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Exclusiva: Um bate papo sobre musicais, com Charles Möeller

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Qual a maior dificuldade de se fazer musicais no Brasil?
Charles Möeller – Eu não sei como ficará pós-Coronavírus, mas acho que essa é uma pergunta que acaba esbarrando nas mesmas respostas. O musical, quando é pequeno, ele já é grande. A dificuldade está sempre em produção.

O teatro musical é muito generoso! Ele inventou profissões que antes não existiam como perucaria, como equipes grandes de figurino e luz, microfonistas, mas isso, certamente, ao mesmo tempo, inviabiliza produções com muito, muito pouco orçamento. A gente sempre trabalha com orçamentos muito enxutos e mesmo assim, é muito complexo captar.

Vocês são de extrema importância na história do teatro musical no Brasil. Pode-se dizer que são os precursores do gênero, concorda?
Charles Möeller – Eu brinco que a gente está no musical na época das pirâmides e do Antigo Egito. Não tenho nenhuma vergonha em dizer que a gente é precursor dentro do nosso segmento. A gente começou numa época que tinha pouquíssimas pessoas fazendo isso. Eu tenho muito orgulho de dizer que a Möeller & Botelho inaugurou todos os fossos de teatros com orquestras. Porque o pouco musical que ainda era feito, era feito com fita. As pessoas gravavam o playback e as pessoas cantavam por cima ou dublavam por cima. Não se tinha esse pensamento de teatro musical grande. Tenho muito orgulho de dizer que a gente tava ali, na largada. Até porque a insistência da gente no gênero, fez com que viessem gerações futuras. A gente só fez musical na vida, são 30 anos fazendo, é um legado muito grande, não tem como negar.

  Peças como “Avenida Q”, “O Despertar da primavera” e “O que terá acontecido com Baby Jane?”, “Pippin”, entre outras, não possuem pontos em comum. Como é o processo de criação de vocês? E como é feita a seleção dos temas que vão produzir?
Charles Möeller – A gente nunca pensa o que será sucesso ou o que será fracasso. A gente quer contar grandes histórias, a gente, sempre, tem uma necessidade enorme de encontrar um tipo de eco naquilo que a gente tá pensando, naquilo que a gente está vivenciando.

A gente procura ser muito fiel ao gênero, a gente é muito clássico nessa coisa de escolhas, se você reparar elas não tem uma coisa entre si, mas elas tem muita coisa em comum, em termos de opinião, de profundidade, de escolha de repertório, de qualidade de compositor, de ator, de personagem. A gente, dentro da nossa história, se você olhar, você vai ver que ela tem uma densidade, independente do gênero ser comedia ou musical, drama ou uma tragédia. Elas tem um conceito muito forte tanto estético quanto um conceito de escolha da dupla.

 São vários espetáculos musicais que são sucesso absoluto de público, você tem carinho maior por algum deles? Conseguiria destacar as produções que mais te marcaram e por quê?
Charles Möeller
“O Violinista do telhado” é um dos espetáculos que mais amei ter feito. Os cenários, os figurinos, a direção de arte, a luz, o elenco, tava tudo espetacular, eu acho que é um dos espetáculos que mais amo, isso eu não tenho menor dúvida.

Eu tenho muito orgulho de todos eles! Mas “O Violinista do telhado” é um espetáculo que ainda me fala muito ao coração. Assim como “Sete – O musical”, que eu escrevi, o Claudio fez as letras e o Ed Motta colocou as canções, é um espetáculo bem icônico na nossa trajetória. O “Cole Porter – Ele nunca disse que me amava” foi um momento definitivo de divisor de águas. Foi onde o público realmente entendeu que tinha o começo de uma dupla e nos prestigiou, ficando três anos em cartaz. O “Company” foi o nosso primeiro contato com a obra de Stephen Sondheim, e a gente trouxe o próprio para o Brasil, uma pessoa que mal sai de casa. Foi uma alegria muito, muito grande! Então, tem espetáculos são muito tocantes nesse sentido, mas eu sou suspeito porque eu tenho muito orgulho de todos. Tudo feito com muita intensidade e foram escolhas certeiras, nesse sentido.

