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Desespero Profundo: Uma farofada das mais suculentas

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É bom deixar claro que a expectativa para Desespero Profundo não era alta, na verdade, era bem oposto disso. O que poderia nos aguardar, quando o filme em questão é absolutamente obscuro, tal qual seu lançamento, seu diretor, e a referência mais relevante era de que se tratavam nos mesmos produtores de Medo Profundo? Mas os temores se mostraram infundados, ao menos em parte, e a garantia de uma sessão bastante divertida – em mais de um sentido – é alcançada. Como quem não quer nada, tudo o que é conseguido no filme não é de causar vergonha a nenhum dos envolvidos, e pode até gerar algum orgulho pela forma honesta com que seus alvos são alcançados.

Dito isso, o filme dirigido por Claudio Fäh tem um começo nada promissor. Como seu ponto forte não são os diálogos, a criação dos personagens ou o encadeamento dos eventos na ordem teórica, a arrancada de Desespero Profundo é o que o filme tem de pior. Tudo é muito explicado, cada apresentação de personagem é explícita fora dos limites do aceitável, e as linhas de conversação são quase vergonhosas. Logo, quando a gente entende (rapidamente) que o elenco é muito enxuto, e que todo mundo que não se expressa será sacrificado de cara, o que acontece muito rapidamente, nossa relação com a produção se transforma. E também porque o espectador se situa no que está em contexto cinematográfico aqui: uma farofada das mais suculentas.

Não se prender a convenções ou procurar regras de bom gosto em algo como Desespero Profundo, é um desserviço não apenas à experiência, como também ao que Fäh tem a oferecer, que é bem modesto. Quando temos as certezas, desde a imaginação até a concretização, de que não há como esse algo ser bom, é nesse momento que o filme começa a nos ganhar. Imagina quão divertido deve ser uma produção que mistura em uma mesma narrativa desastre aéreo com ataques de tubarão, e o filme começa a fazer sentido. Não que os diálogos melhorem, ou sua disposição para alguma sofisticação se mostre ainda que minimamente; o que nos é oferecido são emoções baratas, e aqui elas se mostram essenciais para comprar todos os absurdos desenvolvidos.

Quando chamo o título de “farofa”, é para expressar o prazer de se assistir a uma mistura que deveria se concluir inclassificável (e inadvertidamente ineficaz) sair-se repleta de méritos da panela/tela. Esse é literalmente o resultado de Desespero Profundo, que inclusive não foge da esteira absurda em alguns momentos, até apelar para a farsa de maneira proposital. Afinal, ora bola, um avião submerge no oceano, até que se torne possível a invasão de tubarões em sua estrutura – e o personagem a princípio mais infame do filme declara isso aos gritos em momento da constatação. Apesar disso, esqueça qualquer possível comparação com títulos como Serpentes a Bordo ou a saga Sharknado; Fäh tem uma ideia de construir tensão que leva o filme a resultados diferentes a essas outras experiências.

O interessante é notar o que já descrevi acima, o elenco base do filme é muito pequeno e concentrado e não nos trapaceia sobre quem irá se debruçar. Isso é, a um só tempo, uma espécie de spoiler involuntário, e também uma maneira de não perder tempo com o que será descartado bem depressa. No que tange o roteiro de Andy Mayson, o filme (que é curtíssimo) não precisa transitar pela tradição do cinema catástrofe, que é nos fazer importar com as vítimas iniciais; elas serão descartadas mesmo, e lide com isso. A partir da concentração dos seis personagens que acompanhamos por mais tempo, aí sim essa construção será feita, mas nada que ocupe um relevo meramente didático e funcional.

Desespero Profundo apela para nossas emoções mais baratas e honestas, é o cinema frontal em seu estado mais primitivo.

Com orçamento ínfimo, Desespero Profundo não envergonha o espectador nem a distribuidora, e seu lançamento nos cinemas brasileiros passa longe de ser uma incógnita. Trata-se de cinema de parque de diversões tradicional, daqueles que sabemos não tratar-se da opulência de complexos da Disney, mas cuja eficiência também está atrelada a como se mede. Há espaço para agarrar o braço da cadeira e para a aflição genuína, há espaço para o riso de nervoso e para xingar os tipos em tela. É um pacote bem servido de tensão, intercalado com situações forçadas típicas, mas que só revelam o quanto de excitação foi jogado no projeto. No final das contas, a descarga de adrenalina será entregue a quem também se entregar.

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