha remorsos, pois isso retém o espírito na Terra. Beba água e a água perde a importância. Quando não temos mais tentações ou remorsos é possível olhar para coisas menos mesquinhas”. Essa vontade de se elevar a algo, e a viver sem pretensões foram marcantes e mudaram o rumo de Maria tanto na vida artística quanto no pessoal.

No geral, o documentário traz um alto nível de relevância já que relembra e traz à luz uma personagem deveras esquecida das artes surrealistas brasileiras. Para uma pessoa com aparência tão doce e serena como Maria Martins, é uma surpresa ouvir os relatos de suas produções tão carregadas de significado pesado. O significado do título do documentário é dado nessa mesma intensidade dos sentimentos que cada obra sua carrega, característica dos “trópicos”. É interessante também observar que ela foi um símbolo feminista antes mesmo do feminismo ser definido e que sua relação com Duchamp foi tão sincera de forma que os dois se completassem em natureza e forma, sem que, no todo, retirassem o papel e substância que carregavam sozinhos em suas produções artísticas.

Luana Feliciano
Luana Feliciano
Estudante de Jornalismo, ama escrever e meus filmes favoritos sempre me fazem chorar. Minhas séries preferidas são todas de comédia, e meus livros são meus filhos.

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