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Caco Ciocler fala sobre seu documentário Partida, em cartaz no Festival do Rio

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Segundo documentário com direção de Caco Ciocler será exibido no Festival do Rio 2019 na Première Brasil Mostra Fronteiras do Festival do Rio no dia 14 de dezembro, com a sessão seguida de debate no dia 16.

O longa foi selecionado para o Festival de Gramado e para a Mostra Competitiva do Festival do Rio em 2014, além de ganhar o prêmio de melhor filme no festival de cinema brasileiro de Los Angeles.

PARTIDA é o seu segundo documentário, o que o fez seguir na linha documental em vez da ficção? Quais foram suas inspirações para esse filme? O que te levou a fazê-lo?
Caco Ciocler –  Eu adoraria fazer uma ficção e estou me exercitando já, dirigindo dois dos oito episódios da ainda inédita segunda temporada da serie “Unidade Básica”. Meu primeiro longa acabou sendo um doc. por pura casualidade. Foi convite de uma produtora, a ideia não era minha. Partida sim, mas eu nem sabia se resultaria num filme, era na verdade a tentativa de transformar uma vivência num filme. Por isso o caráter fundamentalmente documental. E acabou que o filme saiu flertando muito com a ficção.

A inspiração foi uma vontade de tentar passar o Réveillon com o Mujica, apenas isso. Uma ideia, uma utopia que ganhou dimensão nova na angustia que vivíamos (alguns de nós) diante da possibilidade do Brasil eleger o presidente que acabou por eleger. Passar a virada do ano, que coincidiria com o dia da posse, nos braços de um outro presidente, num outra país, nos pareceu um alento. Usar a viagem como símbolo e oportunidade artística foi o que me levou a querer fazer um filme.

A questão feminista também está presente no documentário. A protagonista faz parte de um partido feminista, você teve intenção de levantar a bandeira ou foi simplesmente acontecendo?
Caco Ciocler –  Na verdade o filme acabou por me revelar o quão simpático eu andava ao Feminismo. Fui me dando conta disso durante a viagem e foi muito gostoso. Senti-me orgulhoso. Eu havia escolhido uma poderosa protagonista mulher, homossexual, independente no filme de qualquer órbita masculina. Tinha duas diretoras de fotografia com total liberdade criativa, criando a linguagem visual daquela experiência. Toda a lógica colaborativa que fiz questão de instaurar em todos os aspectos da obra nos afastava de qualquer resquício patriarcal. Enfim, algumas questões feminista foram acontecendo. Mas foram acontecendo porque estavam assimiladas, ou seja, eram uma bandeira.

Você teve dificuldades com a temática? E durante o processo de filmagem?
Caco Ciocler –  Nós criamos a trupe que conseguimos criar naquele curto espaço de tempo e nas condições que tínhamos Qualquer pessoa diferente que tivesse embarcado naquele ônibus teria transformado Partida num outro filme. Nesse sentido, a dificuldade foi lidar com o que cada podia e estava disposto a oferecer. Nem sempre foi fácil, o combinado era que ninguém forçaria ninguém a nada. Então tivemos vários momentos de tédio e de crise, acreditando que aquela viagem era absolutamente desimportante, desinteressante, rasa e , por isso, pretensiosa. A coisa começou a melhorar um pouco quando resolvemos colocar o próprio filme literalmente no divã e filmar essas cenas, assumindo nossas ignorâncias, fraquezas, incertezas, preconceitos, transformando-as em assunto.

No site Papo de Cinema o crítico Marcelo Muller coloca: “Partida constitui um gesto singelo de reconciliação com a política por meio do afeto. A liberdade de formas permite a provocação, a descoberta do filme enquanto o filme está sendo feito.” Merten em sua coluna no Estadão declara. “Talvez precise deixar passar um tempo e rever o filme para encarar mais racionalmente o que ontem virou experiência emocional. Foi das minhas experiências marcantes na 43 Mostra”, qual é a importância da critica para o posicionamento do filme no mercado?
Caco Ciocler –  Como estreamos Partida sem a certeza de que tínhamos um filme nas mãos e, se sim, se ele interessaria a alguém de fora daquele ônibus, a critica tem nos ajudado, junto com o público, claro, a entender as potências e fragilidades do que fizemos. Então, saber por exemplo que um cinéfilo da estatura do Merten teve uma experiência emocional marcante com Partida nos ajuda a vislumbrar um tipo de potência na obra. Para o mercado acho que ajuda porque ajuda a criar interesse. Partida é um filme muito “pequeno” , feito sem dinheiro, sem lei de incentivo, sem patrocínio, sem distribuidora. Um filme feito em seis dias. Provavelmente sumiria de não estivesse arrecadando o aval de críticos, Se não tivesse despertado o interesse da Mostra , onde ele estreou, do público, dos festivais, dos prêmios que vem ganhando…isso tudo vai alimentando interesse pelo filme, salvado o filme de morrer antes mesmo de nascer.

O filme foi lançado na 43 º Mostra Internacional de São Paulo, como foi a recepção do público?
Caco Ciocler – Foi absolutamente maravilhosa. Uma surpresa deliciosa. O filme cresceu muito na tela e como experiência coletiva. E isso só pudemos presenciar graças à Mostra. Fomos um dos quatorze filmes do mundo mais bem avaliados pelo público, o que nos levou ao seleto grupo que seria avaliado por seu júri. Numa das sessões o curador do Fest Aruanda conheceu o filme e nos escolheu. Acabamos de voltar de lá com quatro prêmios, entre eles o especial do Juri como melhor longa metragem em competição. E pudemos recolher mais um punhado de criticas e certezas sobre a potência do que temos nas mãos.

Alê Shcolnik
Alê Shcolnikhttps://www.rotacult.com.br
Editora de conteúdo e fundadora do site, jornalista, publicitária, fotografa e crítica de cinema (membro da ACCRJ - Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro). Amante das Artes, aprendiz na arte de expor a vida como ela é. Cultura e tattoos nunca são demais!

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