 O musical “Beatles num Céu de Diamantes” se consagrou com público e críticos. O musical foi classificado como um dos maiores sucessos da temporada teatral até hoje. Gostaria que você falasse um pouco desse enorme sucesso.
Charles Möeller – Foi uma adorável surpresa! A gente foi convidado pelo Sesc Copacabana para desenvolver um musical jovem, porque eles estavam querendo ganhar essa plateia. A gente propôs um coletânea de músicas levemente inspirado no álbum “She’s leaving home”, numa Alice psicodélica, e eles me perguntaram se os Beatles é jovem? Acho que eles tão mais para dinossauros, do que para um espetáculo jovem, ai, eu falei “Não, eu tenho certeza mirar na coisa certa, repensar esses arranjos e ter esse fio condutor com um elenco extremamente talentoso e desconstruir o que eles chamam de Beatles pode dar certo. Era para ficar três meses em cartaz e estamos em cartaz até hoje, pelo Brasil inteiro e para fora também. – “Eu acho que o Beatles tem essa magia, todo mundo sempre sai tocado, todo mundo precisa um pouco do amor que traz os Beatles e como diria a canção”. –

Como a equipe técnica influencia no trabalho de vocês? Qual é a importância do Visagismo em suas produções?
Charles Möeller  – Nós somos um time que jogamos juntos há muitos anos. Cenário, figurino, luz, Visagismo, praticamente é a mesma equipe.As vezes muda um ou muda outro, mas somos um time muito afiado. Eu sempre gosto de estudar muito antes para abrir meus faros criativos da maneira mais clara, para trazer muitos elementos para eles, para trabalhar em conjunto. Eu tenho uma coisa de direção de arte muito forte junto com eles. Então, eu sou desafiado por eles e desafio eles o tempo inteiro. Eu sou muito aberto para o trabalho deles. A gente vai chegar a uma conclusão juntos.

O Visagismo é fundamental! O Visagismo hoje em dia é, praticamente, o que mudou a história do musical, né. Se você pensar que antes da perucaria, do microfone, a Broadway era completamente diferente! Nos meus espetáculos, eu dou muito valor ao Visagismo! Às vezes é no Visagismo que nasce um personagem para o ator.

Atualmente, vocês fazem cursos e Workshops para uma plateia formada principalmente por estudantes de teatro, atores e cantores, além de fãs de teatro musical. Como é processo de montagem desses cursos?
Charles Möeller – É onde a gente tem um pouco mais de tempo para elaboração do método. A gente acabou criando um método de ensino, de estudo, de motivação, um método de interpretação, um sistema de como se envolver com o personagem, como se colocar diante de uma banca de audição.

E adoro dar aula, eu adoro estar nos cursos, eu aprendo muito mais, as vezes, com os alunos, do que eu acabo doando. Ao mesmo tempo, eu me sinto na obrigação de estar com uma comunicação plena com eles. Isso faz com que eu estude mais, me dedique mais e tento compreender o tempo inteiro se eu estou sendo compreendido. Porque são tempos as vezes que a compreensão para mim é clara, mas para eles não. Eu tenho que estar aberto para eles. Os cursos são sempre muito motivadores. Eu costumo dizer que o mais importante é vivenciar toda a pratica de montagem do que ficar especifico em um personagem, acho que o importante é o processo.

Fotos: divulgação Möeller e Botelho

Alê Shcolnik
Alê Shcolnikhttps://www.rotacult.com.br
Editora de conteúdo e fundadora do site, jornalista, publicitária, fotografa e crítica de cinema (membro da ACCRJ - Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro). Amante das Artes, aprendiz na arte de expor a vida como ela é. Cultura e tattoos nunca são demais!

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