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Rheingold: O Roubo do Sucesso – Filme de Fatih Akin chega aos cinemas

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Rheingold’ é uma ópera do grande compositor alemão Richard Wagner, cujo título é traduzido como O Ouro de Reno, e que se configura como a primeira parte de sua famosa obra ‘O Anel dos Nibelungos’. O ouro, que pertencia ao título da composição, é guardado no fundo do mar por ninfas aquáticas, que não se conformam quando o mesmo desaparece.

Fatih Akin, cineasta dono de um Urso de Ouro por Contra a Parede, nomeou assim seu novo filme, Rheingold: O Roubo do Sucesso, ao costurar duas gerações de músicos, pai e filho, que se desencontram ao longo da vida. Logo de inicio, percebemos que o diretor está mesmo interessado em Giwar Rajabi, que abandonado pelo pai, troca o futuro incerto na música pela incerteza de um esquema de golpes consecutivos, que deflagram o nascimento de um marginal, na síntese da expressão da palavra.

RheingoldAliás, um aviso é importante: não se deixe levar pela campanha de marketing brasileira de Rheingold: O Roubo do Sucesso, que promete polêmicas para um título cuja preocupação não é essa. Pensando melhor, talvez seja melhor se deixar, porque talvez graças a ela você assista a um dos filmes mais vibrantes da temporada, daqueles títulos onde sabemos muito bem o lugar onde cada elemento estará sendo disposto, mas nada disso o impedirá de mergulhar a fundo na narrativa contada por seu autor.

Dotado de uma duração surpreendentemente longa, nada disso é impeditivo de ritmo para o filme, que segue desembestado uma trilha de erros contínuos pelo qual o protagonista percorre. Dotado da sedução de sempre que o cineasta costuma empregar em seus trabalhos mesmo quando trata assuntos tão crus, facilmente estamos enredados pela narrativa, de agilidade notável.

Andrew Bird é o nome do responsável por essa edição tão marcante, e que transforma Rheingold em algo ainda mais marcante do que a trajetória de seus personagens. Habitual colaborador de Akin nos excelentes momentos (O Bar Luva Dourada) e também nos ruins (Aos Pedaços), Bird consegue fazer voar as 2h e 15 minutos de duração, onde poderíamos facilmente nos perder entre viagens e tempos, o que nunca acontece. Aliás, a parceria continua mais afiada do que nunca! O trabalho apresentado aqui envolve contenção de escopo narrativo sem macular roteiro, marcando assim um dos raríssimos casos onde uma biografia entrega apenas o necessário, e esse necessário não causa danos à compreensão ou ao molde apresentado.

Sem perder o domínio do que está apresentando ao se embrenhar por uma história de curvas quase fantásticas ou surreais, Akin acaba utilizando de uma disposição que não empregava de maneira tão frontal quanto em Soul Kitchen – a comédia. Rheingold sabe que as tintas tão carregadas de um enredo escalafobético poderiam descambar para o ridículo caso suas rédeas não fossem tão curtas. Ao invés de deixar o trem descarrilar, ele toma a dianteira e promove ele mesmo a aproximação do filme ao gênero, o que faz com que o espectador compre mais facilmente as intempéries que Hajabi promoveu a si. Anti-herói por excelência, o futuro Xatar é pintado como um homem tão cheio de defeitos que só poderia mesmo ser a figura que é, inconsequente, machista e ainda assim, um poço de sedução.

Xatar – uma palavra curda para ‘perigoso’ – acaba se tornando o nome artístico de um cara que não esconde seus defeitos, mas que tem ciência de seus predicados. Rheingold segue na batida do seu protagonista, uma figura que toma muitas decisões erradas ao longo da vida, mas que não cansa de tentar mudar um quadro que o marcou: as costas do homem que mais amava indo embora, sem olhar para trás. A coragem com que o filme mostra sua ânsia de conseguir um lugar em um mundo que não permitiu que ele fosse alguém é inspiradora; só precisamos filtrar seus feitos. Akin não o absolve do que ele fez, nem a História: antes de se tornar Xatar, Giwar Hajabi pagou, de uma maneira ou de outra, por todas as besteiras onde se meteu, sempre com um discurso pronto que o aliviasse.

Ao não julgar seu protagonista e deixar as consequências de seus atos falarem por si só, o diretor abre o flanco de sua produção para tratar de maneira leve situações que, no mínimo, são absurdas. Todo o bloco de eventos que mostra a tentativa de entregar as garrafas traficadas, e seus posteriores eventos são tragicômicos, elevando o que poderia ser uma situação banal em um filme trivial. É quando, próximo ao fim, Akin amarra toda sua narrativa por uma visita inesperada que o protagonista recebe; são de novo o pequeno Giwar diante do Mestre da sua vida, e o que sobrou para cada um depois de tudo. Ele volta a ver aquelas mesmas costas indo embora, sem olhar para trás, mas mesmo na condição em que estava, o futuro já estava escrito. E ele se mostra hoje, no reflexo do que se tornaram um homem e sua inspiração.

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