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A Menina Silenciosa, um filme sobre emancipação emocional e livre arbítrio

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Impressiona muito rápido os lugares onde A Menina Silenciosa insere sua protagonista no campo imagético. no primeiro plano vamos identificando aos poucos, trata-se de um corpo jogado em um matagal, como se tivesse sido desovado naquele campo, poucos minutos depois, Cáit se joga de uma plataforma rumo ao desconhecido. Em ambos os casos, a impressão de morte é mais forte, ainda que se considere a subjetividade das imagens. Na linha da tragédia, o filme se desenha como uma produção onde a liberdade é tão almejada quanto efêmera, mas quando menos esperamos, a narrativa se revela para além do campo apresentado. Encontrar-se em meio ao horror cotidiano é o mote no qual o filme desenvolve suas possibilidades.

A Menina Silenciosa

Dirigido pelo estreante em longas de ficção Colm Bairéad, o irlandês conseguiu uma indicação ao Oscar logo na estreia, já que seu filme, apesar de ser uma produção do Reino Unido, é falado majoritariamente em gaélico. Isso confere uma aura de fantasia a um título que poderia ser tratado como um conto realista. Aliás, as sugestões, e essa língua especial, conferem a A Menina Silenciosa uma atmosfera equilibrada entre o sonho e o pesadelo. Como se fora um conto gótico sobre emancipação emocional e livre arbítrio, tudo ao redor da produção nos remete a algo intocável, mesmo que tais sentimentos sejam o amor e a aceitação do outro.

Além disso, um dos aspectos mais curiosos em torno de A Menina Silenciosa é o fato de ser dirigido por um homem, e sua narrativa tratar-se de uma disputa não verbalizada entre a maternidade, e o afeto proveniente de um homem, que tem caráter muitas vezes enviesado. Cáit, a personagem título, descobre que a escuridão em que vive não se conecta exatamente com a penúria, mas especificamente pela ausência de carinho familiar. Saindo de uma zona soturna para um lar de verdade onde a luz do sol irradia cada relação, a pequenina se vê entre a desconexão com os tratos originários e a descoberta de um manancial de amor represado, pronto para ser oferecido a alguém.

Bairéad não se furta de vestir seu filme de momentos de desconforto, desde as imagens melancólicas que aludem a morte, até o desconhecimento pelo qual sua protagonista atravessa em sua jornada de descoberta de um verdadeiro lar. A Menina Silenciosa é uma produção cercada de momentos lúgubres, que remete mesmo ao gótico, e que podem significar uma busca pelo sombrio. Tais pistas nem sempre conduzem a realidade, mas acabam mostrando ao espectador nossos vícios de entendimento de linguagem, sempre a postos para descobrir novas tentativas de horror. Não se configura em enganar o público, mas de envolvê-lo nos pensamentos já aterrorizados de uma criança refém do que nunca teve, e assim constantemente preparada para o pior.

A Menina Silenciosa nos mostra a capacidade infinita de reinvenção, apesar de toda dor sofrida, quando existe um encontro de almas. Tanto Cáit nunca foi apresentada ao afeto, quanto Eibhlín e Seán já não se imaginam mais capazes de doação. Abrem-se então comportas já desconhecidas que trarão uns aos outros, e uma reconexão entre uma família que já se imaginava desfeita. Da sensibilidade em descortinar apenas o necessário para uma criança sem magoá-la, até a educação formal sobre uma dose de afeição que não era mais esperada, Bairéad observa a chegada da primavera à vida de três personagens que só tinham um longo inverno para aguentar.

Todos os esforços na direção de A Menina Silenciosa seriam vãos se a criança acertada não tivesse sido encontrada. Catherine Clinch, no entanto, é daquele casos raros onde tudo o que é preciso ser dito está impresso em cada mero olhar que a atriz lance. Sua parceria com Carrie Crowley e Andrew Bennett mostram a força da constituição de novos laços de família aprendidos na solidão, e que seus intérpretes não relutam em mostrar diante de tanta perda. Na reta final, uma enxurrada de emoções é impossível de ser controlada, fruto das descobertas que seus três protagonistas fazem, ao constatar que não podem mais viver uns sem os outros. É a força do bem querer se mostrando muito mais eficiente que a força de qualquer destino.

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