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A Cidade do Futuro aborda o poliamor num prisma social inferiorizado

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Novo trabalho de Claudio Marques e Marília Hughes, premiados por Depois da Chuva, A Cidade do Futuro conta a história de um triângulo amoroso nada glamoroso. Dois rapazes gays, Gilmar e Igor, (os personagens carregam os nomes próprios dos atores, Gilmar Araújo e Igor Santos) apaixonados convivem com uma garota, Milla (Milla Suzarte) que numa relação heterossexual com um deles, fica grávida. A decisão deles, em conjunto, é que os 3 assumam a criança e se tornem uma família “moderna”. Acontece que esta modernidade toda ocorre num cenário super hostil e retrógrado, no interior da Bahia, numa cidade do sertão com enormes problemas sociais e econômicos.

Gilmar, Igor e Milla sofrem bastante com o preconceito e a intolerância, mesmo dentro de casa com suas próprias famílias, que veem não só o homossexualismo, mas a relação poligâmica como um absurdo. Em meio a esse contexto, a trama levanta muitas questões atuais, além do desafio sugerido pelo título do filme, onde a Cidade do Futuro   abraça todas as diferenças.

Não é de hoje que triângulos amorosos são temas, seja como plot principal ou subplot no cinema nacional. Na verdade, temas que envolvam sexualidade estão sempre presentes nos diversos gêneros produzidos aqui. Não fujamos dessa herança cultural e aceitemos esta identidade. Somos um país sexual. Para o bem e para o mal. E como país continental, com uma população relativamente numerosa e com uma diversidade sócio econômica muito grande, questões comportamentais como orientação sexual e “poliamor”, postos num prisma social inferiorizado, tendem a incomodar mais. Neste papel, Marques e Hughes não só atingem com maestria, como o fazem de forma totalmente intencional.

No entanto, a trama se torna um pouco confusa quando eles optam por tratar de outros assuntos que de nada acrescentam à trama dos 3 personagens principais. Demoram muito contando como a cidade se formou, com a vinda de moradores realocados na década de 70 por causa da construção de uma usina hidrelétrica. Eles ainda tocam no tema da ditadura militar, que embora polêmico e sempre importante de ser lembrado, de nada tem a ver com o desenrolar da trama. Esta fuga de prioridades compromete muito o fluxo da narrativa dessa história de amor, que em alguns momentos parece  um documentário.

A escolha do elenco do filme não é surpreendente. Uma aposta em um casting novato parece também ter sido proposital, porém arriscado por parte da produção. Os três atores novos, em especial Igor e Gilmar, demoram um pouco a entrar na trama e convencer.  Não são papéis fáceis para uma estreia no cinema, ao mesmo tempo, é bom que já chegam com o pé na porta e preparados para o que vier pela frente. O fato de serem novos e tocarem num tema delicado e relativamente moderno, ajuda também na transferência para o público.

Eu confesso que embora seja importante que se tragam à tona temas de mais complexidade e relevância, como intolerância, sexualidade, família e problemas sociais, tenho visto muito do mesmo no cinema nacional alternativo. Uma necessidade de “chocar” muito latente. De forma alguma criticando o protesto implícito, a necessidade de propor o diálogo. Acho isso super importante. Mas nos vejo numa período de muito 8 ou 80. Ou temos filmes com uma forma envelhecida, preocupado em catalogar sessões da tarde na Globo, ou filmes completamente malabaristas, que misturam temáticas das mais polêmicas, buscando atenção através do baque, seja para o bem ou para o mal.
Bom para os que consomem de tudo. Se você não vai ao cinema há algum tempo e quer relaxar ou apenas um entretenimento leve, este não é o filme.

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