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Emma e as Cores da Vida: Um fetiche sexual machista

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O cineasta italiano Silvio Soldini fez bastante sucesso pelo mundo com a comédia romântica Pão e Tulipas, lançado no Brasil em 2001. Porém, depois deste grande êxito no cinema ficcional, o diretor e roteirista nunca mais conseguiu acertar o tom de suas produções, e seu mais recente longa, Emma e as Cores da Vida, é mais um exemplo disso. A trama conta a história de Teo (Adriano Giannini), um publicitário mulherengo que usa sua criatividade para esconder suas traições da namorada, e cujo caminho cruza com o de Emma (Valeria Golino), uma osteopata cega que chama sua atenção pela sua voz e pela sua maneira de ver o mundo, estingando Teo a seduzi-la.

A primeira diferença entre o magnus opus do diretor e este filme é a ausência do elemento cômico que dava um charme especial ao enredo do primeiro. Aqui, Soldini opta por seguir por um viés mais dramática e é justamente neste ponto que o roteiro começa sua série de derrapadas. Para começar, apesar de a protagonista feminina dar título à obra, é o homem que guia os acontecimentos, mesmo que o seu perfil cafajeste, mentiroso e machista não inspire confiança ou simpatia, ou seja, as chances de o espectador torcer por ele são parcas. E isto leva à outra falha da história: potencial desperdiçado.

Assim, o longa subdesenvolve – ou, até mesmo, ignora – o aspecto mais interessante de sua protagonista, que é justamente o fato de ela ser cega – o que, aliás, foi o principal fator que despertou o interesse de Teo. No entanto, mesmo que Emma questione se o interesse dele é somente fazer sexo com uma deficiente visual, a cegueira da personagem nunca é, de fato, discutida pelo pseudo-casal, apesar de ser uma questão para o homem. Fora isso, o ponto que a produção mais ressalta em Emma é sua beleza, quase transformando-a em um fetiche que serve apenas para desenvolver o arco de Teo.

E este não é apenas um problema de direção, mas também de roteiro – escrito a seis mãos e que, embora conte com Doriana Leondeff, a visão superficial e objetificadora de Soldini e Davide Lantieri prevalece. Com isso, Valeria Golino, apesar de ser uma boa atriz, não tem suficiente material para trabalhar – mais uma vez, opondo-se à Licia Maglietta, de “Pão e Tulipas”, que tinha mais recursos para levar a trama adiante sozinha, sendo, de fato, a protagonista do filme e adicionando identidade e magnetismo a um enredo que não tinha nada de extraordinário. Assim, Emma acaba por ser uma composição rasa, uma personificação da Mulher Ideal – bela e que não deixa sua cegueira impedi-la de fazer o que quer -, desconsiderando todas as nuances que a deficiência pode provocar.

E, por fim, apesar de ter um alívio cômico eficiente, as vertentes romance e drama do longa se mostram datadas e um tanto quanto sexistas – um exemplo disso é o fato de o único momento mais catártico de Emma acontece longe dos olhos de Teo, afinal a visão dele sobre a mulher ideal deve ser preservada. Desta forma, Emma e as Cores da Vida até consegue utilizar alguns clichês de gênero, mas subaproveita sua personagem-título, reforça o machismo – uma vez que um dos pontos que provoca as mudanças comportamentais no egoísta Teo é o fato de Emma, por ser cega, precisar de ajuda para realizar determinadas ações – e demonstra que Silvio Soldini continua errando o alvo, pois, mais uma vez, não entrega o que vende, do título ao trailer. Ou seja, um estelionato cinematográfico.

 

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