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“Claustrofobia”: Suspense à moda Brian De Palma traz Márcio Vito aos palcos

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Tem dois longas-metragens de Brian Russell De Palma inéditos no Brasil há um bom tempo: “Paixão” (2012) e “Dominó” (2019), pior do que isso: as chances de o octogenário artesão dos thrillers voltar a filmar parece, certamente, ser mínima, apesar disso, uma peça que tem eletrizado os palcos cariocas, apoiada no desempenho coruscante de Márcio Vito, tem em sua dramaturgia ecos explícitos do cineasta. “Claustrofobia” traz , certamente, Brian De Palma aos palcos brasileiros, em caso de evocação, de alusão, não de homenagem direta, mas, de fat, vê-se De Palma. Não por acaso, o sucesso do espetáculo de Cesar Augusto ocorre no momento histórico em que a obra-prima do realizador completa 40 anos: “Dublê de Corpo”.

Claustrofobia
Foto: Nil Canine

Intocáveis em suas letargias sociais (que lhes são impostas pelo Brasil), os três protagonistas de “Claustrofobia” disputam para si o corpo e as palavras – sobretudo elas – de Márcio Vito, um ator em fase primaveril de sua carreira. Desde o êxito no Festival de Cannes de “5xFavela, Agora Por Nós Mesmos” (2010), no qual estrela o segmento final (dirigido por Luciana Bezerra), o ator carioca amealha um faustoso patrimônio de visibilidade e de reconhecimento.

Márcio Vito é um Paul Giamatti nacional: o sujeito gente como a gente que implode à luz da ribalta ou da câmera. A implosão dele nos palcos vem de um trio de vértices embatucado pelos dilemas da opressão do dia a dia: A opressão da pobreza, a opressão do machismo e a opressão do sucesso a qualquer custo. De uma forma sutilíssima, o texto de Rogério Corrêa une (e ata) essa trifurcação numa amarra de medo e dor.

Num jogo especular de representação, onde a fúria de um(a) reflete a fraqueza dos outros, remete a plateia num ambiente de pompa. Cada um dá conta de um eixo da pirâmide social deste país, numa guerra por espaço ao sol. Guerra que, no palco, é deflagrada num ambiente de instalações metálicas (capaz de evocar obras de artistas plásticos renomados como Raul Mourão) concebida pelo próprio Cesar Augusto e Beli Araujo. O figurino discreto (e funcional) é deles. Cada elemento desses, galvanizado pela trilha sonora de galopes tensos (que gruda no ouvido e fica) de André Poyart, alimenta o clima dionisíaco de um arranha-céu que mais parece uma filial do inferno. Aquele inferno sartriano, onde o Mal somos nós. Na fina iluminação de Adriana Ortiz, esse Mal é humano, é bicho, é você, eu, nós, tu, vós, eles. Os verbos: sofrer, penar, apertar botões, equalizar música ambiente, comparecer a reuniões e m… Hum! Melhor não dizer o que esse “m” esconde. Descubra por si mesmo. Vai lá para ver qum são as pessoas de Vito.

Uma delas, a mais doce, é Marcelino. Imigrante do interior do Brasil, aparentemente de um Nordeste de confins, Marcelino é sujeito tímido, introvertido e trabalha como ascensorista para mandar dinheiro para sua mãe. Ele passa seus dias enclausurado, descendo e subindo, dentro de uma caixa metálica, sem perspectivas.
Há também Stella, que é uma executiva ambiciosa, uma espécie de coach de si mesma, que está começando em um novo emprego, sedenta de poder. Ela mexe com os brios de Marcelino com seu aroma de empoderamento e seu perfume de classse média alta.

O elemento três é o porteiro Webberson, um súcubo de seu próprio desejo de vingança contra uma metrópole que o faz invisível. Ele controla todo o prédio da portaria, até mesmo a música que toca no elevador. Ele sonha em ser policial e ter em mãos uma arma que lhe traga poder. Seu ranço contra Marcelino é indisfarçável. A sublimação de sua miséria financeira se dá no modo de potencializar a miséria do colega, que, por ser um migrante radicado por aqui, passa a ser rotulado como inimigo.

Com unhas pintadas de preto, Vito dá um falar, um estado afetivo e um sentido para cada um deles. Como no “Dressed To Kill” (1980) de De Palma, encontra-se um monstro na alma da executiva, do piloto de elevadores e do “quero ser miliciano” que abre portas. Num traço autoral da direção de Cesar Augusto, o que existe de perversidade homicida e odiosa em cada um se colide com a dos demais. O teatro desse diretor (hoje um dos mais provocativos do Rio, vide “Cerca Viva”) é uma estética de colisões. Por sorte, o diapasão afetuoso da escrita de Corrêa (a julgar por “Entre Homens”) tempera a sanha selvagem do encenador. A especiaria principal é Vito, que se imola em cena, numa autopsia em corpo vivo de suas potências, de fala, de corpo, de alma.

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