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Severina: romance, obsessão, suspense, e muito livros

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Por Tarsso Sá Freire

“A melhor musa é a de carne e osso” assim disse a ladra de livros, Ana, ou Silvina, ou Severina, que da nome ao filme baseado no livro de Rodrigo Rey Rosa, sendo dirigido por Felipe Hirsch, conhecido diretor teatral da Sutil Companhia.

A história se passa em uma cidade que não se sabe o nome, e tem como protagonista o dono de uma livraria, que também nunca tem o nome citado, só os créditos finais se referem ao personagem de Javier Drolas como R. Um livreiro aspirante a escritor que transborda melancolia dentro de uma livraria, que apesar de sempre vazia, vai bem nos negócios, por incrível que pareça.

A  fotografia da obra passa uma sensação de solidão, sendo tudo meio escuro e cheio de sombras, mesmo de a luz do dia, as cores são quase todas frias. A câmera sempre se posiciona como quem observa de longe, quase nunca dando closes fechados nos personagens, só em momentos para aumentar a tensão.

Certo dia, o homem observa uma jovem que sempre volta a seu estabelecimento pela manhã, rouba alguns livros e vai embora. Ele fica hipnotizado por ela, uma figura criada quase que por ele mesmo, jovem, linda, leitora voraz, misteriosa, criminal. Por fim, ele a confronta sobre os furtos, e com isso, consegue se aproximar dela, seu nome é Ana (Carla Quevedo), ela vive em uma pensão com seu pai, eles passam a flertar, criando um tom de romance. Entretanto, após sua primeira noite de amor, Ana decide que eles devem se distanciar, mas R. não se dá por vencido e passa uma noite na pensão em que Ana e o pai deveriam estar. Porém, ele os perde, e pensa que nunca mais irá vê-la. O livreiro descobre por outro colega que a ladra já seduziu e roubou inúmeros outros homens e livros, ele havia sido apenas mais um a cair no canto da sereia.

O filme dá ao espectador várias referências literárias, como o clássico “Mil e Uma Noites”, “Fahrenheit 451″ de Ray Bradbury e o conto “O Zahir” de Jorge Luis Borges. Sendo a própria obra divida em prólogo, capítulos e epílogo, exatamente como um livro.

A literatura é tratada como obsessão apaixonante pelos personagens. Um vício, como explica o pai de Ana, Otto (Alfredo Castro), que chega trazendo o suspense e mais uma dose de mistério para esta história de romance. Ele vive para os livros, assim como sua filha, assim como seu pai e o pai de seu pai. Uma dependência que nunca fica bem esclarecida, nem de onde ele e a filha vem, ou porque ela rouba os livros. Tudo é deixado no ar, como se Otto e Severina fossem personagens do romance que R. sonha em fazer.

O velho homem, acaba sofrendo um derrame e entra em coma, o que acaba por fazer R. e Ana se reencontrarem. R. oferece sua casa para os dois ficarem. Mesmo morando e tendo relações juntos, a mulher não faz questão de esconder que seu interesse nunca foi o homem, mas os livros. Ela passou a ficar longos períodos fora roubando outros livros, enquanto o livreiro cuidava de seu pai enfermo. R. é submisso a tudo, está totalmente seduzido e dominado pela ladra. Chegando a acobertar crimes dela que vão além de simples furtos.

Até que um dia, ela some, como se nunca tivesse passado de uma alucinação amorosa de R. Este que segue sua vida após seu sumiço. Continuando com as leituras em sua livraria, escrevendo, e conhecendo outras mulheres.

Para o bem ou para mal, ela acaba por ser uma musa encarnada que seduziu o provável futuro escritor com seus segredos, sensualidade e sua obsessão. E como toda musa, ela evapora, deixando de rastro seu verdadeiro nome: Severina.

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Redação do site E-mail: contato@rotacult.com.br

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