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“Palavras de Mulher” um convite ao aplauso do público

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Quando revisitou o clássico “A Bela da Tarde” (1967), numa espécie de sequência espiritual tardia, com o filme “Belle Toujours” (2006), o artesão autoral cinematográfico luso Manoel de Oliveira (1908-2015) explicou que o único caminho para a Eternidade é o gerúndio, o porvir: “Não olho para o que fiz. Olho para o que vou fazer”, dizia o diretor de “Vale Abraão” (1993). O conselho dele, em forma de aforismo, é usado de forma distinta – ainda que encantadora – por um quarteto de divas da literatura num encontro no Limbo na peça “Palavras de Mulher”.

Palavras de Mulher
Foto: Renato Mangolin

Que bom haver essa provocação histórica, simbólica. Até pelo fato de, numa certa medida, suas personagens estabelecerem um senso comum com Oliveira. Elas e ele comungam de uma mirada similar sobre a Finitude, e a durabilidade no imaginário da arte: “Todos sabemos que vamos morrer. É a única certeza que temos. Não tenho medo da morte, tenho medo do sofrimento. É na vida que se encontram todas as maldades do mundo. A morte é o descanso”, dizia Oliveira, que foi coroado com a Palma de Ouro Honorária de Cannes em 2008.

Diferentemente dele, as figuras reunidas na dramaturgia de Rachel Gutiérrez, sob a firme batuta do diretor artístico Sergio Fonta, trespassam a Morte (a mítica) com seu falar, fazendo um “para sempre” na sororidade. Ícones da prosa e da poesia desfilam pelo palco Eneida de Moraes (vivida por Izabella Bicalho, num esplendor de atuação); Carmen da Silva (encarnada por uma Stella Maria Rodrigues certeira no riso); Clarice Lispector (delineada com discrição e elegância por Laura Proença); e Hilda Hilst (confiada a uma coruscante Helga Nemetik), em “Palavras de Mulher”. O cenário oferece a elas um varal de páginas. De cada uma sai uma verdade, uma dor, um desabafo, um convite ao aplauso do público.

Autora dos livros “Narcisismo e Poesia” e “O Feminismo é um Humanismo”, Raquel ambienta seu texto teatral numa biblioteca no Paraíso, no além do Além. Lá, as quatro escritoras conversam despreocupadamente, abordando suas vidas e suas obras, por meio de confidências e anedotas, reflexões e análises críticas.

Sabem que a Mais-Valia vai acabar (conforme insiste Carmen, ao descer o sarrafo nos excessos ideológicos do Comunismo), discursam sobre a urgência da reforma feminista num mundo de amplo sexismo, explanam segredos de amor. Falam de muita coisa mas, a cada segundo, elas inspiram, expiram, transpiram literatices.
Sob uma iluminação apolínea, que torna a cena austera (mas sem pedantismos), Eneida, Hilda, Carmen e Clarice lembram de colegas ilustras, sempre ressaltando a força das escritoras de nosso país. A dado ponto, lembram de Cecília Meirelles, aquela que dizia: “Ninguém abra a sua porta para ver que aconteceu: saímos de braço dado, a noite escura mais eu. Ela não sabe o meu rumo, eu não lhe pergunto o seu: não posso perder mais nada, se o que houve já se perdeu”. Numa certa medida, a peça de Rachel e Fonta é essa tal “noite escura” de Cecília, só que iluminada por quatro supernovas.

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