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Hurry Up Tomorrow: Além dos Holofotes é inspirado em músicas de The Weeknd

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A arte sempre encontra uma maneira de nos surpreender e ela faz isso porque a vida como um todo é assim. Quando achamos que já vimos ou vivemos tudo, nos surpreendemos. O cinema, como uma forma de arte, não ficaria jamais de fora desta lógica. Hurry Up Tomorrow: Além dos Holofotes, dirigido pelo cineasta Trey Edward Shults, não se encaixa em nenhuma categoria formal ou clássica de gêneros cinematográficos. Em sua campanha de divulgação, está sendo vendido como um thriller psicológico ou uma odisseia surreal. Realizando uma rápida pesquisa no meu hardware mental, talvez eu consiga pensar em conexões com os momentos delirantes de David Lynch ou com a loucura ilógica de Quentin Dupieux. No entanto, mesmo assim, existe algo de muito particular nesta obra, e a resposta está naquele que é verdadeiramente o principal nome por trás desta produção: o músico canadense The Weeknd. 

Hurry Up Tomorrow:

Hurry Up Tomorrow: Além dos Holofotes tem o mesmo título do sexto álbum do músico e foi produzido simultaneamente, o que dificulta na hora de sabermos o que surgiu primeiro: o álbum ou o filme? De qualquer forma, na trama, o próprio The Weeknd interpreta Abel, um cantor famoso que, após um término de namoro muito conflituoso, embarca em uma jornada de autoconhecimento, sem qualquer precedentes, na companhia de uma jovem desconhecida. O nome de sua companheira nessa odisseia, vivida pela atriz Jenna Ortega, em um autêntico tour de force, é Anima, uma fã obcecada pelo trabalho dele. Neste ínterim, a relação entre eles deixará Abel bem perto de um colapso nervoso e de uma crise emocional. E aqui vai uma curiosidade interessante: Abel, mais precisamente Abel Makkonen Tesfaye, é o nome de batismo do músico. Logo, fora a evidente simbiose entre as duas produções, álbum e filme, será que alguma coisa na jornada do protagonista seria inspirada em fatos reais? Essa é uma boa pergunta 

Abel e Anima se conhecem de um jeito bem improvável. Eles trocam olhares, um no palco, o outro na multidão, durante um show que ele só aceitou fazer obrigado por seu empresário, Lee (Barry Keoghan). A conexão é imediata. Quando ele abandona o espetáculo antes do fim, ela vai atrás dele nos bastidores, se esbarram e passam a noite juntos. Com uma pegada típica de videoclipe, toda essa longa jornada noite adentro é embalada pela trilha sonora assinada por The Weeknd em parceria com Daniel Lopatin. E essa é uma das ótimas coisas do longa, uma vez que, ora de forma diegética, com o ator cantando em cena, ora como uma trilha tradicional, com as músicas ao fundo, a trilha sonora assume um caráter narrativo e ajuda a contar a história. Ao assistirem ao filme, reparem que as letras das canções, na maioria das vezes, se encaixam com as situações mostradas. E assim vamos conhecendo as personalidades dos dois personagens, inclusive a de Anima e o seu passado bastante nebuloso. 

Os aspectos psicológicos e surreais de Hurry Up Tomorrow: Além dos Holofotes, são tão apregoados nas propagandas prévias, que dão a cara, principalmente, nas cenas que varam a noite e a madrugada com o casal em foco. O que é real e o que é sonho ali? Os frames se seguem, se alternam, e algumas coisas ficam claras, outras não. A fotografia de Chayse Irvin e a montagem a cargo do próprio diretor Trey Edward Shults corroboram decisivamente para a proposta da obra. O primeiro usa e abusa de closes para radiografar o estado de confusão mental de Abel e Anima. Sim, eu digo mental porque a proximidade é tanta que, para além das expressões de sofrimento, de dor, do suor e dos poros, ficamos com a sensação de conseguir ver exatamente o que está se passando pela cabeça deles. Umas das primeiras imagens do filme, por exemplo, é um close do olho do protagonista. Demoramos a perceber que é um olho, mas quando nos damos conta, entendemos que, na verdade, estávamos perscrutando seus pensamentos. Já o segundo, confere uma  agilidade a obra que também flerta com a sensação de confusão mental, uma vez que tudo é muito enérgico e apressado. 

Lembram do questionamento que eu fiz nas últimas linhas do segundo parágrafo? Pois bem, ao fim da sessão fica bastante claro que algumas coisas ao longo do filme não podem e não tem como serem reais. Não vou me aprofundar porque falar mais sobre elas seria dar spoiler. Agora, na medida que a arte é uma extensão do artista e analisando o caráter pessoal das músicas que servem de elemento narrativo, outras, se não forem reais, podem muito bem serem inspiradas em fatos reais ou em sonhos. Por fim, a cena derradeira surge como uma validação de todos os aspectos psicológicos e surreais da história, ainda que, sinceramente, não fosse necessário, já que se há alguma coisa em que o roteiro escrito por Trey Edward Shults, The Weeknd e Reza Fahim não deixa qualquer dúvida, essa é a clareza dos seus propósitos e da sua proposta. 

Desliguem os celulares e excelente diversão.

Bruno Giacobbo
Bruno Giacobbo
Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.

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