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Solo de teatro documentário, “Desmontando Bonecas Quebradas”, estreia no CCJF

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Gênero em ascensão nos palcos do mundo, o teatro documentário inspira-se em fatos reais, como estes: no México, a cada 3 horas, uma mulher é asfixiada, violentada e mutilada, enquanto no Brasil o tempo de consumação do feminicídio é ainda mais gritante. Aqui, a cada 1h30 tem alguma mulher vítima de violência masculina. Convidando o público a refletir a respeito através de uma história contada de forma multimídia, “Desmontando Bonecas Quebradas” realiza debate com o público presente, além do workshop gratuito  nos dias 20 e 21 de julho, sobre teatro documental exclusivamente para mulheres vítimas de violência de gênero.

Composta por dezessete cenas, a história entrelaça momentos de poesia com notícias da vida real a partir dos acontecimentos de Ciudad Juarez, no México, fronteira com El Paso, no Texas (EUA). A dramaturgia é coletiva. Luciana Mitkiewicz explica: “A história de Ciudad Juarez é especificamente icônica. Desde 1993, contabilizam-se na região milhares de assassinatos de mulheres sem a devida punição. Uma situação sem precedentes, que levou, pela primeira vez na História, à condenação de um país – o México – na Corte Interamericana de Direitos Humanos, em 2009. Desde então, são mais de 4 mil mulheres desaparecidas e mais de 2 mil mortas em Ciudad Juarez. Todos os crimes seguem o mesmo padrão: sequestro, violência sexual, morte por asfixia, perfurações corporais, esquartejamento e desaparecimento dos corpos”. Como conseqüência da condenação do México na Corte Interamericana de Direitos Humanos e obrigação de uma série de reparações aos familiares das vítimas, Ciudad Juarez tornou-se referência na medicina forense.

Dentre as projeções feitas num telão ao fundo do palco estão imagens do filme “Narcocultura”, entrecortadas com imagens do tráfico de drogas no México e no Brasil, mas também depoimentos reais de suspeitos e da procuradora especial de Ciudad Juarez, além referências ao movimento das mães das vítimas, fundadoras da ONG Nuestras Hijas de Regresso a Casa. Na trilha sonora do espetáculo se destaca um ‘narco corrido’ e o funk proibidão. É comum a exaltação de chefes do narcotráfico em canções no México também, daí a analogia com o ritmo nascido nas comunidades. Luciana Mitkiewicz canta ao vivo “La Llorona” em Nahuatl, língua indígena ancestral mexicana. Um dos muitos momentos emocionantes de Desmontando Bonecas Quebradas é a cena “Campo de Algodão”, escrita pelo dramaturgo e diretor João das Neves, um dos mais importantes artistas do teatro brasileiro, falecido em 2018. Enquanto apresenta o depoimento de uma mãe que perdeu a filha de 13 anos assassinada, Luciana espalha no palco bonecas feitas de fraldas de algodão, como se fossem sementes para fazer brotar novamente à vida as jovens brutalmente assassinadas.

“A verdade é que Juarez ficou conhecida como a cidade das mortas. Por isso, as autoridades decidiram lançar vídeos promocionais e jingles festivos como os que exibimos ao longo da peça, para ‘limpar’ o nome da cidade, já que até hoje não conseguiram ou não quiseram pôr fim a esses assassinatos. O primeiro crime ocorreu em 1993, em meio às negociações para a assinatura do Tratado Norte-Americano de Livre Comércio (NAFTA), pelos EUA, México e Canadá. No ano seguinte, se instalam em Juarez as chamadas maquiladoras, as montadoras multinacionais de produtos têxteis e eletrônicos, atraindo milhares de mulheres de várias regiões do país para trabalhar nessas fábricas, fosse por suas mãos menores e delicadas, úteis no manuseio de peças frágeis, fosse por seu temperamento mais dócil. As vítimas de Juarez são moças pobres, na maioria de ascendência indígena, trabalhadoras nas maquilas, no comércio ou em casas de família, jovens anônimas. ‘Vítimas de baixo risco’, como se diz tecnicamente nos manuais de criminologia”, encerra Luciana.

Serviço:
“Desmontando Bonecas Quebradas”
Estreia dia 28 de junho ate 25 de agosto
Dias e horários: Sexta a domingo, às 19h
centro Cultural Justiça Federal – Av. Rio Branco, 241. Centro.  Class. Etária: 16 anos

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Redação do site E-mail: contato@rotacult.com.br

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