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Não Sei Quantas Almas Tenho traz inspirações a Drácula de Bram Stoker

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impossível negar que Patrícia Niedermeier seja uma grande atriz, com trabalhos memoráveis em filmes como Dois Casamentos e Guerra do Paraguay, em uma busca constante por cruzar e borrar os limites entre cinema, teatro, dança, poesia e o que mais lhe vier. Em Não Sei Quantas Almas Tenho, Patrícia se transmuta também em autora cinematográfica, ao lado de seu companheiro, Cavi Borges. O resultado é um apanhado de sensações que conversa com tantas possibilidades de leitura, sem nunca se afastar do material imagético e de reverenciá-lo. É, certamente, uma chance rara de conferir cinema de gênero sendo produzido dentro de um registro do experimentalismo que o casal desenvolve em um campo de interesse ininterrupto.

Não Sei Quantas Almas Tenho Encontrar os pontos em comum entre Bram Stoker e Virginia Woolf, as digressões sobre o tempo e de como esse mesmo elemento pode provocar união eterna ou separação intrínseca, assim Patrícia e Cavi promovem esse encontro para contar a história de duas figuras destinadas uma a outra. Ele é o Ser Eterno por excelência do horror, ela é figura que se recusa a ser uma vítima passiva, sem angariar voz e ação para si. Ambos se merecem e se completam, e serão destinados a uma busca desenfreada que o roteiro não se propõe a congraçar rapidamente. Aliás, a melancolia dele é complementada pela coragem dele, e ambos seguem reféns um do outro em uma jornada através do tempo, onde assistimos seu desenrolar.

Para enxergar a essência de uma obra tão clássica assim excessivamente revisitada quanto Drácula, sem buscar o que já vimos tantas vezes, os diretores abrem mão de qualquer responsabilidade com a reverência e partem para uma busca, surpreendentemente, do sensorial. Se por esse viés eles podem então dar vazão ao olhar muito particular que eles têm de cinema, visto em produções anteriores como Salto no Vazio, agradecem os deuses da Sétima Arte. Não Sei Quantas Almas Tenho, assim como as anteriores incursões de Patrícia e Cavi, é um bicho selvagem que temos gana em domar, mas que não se deixa assentar tão facilmente. Esse é justamente o motivo pelas tentativas serem tão prazerosas, encontrando um lugar quase único brasileiro no cinema hoje.

O encontro desse homem milenar, com uma mulher do seu tempo, é contado com a verve poética e cheia de estilo que essa parceria tem demonstrado, de maneira tão singular. Estamos diante, mais uma vez, de uma atriz tão destemida que se deixa levar por infinitas formas de extravasar sua arte, seja uma versão muito crua do desejo, ou mesmo na forma irracional como seu corpo reage às transformações exigidas pelo olhar do outro.

O espectador ávido por estabelecer contatos com Patrícia, que retribui com sua versão mais ambiciosa de Isabelle Adjani em Possessão. É mais uma interpretação marcante de uma atriz que deveria, pelo que entrega constantemente, estar em lugares mais alavancados de seu ofício, mas que aqui demonstra que seu lugar já está dominado em intenções e contribuições.

Ao lado dela, Jorge Caetano tem participação maior, mas cujo simbolismo do papel o coloca em uma situação de destaque tão cheio de holofotes. Seus movimentos são mais perseguidos, por isso mesmo mais visados, e sua integração com Patrícia parece mais teatral, enquanto que Felipe Bond está mais à vontade, exercendo uma porção do filme mais próxima ao público. Ele é a porta de entrada para esse olhar menos articulado, com uma propensão de angariar identificação; sua presença é magnética, e sua química com a protagonista é muito verdadeira. Os momentos de ambos juntos, estejam em um olhar mais coloquial ou uma versão da performance propriamente dita, recarrega Não Sei Quantas Almas Tenho de uma vitalidade inegável.

A impressão ao final da produção é a da necessidade, de tempos em tempos, de termos novos oferecimentos de Patrícia e Cavi de forma constante nas telas. Não Sei Quantas Almas Tenho prova que suas ações a favor da arte que escolhem, estejam focadas no princípio ativo que for, oxigena tudo que toca, e renova nosso olhar para suas tentativas de comunicação. É uma sede tão verdadeira de comunicar sua linguagem, e integrar o espectador em um universo que eles vêm construindo com algum destaque, que nos sentimos quase comovidos com tamanha dedicação no que acreditam. Saímos convencidos inclusive que esses nossos encontros com a arte que produzem merecem novos capítulos.

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