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Demônio de Neon

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neonHá quem se lembre de David Lynch, ou de Lars von Trier, ou de David Cronenberg, ao assistir o mais novo filme de Nicolas Winding Refn. Bem diferente de Drive (melhor diretor em Cannes, em 2011) e visualmente mais próximo de Apenas Deus perdoa (2013), Demônio de neon não é só um filme, é uma experiência. As cores, a textura, os sons, o ritmo, a beleza … e nem me refiro àquilo que se pode considerar de uma maneira mais imediata a beleza. Atenção: quando falo em beleza (ok: Elle Fanning é linda e está deslumbrante) me refiro ao tratamento da película.

Demônio de neon não é, de fato, para qualquer espectador. Por vários motivos: é o mais bem acabado trabalho de Refn até aqui, a beleza extática causa provocações, reações e consequências (nas outras modelos, no fotógrafo, na maquiadora, nos espectadores), e, junto com ela, com essa beleza, passam assuntos muito sérios.

As mulheres aparecem em primeiro plano. Melhor dizendo: as modelos. Por isso, os mais desatentos vão acreditar e jurar que é um filme sobre mulheres. Ou, como já ouvi, sobre o mundo feminino. A ambiência do filme, na verdade, é o holofote e o que se é capaz de fazer para ser a estrela da vez. No mundo feito de quinze minutos das über, somos até capazes de ouvir prosopopeias tolas como “a câmera gosta de você”. E, enquanto babamos pela direção de fotografia, os assuntos principais, furtivamente, são bem outros: o descarte, o fetichismo (infelizmente mais vizinho da perversidade que da pornografia), a vaidade, a inveja. Aliás, a inveja merecia ser repetida pelo menos três vezes. É dela que surge o canibalismo materializado no terceiro ato.

As concorrentes de Jesse (Elle Faning) estão prontas para devorá-la de ódio. Aparentemente por causa da aparência. Mas, além de chamar a atenção pela beleza, e apesar de evocar uma certa atração mascarada de vontade de proteção, Jesse tem “algo a mais”: ela é inteligente, independente, sabe que é “perigosa” e quer usar as próprias armas a seu favor. Só isso. Só isso? Talvez as suas armas não tenham sido feitas para sobreviver tempo suficiente entre canibais. Digo isso acreditando que vocês se lembram do verdadeiro objetivo do ritual antropofágico: a um só tempo, a ação predatória também é uma forma de veneração, um desejo de incorporar em si as características daquela que é, no fundo, admirada.

Alguém me disse que não veria Demônio de neon porque não gosta de filmes de terror. Tranquilizem-se. Não é um filme de terror. Exceto quando te colocam para pensar quem é o “demônio”.

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