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“MADAME”: UMA COMÉDIA DE CLASSES

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O casal americano Anne (Toni Collette) e Bob (Harvey Keitel) Fredericks decide se mudar para Paris e, logo, organizam um jantar para se apresentar à alta sociedade da capital francesa. No entanto, minutos antes do horário marcado, a chegada de um hóspede inesperado – o filho mais velho de Bob – faz com que o total de pessoas presentes seja 13, número considerado mau agouro pela supersticiosa anfitriã. Assim, eles decidem fazer com que a empregada Maria (Rossy de Palma) se passe por uma integrante da elite espanhola – isso sob as rígidas diretrizes “você deve falar de menos, rir de menos, comer de menos; finja ser invisível”. Contudo, um dos convidados – o negociador de arte solteirão David Morgan (Michael Smiley) – se interessa pela “misteriosa mulher” e a farsa que deveria durar uma noite e ser a solução de um problema, desenrola-se em uma análise sutil sobre classes, estratificação social e suas convenções, a situação do imigrante e idade.

O longa, escrito e dirigido por Amanda Sthers, tem seu grande acerto ao fugir de obviedades dos filmes que seguem os moldes dos contos de fadas, optando pela sutileza com toques do humor característico das comédias francesas, preterindo risadas fáceis e fugazes. Este aspecto da produção é elevado pelo elenco de peso, começando por Collette e Keitel – ambos indicados ao Oscar, Toni por O Sexto Sentido (1999) e Harvey por Bugsy (1991) -, porém quem assume o holofote é, com certeza, Rossy de Palma. A estrela de beleza sui generis – que pode se gabar de ser uma das musas do cineasta espanhol Pedro Almodóvar, tendo feito sete filmes com seu conterrâneo – é a força propulsora de Madame, mostrando-se uma atriz multifacetada, que consegue ir da comédia ao drama com extrema facilidade e delicadeza. Desta forma, a empregada fantasiada de madame e que deveria ser apenas um acessório passa a ser o centro das atenções.

É assim, de forma sutil, que Maria, inconscientemente, gera as discussões centrais da trama. Quando se atreve a ter voz quando David se interessa por ela, os Fredericks, mesmo contrariados, veem-se obrigados a manter o silêncio, pois o casal passa por um momento financeiro difícil e depende de David para realizar um grande negócio, ou seja, revelar toda a farsa seria um tiro no pé. Outro ponto interessante do filme está no espírito de competição que surge em Anne a partir do momento em que vê Maria – uma pessoa a quem julgava inferior – como uma igual, pelo menos exteriormente. A americana, que se priva de muitos dos prazeres para tentar se manter jovem e bela, não entende como bastou a empregada entrar na sala para que encontrasse um amor. Muito desta inconformidade vem da falta de harmonia do casal, que está apenas acomodado, apesar da fragilidade do relacionamento, e Maria, não intencionalmente, expõe isso aos dois.

Assim, Madame mostra que, às vezes, fugir da comédia rasgada que apenas quer arrancar gargalhadas histéricas do público a cada cena é a melhor decisão, principalmente se o enredo envolve algum tipo de discussão social – é verdade que, neste caso específico, o debate não se aprofunda muito, mas isso não é um demérito do trabalho de Amanda Sthers, pois a cineasta demonstra entender que, apesar dos temas abordados, seu filme ainda se trata de uma comédia e uma discussão muito aprofundada pode desviar a atenção do espectador da história proposta; uma comédia pode trazer reflexões, mas o público que vai assistir ao gênero tem como principal objetivo se divertir, o riso é a base para esta vertente do cinema e, aqui, ele surge de forma muito natural, o que diferencia a produção da maioria dos filmes em circuito comercial, especialmente nos Estados Unidos. Com isso, o filme ganha um charme próprio que o torna uma ótima opção de entretenimento.

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