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Filósofa Márcia Tiburi lança livro sobre a deturpação da cena política

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A percepção de que existe na cena política brasileira novos aspectos que entrelaçam estética e política foi o ponto de partida para Ridículo Político: uma investigação sobre o risível, a manipulação da imagem e o esteticamente correto (Ed. Record), novo livro da filósofa Márcia Tiburi que será lançado dia 19 de junho, às 19 horas, na Livraria Leonardo da Vinci, no Centro do Rio.

Um fato em especial, ocorrido em 2013, na Feira Literária de Frankfurt, motivou uma minuciosa pesquisa e a elaboração da obra. Naquele ano, o Brasil era o país homenageado do evento e o então vice-presidente Michel Temer, representando a presidente Dilma Rousseff, ao fazer seu discurso na abertura da feir a, se colocou como poeta. A cena, segundo a filósofa, beirou o ridículo e chamou a atenção de todos. Temer foi vaiado e virou motivo de piada no território da internet. Aquele episódio em particular foi o insight para uma pesquisa de dois anos e resultou numa obra que espelha o cenário da política nacional e internacional do nosso tempo.

“O conceito de ridículo político apareceu para dar conta da perplexidade que se tornou comum entre nós. Eu percebi uma perplexidade generalizada entre as pessoas, uma perplexidade que, ao mesmo tempo, deixa as pessoas meio paralisadas. Ficamos estupefatos, boquiabertos mesmo, diante de certas cenas porque não conseguimos entender como elas se tornaram possíveis entre nós”, avalia a professora da UniRio e da Passagens – Escola de Filosofia.

Márcia Tiburi ressalta que o livro trata das relações entre estética e política, ou seja, do poder da aparência e da manipulação e controle para os fins de poder. “Hoje, vivemos a berlusconização da política, na qual candidatos que parecem bufões se tornam os mais votados. O conceito de ridículo serve para entendermos que há um jogo bastante perverso entre o poder e a falsa falta de seriedade de certos personagens. Entre o autoritarismo e o cinismo os políticos mais estranhos vão ganhando cada vez mais espaço. O que aconteceu com Berlusconi, com Trump, com Dória, com Bolsonaro e com Tiririca faz parte desse fenômeno de berlusconização da política”.

Para a filósofa, o conceito de ridículo político tenta entender a política em seu sentido mais genérico, como campo dos relacionamentos sociais e institucionais, como um problema dos cidadãos comuns, mas também em seu sentido mais estrito, como é o caso de governantes que ocupam cargos e por meio deles se beneficiam de um espaço maior para exposição. “A política em seu sentido tradicional se tornou um campo repleto dessas cenas que causam esse tipo de constrangimento. Imaginamos que ninguém quer ser ridículo, que cair no ridículo é algo apavorante e, portanto, indesejável. Mas o fenômeno estranho que resolvi analisar no livro é justamente a capitalização alcançada por certos personagens que caem no ridículo e quanto mais afundam nele, mais famosos e votados se tornam. É uma mutação na cultura política que merece análise”.

Na opinião da filósofa, o termo manipulação se tornou coloquial, no entanto, reflete algo sério que envolve uma verdadeira programação sobre o pensar, o sentir e o agir. A professora argumenta que o livro aborda o uso da imagem na construção da política tendo em vista a manipulação daquilo que não se leva a sério, do que soa como piada, mas que infelizmente não é. “Uma das características da nossa cultura política é a ignorância. Há um discurso da ignorância que se tornou uma espécie de tendência dominante. As pessoas não se ocupam em compreender política e falam prepotentemente sobre o que não entendem. Elas naturalizaram a sua opinião sobre política. Quem começa a se aprofundar, a estudar e pesquisar, necessariamente vai chegar na relação entre a política e a estética que nos permite pensar o tópico da construção e da manipulação da imagem”.

Para Márcia Tiburi não há exagero em afirmar que estamos vivendo a política como uma espécie de delírio. “Precisamos entender melhor do que estamos falando e que sentimentos, emoções e afetos estão realmente em jogo. As pessoas estão lançadas na mais bruta ignorância sobre os jogos de poder que envolvem a sociedade, a economia, a política e as relações em geral. O ridículo cresce como capital, ou seja, em importância, no campo em que a inteligência desaparece. O ridículo é aquilo que ninguém quer ver e que deixa a todos confusos”, afirma.

No decorrer das 235 páginas do livro, Márcia Tiburi aborda 61 temas e analisa conceitos como o “falar merda”, o “madamismo”, o “ipanemismo”, o esteticamente correto e outros. “Penso que todo e qualquer tema pode e deve ser pesquisado já que filosofia é invenção de conceitos e não mera pesquisa na história das ideias. Os conceitos, por sua vez, estão dados na vida e não apenas nos livros. Cabe ao filósofo ler o livro do mundo e não apenas os livros das bibliotecas. Eu me esforço por conhecer os dois. A questão do “esteticamente correto”, por exemplo, não está em nenhum livro, mas eu a criei a partir de um filme que cito no livro . Creio que possa ser um conceito importante no contexto da relação entre estética e política e estética e ética. Falo isso, pensando que, para mim, fazer filosofia não é seguir um padrão legal ou de fundo teológico em relação a conteúdos e formas dadas em livros apenas”.

A filósofa explica que o livro é uma crítica da moral burguesa e da estética burguesa que, segundo ela, unidas afetam intensamente a política da esfera social e internacional. “Todos os preconceitos têm um dado estético: o racismo, a xenofobia, o preconceito de classe, sexual, de gênero, qualquer um que venhamos a citar, tem uma forma estética. Isso é o que podemos superar pela consciência dessa relação. Esse é o esforço do meu livro”.

SERVIÇO:
Lançamento – Ridículo Político: uma investigação sobre o risível, a manipulação da imagem e o esteticamente correto. Editora Record
Valor: R$ 39,00
Local: Livraria Leonardo da Vinci, Edifício Marquês do Herval (Avenida Rio Branco, 185, Centro)
Data e horário: 19 de junho, às 19 horas

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Redação do site E-mail: contato@rotacult.com.br

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