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Ladrões, de Darren Aronofsky, é um thriller excêntrico

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Quando saí da cabine de Ladrões, no Rio de Janeiro, senti que havia um consenso positivo em relação ao filme que eu tinha acabado de assistir. Porém havia algo mais. Foi aí que um amigo, que também estava lá, disse: “Muito bom, mas é como se eu não tivesse visto um longa-metragem do Darren Aronofsky”. E isso não saiu da minha cabeça. Mais tarde, falando com outro amigo que participara da sessão em São Paulo, ele chamou atenção para uma certa despretensão por parte de um diretor que tem no currículo algumas obras bastante autorais como Réquiem Para um Sonho (2000), Cisne Negro (2010), Mãe (2017) e A Baleia (2022). Essas conversas e esses insights me levaram para um outro caminho e a uma outra conclusão: Não são todos os diretores que têm uma assinatura bem definida. Além disso, surpreender o público, às vezes, emulando o estilo de outro cineasta, pode ser algo muito bom. 

Inserido bem no centro da trama de Ladrões, Hank Thompson (Austin Butler) é um ex-astro do beisebol colegial que, após um acidente de carro, viu o seu sonho de se tornar um atleta profissional ruir. Assombrado por pesadelos que o levam a reviver o dia em que a sua carreira foi destruída, ele mora em Nova Iorque, onde trabalha em um bar e namora a paramédica Yvonne (Zoë Kravitz). Entre muitas trepadas, cervejas e jogos do seu time na TV, tudo corre tranquilamente. Até que, Russ (Matt Smith), um vizinho de porta, pede que ele tome conta de Bud, o seu gato de estimação, por um tempo. Essa é a senha para que toda a vida de Hank vire de cabeça para baixo. 

Mas agora me digam vocês, o que acontece quando dois russos, dois judeus, um porto-riquenho e uma policial entram em um bar? Essa não é uma daquelas velhas piadas e, certamente, a resposta é simples: muita confusão. De uma hora para a outra, Hank começa a ser perseguido pela máfia russa, por dois irmãos judeus pirados, um gângster porto-riquenho e uma policial bem pouco confiável. Todos querem a mesma coisa. Algo que Russ teria deixado sob a guarda de Hank, mas que esse não faz a mínima ideia do que seja. Uma adaptação do romance de Charlie Huston feita pelo próprio autor, o roteiro traz nuances de comédia de erros, policial noir e uma pegada daquelas histórias de revistas pulps tão populares, nos Estados Unidos, entre as décadas de 20 e 50. Há ação, tiro, porrada e bomba, mas há espaço também para diálogos um pouco mais profundos que remetem ao acidente sofrido pelo protagonista no passado. 

O casting de Ladrões é certamente um dos triunfos da produção. Além dos já citados Austin Butler, Zoë Kravitz e Matt Smith, o longa conta ainda com Regina King, Vincent D’Onofrio, Liev Schreiber (os dois últimos irreconhecíveis) e o rapper Bad Bunny nos papéis centrais. Uma menção especial em relação a este elenco vai para o gato que “interpreta” Bud, não vi nos créditos se o felino tem nome, mas eu gostaria de saber como ele se chama. E do mesmo jeito que ocorreu com outros filmes, por exemplo, “O Poder e a Lei” (2011) e “Magnatas do Crime” (2019), é muito fácil imaginar, em caso de sucesso de bilheteria, uma série para a TV mostrando a vida pregressa de alguns dos personagens principais até o instante que ocorrem os acontecimentos da película. 

Diferentemente de outros trabalhos de sua filmografia, Darren Aronofsky não entrega nada muito autoral. Sua direção é boa, mas um tanto quanto conservadora, o que não é um problema. Seu grande desafio foi se aventurar para bem longe do que ele está mais acostumado normalmente. Em um primeiro momento, Ladrões me remeteu ao ótimo A Entrega (2014), baseado no livro de Dennis Lehane (um dos melhores autores noir da atualidade), contudo, com o passar do tempo, o que eu vi foi um longa do Guy Ritchie dirigido por um outro cineasta. E, como escrevi lá no começo, surpreender o público emulando o estilo de outro diretor, às vezes, pode ser algo muito bom. Aqui, com certeza foi.  

Desliguem os celulares e excelente diversão. 

Bruno Giacobbo
Bruno Giacobbo
Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.

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