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Adriana Calcanhotto transforma isolamento social em novo álbum

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Foto: Leo Aversa

A cantora e compositora Adriana Calcanhotto lançou no período de quarentena seu novo disco “Só”. Com nove músicas autorais inéditas, gravadas em sua casa, a obra é em homenagem a Moraes Moreira, que faleceu este ano.

Adriana, que leciona na Universidade de Coimbra, como professora convidada desde 2017, após encerrar sua turnê do show “Margem”, se viu sem a possibilidade de retorno e imersa em um processo criativo inesperado. A produção musical do álbum foi realizada por Arthur Nogueira de Belém, também feita em isolamento social.

O álbum, aliás, traz canções em vários ritmos musicais, incluindo Samba e Funk, contando com uma parceria com Dennis DJ. Além disso, o disco teve a renda revertida para várias instituições, dentre elas Redes da Maré, Coletivo Papo Reto, Funk Solidário e Rocinha Resiste, além de uma música “Lembrando da Estrada” ter a renda destinada para a equipe da cantora.

Com a quarentena e o isolamento social, qual foi sua maior motivação para compor “Só” e como funcionou o seu processo criativo para criar as músicas neste período?
Adriana Calcanhotto –  O que me motivou a compor na quarentena foi a própria quarentena, de certa maneira, uma oportunidade, certamente, de foco, de estar em casa sem tantas interrupções, de não ter que sair e viajar. “Só” não nasceu como álbum, eu não pensava nisso, mas eu acordava com uma disposição de agir e me dispus a acordar todos os dias e fazer uma música. Assim, foi acontecendo, fui vendo que eu tinha uma safra e a partir daí comecei a encarar mais como álbum. Depois de um tempo, percebi que tem um certo condicionamento nessa época do ano para mim, porque na época das composições eu estaria dando meu curso de composição em Coimbra.

O tom irônico da canção “Bunda Lê Lê”, em parceria com Dennis DJ, faz um paradoxo de um ritmo ainda muito estigmatizado, com a busca pelo conhecimento. Como surgiu a ideia dessa composição?
Adriana Calcanhotto – É porque eu tenho lidado muito com essa batida no violão. “Bunda Lê Lê”, é uma coisa que eu pensava muito sobre essas palavras do funk. Sobre a discussão de se ouvir funk em função das letras. E aí eu resolvi fazer uma letra de Funk e uso as mesmas palavras: senta, vai e bunda.

A canção “Ninguém na Rua” parece falar sobre a saudade, do que você sente mais falta da vida de antes da pandemia?
Adriana Calcanhotto – Da liberdade, sem dúvida.

Na faixa “O que temos são janelas”, que fala sobre a quarentena e a visão das janelas neste período de reclusão, podemos escutar um panelaço ao fundo. Qual a sua relação com os protestos contra o atual governo?
Adriana Calcanhotto – Na verdade, eu não ouço nada daqui de casa, porque moro no meio da floresta, então vejo os protestos pelas notícias. O panelaço de “O que temos são janelas” foi gravado no dia da demissão do Mandetta, um amigo que gravou.

As etapas de realizar um álbum desde a composição das canções até a finalização é uma lição e tanto para seus alunos na Universidade de Coimbra. Como se dá sua relação com o ensino da música e a prática?
Adriana Calcanhotto – A vida acadêmica possibilita uma organização um pouco mais bem planejada, o que com a vida na música costuma ser um pouco mais caótica, enquanto a vida acadêmica é planejada com muito mais antecedência. Mas, no caso de “Só”, eu costumo dizer que fiz o que eu pediria para os meus alunos, fiz o exercício que eu passaria para eles.

Você dedica o disco a Moraes Moreira, que apesar de não ter morrido de Covid, faleceu durante a pandemia e não recebeu nenhum tipo de homenagem das autoridades. Como você vê a negligência que o setor da cultura vem enfrentado no atual governo?
Adriana Calcanhoto – Essa foi a minha maneira de dizer até já para Moraes Moreira. Sobre o governo, enxergo como uma negligencia mesmo. Não acho que exista uma política cultural.

A canção “Corre o munda” sobre Coimbra, lembra muito a “Canção do Exílio”. Qual a sua relação com a cidade e você pretende morar lá definitivamente após a pandemia?
Adriana Calcanhoto – Coimbra mudou a minha vida, mas não pretendo morar em Portugal.

Apesar de ter sido feito neste momento difícil, o tom do disco é de otimismo. Você acredita que podemos sair de tudo isso de uma forma melhor?

Adriana Calcanhotto – Faço parte do time que escolhe acreditar que a humanidade pode sim sair melhor. É uma oportunidade, então existe essa possibilidade. As pessoas podem aprender um pouco mais sobre empatia, solidariedade e civilidade com esse momento difícil.

Todas as faixas, tem a parte autoral cedida a uma causa ou instituição social. Como surgiu a ideia da doação e como foi a escolha das instituições?
Adriana Calcanhotto – Tenho uma preocupação enorme com a minha equipe, os técnicos, então pensei em gravar uma faixa e reverter os direitos. Eu tenho a consciência que não posso viver a estrada sem eles. A ideia das rendas revertidas veio disso. As instituições foram escolhidas por mim, pela minha equipe e colaboradores.

Juliana Meneses
Juliana Meneses
Jornalista, pesquisadora de comunicação, fotógrafa e escritora. Apaixonada por literatura, cinema, teatro, música e fotografia. Viciada em café e livros, nasceu para escrever e viver cercada de histórias.

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