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O Tradutor: Baseado em uma história real, filme retrata relação entre professor e alunos

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Um dos eventos históricos mais conhecidos do mundo foi o acidente nuclear de Chernobyl, em 26 de abril de 1986, na Ucrânia, ainda sob o controle da antiga União Soviética. Na época, por falta de condições para o tratamento das vítimas, muitas foram levados para Cuba – que possui um dos melhores sistemas médicos do mundo -, no entanto, havia um impasse: os médicos não falavam russo e os pacientes não falavam espanhol. Com isso, o governo cubano recrutou mandatoriamente professores universitários para trabalharem como tradutores. Este é o caso de Malin (Rodrigo Santoro), que dá aulas de Literatura Russa e passa a trabalhar na ala infantil do hospital a contragosto.

Baseado em uma história real, o longa acompanha Malin tendo que lidar com a política rígida a unidade hospitalar, que o impede de mudar de ala – uma vez que ele não quer trabalhar com os pacientes infantis que sofrem com as consequências da radiação devido ao fato de ter um filho nesta mesma faixa etária, o que torna a experiência mais emocionalmente desgastante -, enquanto tenta equilibrar sua vida familiar – o que se torna cada vez mais difícil, pois Malin foi escalado para o plantão da noite, fazendo com ele conviva menos com a família, fato que incomoda sua esposa, Isona (Yoandra Suárez), uma galerista cujo trabalho é visto como menor pelo marido – “é só arte”, ele diz.

Além disso, o filme também aborda alguns outros tópicos paralelos que têm influência na trama principal, como, por exemplo, as mudanças econômicas sofridas por Cuba na época – mudanças essas que proibiram qualquer tipo de transação financeira feita em dólares, provocaram a escassez de combustível e de comida, queda de energia elétrica, o corte dos vales que faziam parte dos pagamentos dos funcionários de diversas áreas. Com isso, o espectador acompanha a pressão aumentar não somente no hospital com as variações nos estados de saúde dos pacientes, mas também na casa de Malin e no próprio país. E, enquanto o tradutor se mostra cada vez mais esgotado – física e emocionalmente -, entra em cena o contraponto, representado pela enfermeira Gladys (Maricel Álvarez), que, às vezes, vê-se obrigada a dar um choque de realidade em seu parceiro de trabalho.

Mas, por outro lado, o filme também sabe oferecer um pouco de ternura ao público por meio das cenas de Malin com as crianças quando o homem resolve desenvolver atividades com os pacientes, seja lendo contos infantis ou pedindo para que eles escrevam ou desenhem suas próprias histórias, as quais o tradutor compila em um livro chamado “As Crianças de Chernobyl” – iniciativa que surge como uma forma de estabelecer contato entre as crianças e um outro paciente que está no isolamento em estado mais grave – aliás, é com este paciente, e diante da revolta dele com a situação em que se encontra, que Malin tem algumas das melhores reflexões do longa, equiparando-se aos momentos do tradutor com Gladys.

Aliás, quase todas as atuações do filme são muito precisas, a começar pelo protagonista. Rodrigo Santoro, que, no começo dos anos 2000, decidiu abandonar o posto de galã das novelas brasileiras – apedar de já ter trabalhos muito consistentes no cinema nacional, como em “Carandiru” e “Bicho de Sete Cabeças” – para conquistar uma carreira internacional e, agora, mais de 10 anos depois, mostra ter chegado à maturidade de seu trabalho, dominando com facilidade todas as emoções exigidas pela personagem – e, aqui, são exigidas muitas variações emotivas – porém, um ponto que é necessário destacar é o sotaque do ator; é visível que ele fala espanhol fluentemente, mas é perceptível que a enunciação das palavras é mais clara do que a dos atores hispânicos, mas isso é só um detalhe que se torna minúsculo diante do excelente desempenho do ator em russo.

Outro destaque do elenco é Maricel Álvarez, que, por mais que tenha de ser dura de vez em quando, também sabe ser acolhedora e tenta entender os dilemas dos outros, sendo um dos principais suportes emocionais de Malin em seu trabalho no hospital, além de incentivar as atividades dele com as crianças como uma forma de amenizar o sofrimento de todos ali. O mesmo já não pode ser dito de Yoandra Suárez, que apresenta uma interpretação monotônica ao longo de todo o filme, seja no começo feliz, nas brigas com Malin ou nas reviravoltas: é sempre o mesmo tom. E, é claro, há ainda a presença de inúmeras crianças extremamente carismáticas e cativantes – e algumas até com um desempenho impressionante para a pouca idade.

No entanto, esta nota dissonante não diminui todas as virtudes do longa, que, além de ter uma história muito interessante, real, que prende a atenção do público, conta com boas atuações encabeçando o elenco e é tecnicamente muito apurada, mostra uma excelente reconstituição de época da Cuba dos fim dos anos 80 e tem uma direção certeira de Rodrigo Barriuso e Sebástian Barriuso – que, ao fim do filme, descobre-se que são filhos do Malin da vida real, cujo nome verdadeiro era Manuel Barriuso Andino, assim como o especador é informado que o programa de ajuda às vítimas se prolongou até 2011, tratando mais de 25000 pacientes. E, com todas as indicações a prêmios que a produção recebeu, o longa termina como, acima de tudo, uma homenagem a Malin e aos sobreviventes de Chernobyl.

 

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