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Tradição e modernidade entram em conflito constante em “Antes o Tempo não acabava”

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 Drama dirigido por Sergio Andrade e Fábio Baldo,  acompanha um jovem rapaz que possui raízes na etnia indígena Saterê. Quando ele se muda para Manaus e vai morar na cidade grande, começa a se ver preso entre os embates culturais das tradições do mundo de onde veio e cresceu, com os costumes urbanos, complexos e conturbados, do cotidiano na metrópole.

O cinema brasileiro tem o grande potencial de explorar temas como nenhum outro, e ainda ilustrar suas histórias com um elenco que realmente se encaixa no que se quer contar. Afinal, graças a diversidade do país, é possível encontrar pessoas de toda raça, cor e etnia. Este longa tem isso a seu favor. Cada um dos atores e atrizes foi perfeitamente encaixado ao seu papel na trama. Anderson Tikuma vive o protagonista, Begê Muniz interpreta o índio Beto Cainã, Rita Carelli é Pia e Fidélis Baniwa é Tunarê. Cada um fez um trabalho excelente se envolvendo com a realidade e motivações dos personagens.

Uma boa atuação vai muito além da forma como se entregam as falas, algo essencial de se compreender para este longa já que ele é metade na língua indígena da comunidade Saterê e metade em português. Mesmo havendo essa divisão, são poucas as falas, o que tornam o filme uma obra ainda mais interessante, que se comunica através do silêncio, da trilha e do eco que provocam e ressoam na narrativa.

Isso se dá graças a boa direção de Sergio Andrade e Fábio Baldo. Além de construir algo que se comunica transcendente a barreiras da cultura, eles conseguem incluir o público em um meio desconhecido de rituais e costumes. A iniciação do povo retratado consiste em deixar as mãos dos meninos em uma luva cheia de formigas de fogo para ganharem força. Os anciãos da aldeia acham que Anderson precisa passar de novo pelo rito, pois dizem não ter funcionado da primeira vez, já que ele anda perdido e abandona o lugar onde moram.

Nessa perdição do personagem principal, ele passa por uma experiência folclórica com Mapinguari, que é interpretado por Emanuel Aragão e presenteia Anderson com um relógio de sol e um conselho: “Não esqueça quem você é”. O título do filme vem desse encontro, no entanto, poderia ser melhor explorado durante o longa e entrar ainda mais na vertente dos mitos indígenas, que são tão essenciais da cultura da mesma.

A pouca verba para a produção dá alguns toques peculiares de criatividade na produção como na cena da balada, em que Anderson e o companheiro falam em tom normal, apesar da banda estar tocando um rock metal bem alto e as pessoas demonstrarem que está alto o suficiente para só baterem cabeça e sentirem a música, ou seja, fica claro que talvez pela falta de um microfone direcional, as pessoas fingiam estar dançando a música enquanto os personagens se falavam. Outro elemento assim é a fotografia que foi feita com simplicidade, mas ainda impacta e impressiona por sua beleza.

Entrando ainda na questão da sexualidade, o debate é incessante em diversos aspectos de Antes o tempo não acabava. A obra relembra os valores da diversidade brasileira em todas as suas formas e questiona a identidade que vem do berço, passada por meio da cultura, e a que se conquista ao longo da vida, através dos relacionamentos que se fabricam.

Luana Feliciano
Luana Feliciano
Estudante de Jornalismo, ama escrever e meus filmes favoritos sempre me fazem chorar. Minhas séries preferidas são todas de comédia, e meus livros são meus filhos.

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