O audiovisual brasileiro perdeu o cineasta humanista Carlos Cortez

Ele estava agora dirigindo na Gullane a segunda temporada da série “Unidade Básica”, a mais vista no canal Universal, retratando a atuação de médicos nas periferias de São Paulo. Ele estava também dedicado ao desenvolvimento de longa-metragem sobre a vida de Clarice Linspector.

Com perfil humanista, ele foi autor de vários títulos, como os documentários dedicados a cultura negra em São Paulo, abordando a trajetória dos sambistas Geraldo Filme e Seu Nenê da Vila Matilde, num período em que o samba era brutalmente reprimido pela polícia. Realizou o longa-metragem “Querô”, baseado em obra de Plínio Marcos, com jovens de comunidades carentes da região portuária de Santos, que lhe valeu vários prêmios e deu luz ao debate sobre a situação de total exclusão em que vivem os jovens nas periferias, sobre a falência dos sistemas prisionais tidos como socio-educativos, maioridade penal entre outros.

O longa inspirou a criação do Instituto Querô, apoiado pelo UNICEF, dedicado a jovens em situação de risco social, que utiliza o audiovisual para estimular talentos, ampliar horizontes profissionais e, principalmente para dar voz a eles. Cortez se dedicava ao Instituto há mais de 10 anos e deixa um legado que tem dado muitos frutos.

Muitos desses jovens hoje atuam nesse mercado de trabalho, outros estudam fora do país, outros realizam curtas metragens nos seus bairros e escolas. O Instituto produziu mais de 100 curtas em sua oficina-escola e há poucos meses lançou seu primeiro longa-metragem, “Socrates”, realizado com jovens entre 14 e 21 anos, que recebeu três indicações para concorrer ao Independent Spirit Awards, o Oscar do Cinema Independente, enquanto segue sua carreira em festivais conquistando prêmios na Mostra Internacional de São Paulo, no Festival do Rio, Festival de Woodstock nos EUA, Thessaloniki na Grécia, entre outros.