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“META” traz paredão irônico da intolerância aos palcos

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Causou estranheza no cinema, e noutros segmentos da classe artística, o processo de contínua vigília à qual o personagem de Jim Carrey, em Truman Show (1998), era submetido ao longo de um filme – uma das muitas joias do australiano Peter Weir – premonitório para a véspera do fim de milênio. Não havia “No Limite”, nem “Ídolos”, nem “A Fazenda”, nem “Casa dos Artistas” no imaginário do povão naquela época. Menos ainda no imaginário das faculdades que falavam de simulacros e simulações. Soava como sci-fi a premissa de um programa de TV que dá atenção 24 horas/7 dias semanais às miudezas cotidianas de um herói sem virtudes, pelo menos aparentes. É impossível, portanto, num retrospecto histórico, não lembrar (e não evocar) esse longa-metragem numa imersão livre na dramaturgia de Daniel Toledo e André Senna na peça teatral “Meta”.

METAEfervescente qual Sonrisal no fel do dia a dia, o espetáculo escrito por eles é uma gincana existencialista com cirúrgica precisão na exumação das fendas afetivas do dia a dia. O palco parece o Estúdio 4 do Projac, onde o “Big Brother Brasil” é gravado, assim como se assemelha com o Paramount Studios, da Melrose Avenue, Los Angeles, onde Weir filmou com Carrey.

Numa engenharia espacial de aparente simplicidade, estruturada na cenografia de Mina Quental & Atelier na Glória, Débora Lamm conduz como encenadora um jogo de estaminas morais entre quatro pessoas com um vácuo sentimental enorme. O vácuo desse povo lembra o Jim Carrey como Truman, com a diferença que este não tinha ambições belicosas de vitória, enquanto os quatro fantásticos de La Lamm têm.

Amparada por uma aeróbica direção de movimento proposta por Denise Stutz, amplificada aos 220 volts na direção musical de João Vinicius Barbosa, Débora conduz quatro personagens à procura de um auto religioso de afirmação da humanidade em suas demasias mais manhosas e mais resilientes. Uma voz à la Boninho, entoada por Daniel Toledo, conduz com instruções um quarteto de concorrentes de um reality, vividos por André Senna, Cris Larin, Junior Dantas e Iuma sublime) Tainah Longras

Sob a iluminação apolínea de Ana Luzia de Simoni, essas pessoas ora se espezinham, ora se aliam, ora provam das agruras das diferenças de classe, ora debatem exclusão, ora afirmam sua vitória e seu ímpeto. Entre esses quatro finalistas, vemos uma mãe e seu filho, e um casal de irmãos. Ávidos pela vitória, os jogadores embarcam num vale-tudo para entreter e conquistar o público. Só não conseguem conquistar o alívio, a harmonia. A falha deles espelha o abismo que reside na intolerância nossa de cada dia, levada por Debora Lamm a um paredão irônico.

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